Empurre (minha crônica no Divirta-se do Estadão)

Push quer dizer... aperte????

O brasileiro nunca viajou tanto ao exterior. Paradoxalmente, nunca as portas estiveram tão fechadas para nós. Explico. Quanto mais brasileiros viajam para fora, mais brasileiros se confundem na hora de decifrar o que é “push” e o que é “pull”.

Ah, sim: normalmente quando brasileiro fala “o brasileiro” está se referindo a todos os outros brasileiros, menos ele. Dessa vez eu faço questão de me incluir. Não será nesta encarnação que eu vou aprender o que é “push” e o que é “pull”.

Em mais de trinta anos de viagens internacionais, o máximo que o meu cérebro conseguiu fixar é que “push” não é o que eu penso que é. Mas daí a entender automaticamente que “push” quer dizer “empurre” e fazer com que eu force a porta para a frente sem precisar pensar – tsk, tsk. De jeito nenhum.


Já tentei de tudo, incluindo hipnose, simpatia e mandinga. Sem sucesso. Basta aparecer uma placa com os dizeres “push” ou “pull” para me deixar estático. São momentos intermináveis de breve apoplexia que se repetem ao longo do dia. Por que parou, parou por quê? Porque meu sistema nervoso parassimpático se recusa a aceitar que “push” quer dizer “empurre”.

E “pull”? É ainda pior. Se a minha reação ao letreiro “push” é puxar, a minha reação ao letreiro “pull” é consultar o Michaelis. Para mim trata-se de um verbo inteiramente vazio de significado, incapaz de comandar qualquer ação que seja.

Sei que não estou sozinho, e que as hordas de brasileiros em férias pelo mundo também sofrem o mesmo infortúnio. Talvez por isso haja tantos de nós indo a Orlando, Las Vegas, Dubai – lugares onde de maneira engenhosa a maioria das portas se abre automaticamente, sem que seja necessário pensar, pushar ou pullar.

Só enxergo um caminho para solucionar este problema ainda nesta existências. As mesmas lojas que trouxeram os letreiros de “Sale” e “30% off” para as vitrines brasucas poderiam fazer um acordo ortográfico com suas matrizes e começar a pôr “push” e “pull” nas portas daqui.

Enquanto isso, voltemos ao decoreba. “Push” não quer dizer puxe. “Push” quer dizer empurre. “Pull” não quer dizer pule. “Pull” quer dizer o quê? Esqueci. Tudo de novo. “Push”…

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41 comentários

Push x Pull, palavrinhas terríveis.
Já sabemos, aprendemos mas não adianta. A travada mental e motora acontece independentemente da nossa vontade ou expectativa de que na próxima vez não vai mais acontecer. A piadinha sempre foi a minha salvação, sempre me vem a cabeça e junto um sorriso disfarçado nos lábios, deve ser nervoso.Um pré-pânico.
Mas bom mesmo é se sentir mais um.

Excelente Riq!!! E é bom saber que todo mundo também cai nessa. Como disse a Maryanne o melhor mesmo é não ler, pois provalvemente a porta abre pra fora. Ou então é automática.

Esse é meu drama tb, rsrsrsrs. Pull, push, tirez, poussez…ò vida!!!!!
Muito bom como sempre, parabéns!

Eu tive uma professora da Cultura Inglesa que falava pra gente: ‘push é emPUSHrre’. Triste né? Mas nunca mais esqueci…

Que delícia de crônica, Riq!!!!
Tão bom, mas tão adoravelmente bom, que os comentários ficaram super gracinhas…

Riq, essa história me lembra aquela piada no avião da TAP.
A aeromoça instruindo os passageiros.
Em caso de emergência…
Quando lerem PUSH, não puxem, empurrem.
Quando lerem PULL, não pulem, puxem.
E quando lerem EXIT, não exitem e saiam.
rsrsrs
Um trava-língua de primeira.

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