Excecional (minha crônica no Divirta-se do Estadão)

Ilustração: Daniel Kondo

Ilustração | Daniel Kondo

Atenção, revisão: o título não está errado! Está escrito em português de Portugal pós-acordo ortográfico. (Sim, leitores: aqui estou eu de novo chafurdando neste assunto.)

Não é incrível que se tenha gasto a montanha de dinheiro, papel e tinta numa reforma para unificar o idioma escrito e, mesmo assim, ainda seja possível definir uma palavra como “escrita em português de Portugal pós-acordo ortográfico”?

O fato (que em Portugal continua o facto) é que a pretensa unificação da ortografia acabou por criar uma série de novas – e divertidas! – diferenças entre o português tuga e o português brazuca.

Os hotéis portugueses deixaram de ter recepção e passaram a atender os hóspedes recém-chegados na receção. (E ali você continua a fazer o seu registo, sem “r”, exatamente como já acontecia antes do acordo.)

Evitar filhos em Portugal ficou mais barato: os casais agora economizam um “p” ao comprar seus anticoncecionais. Em compensação o país se tornou um pouco mais inseguro: os detetores portugueses não detetam mais a letra “c”. Torço, entretanto, para que não haja mudança no sabor dos pasteizinhos de Belém, que agora são confecionados com um “c” a menos.

A reforma ortográfica poderia ter acabado com a corrupção em Portugal – mas não: a corrupção por lá continua igualzinha à do Brasil. Não virou “corrução” não.

Se isso deixa você decepcionado, conforme-se: se você fosse português, estaria no máximo dececionado. Se bem que não seria uma decepção temporária; seria uma deceção perentória.

Na verdade eu fico contente com essa avacalhação oficial. Entendo que essas novas diferenças abrem um precedente importante. Se os portugueses podem criar novas grafias para escrever do jeito que falam, por que você e eu precisamos nos ater a formas que não são fiéis à nossa pronúncia?

Brasileiros! Se os portugueses ganharam o direito de escrever “excecional”, por que nós não podemos escrever “muinto”? Por que não temos ao menos a opção de escrever “opição?” E “desconequitado”? E “acadjimia”? E o que não entendo até hoje: porque escrevemos “também”, se na vida real pronunciamos “tambêm”?

Pela legalização do verbo “vim”!

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31 comentários

Vambora legalizá o verbo vim Ric!

O Riq nunsei comequisegosta de se chamado.

Infinitivo com r no final e plural com s. Precisa mais não.

Vamo aproveitá essa istoria de acordo ortográfico e tambem purque já temo uma presidenta eleganta que foi estudanta de economia e hoje é uma dirigenta política importanta e legalizamo tambem a carteira de indentidade e o verbo vamo ir.

Vambora!!!!

Por questões democráticas ou de preparo físico sugiro que cada um escolha onde quer colocar a vírgula.
Se podemos escolher como queremos ser chamados também podemos escolher onde colocamos a vírgula.

    Morri de rir, Tania, especialmente no seu quarto parágrafo. 🙂
    Bom fim de semana.

No fim querem manter por decreto uma realidade que teima em se impor, nós somos outra nação e outra cultura. Acho que deveríamos oficializar o brasileiro como idioma.

Riq, náo posso deixar, de, mais uma vez, destacar o maravilhoso ilustrador das suas crônicas, o Daniel Kondo( não conhecia). Ele capta com maestria a sua crônica, e de maneira muito criativa. Gosto muitíssimo do traço, das cores, tudo. Você está muito bem acompanhado!

Não acredito que isso vá acontecer, Celina. Agora, “comê”, “comentá” etc não fazem parte da língua culta e nunca vi escritos e nem, melhor, aceitos por ninguém.

Sinceramente, até hoje eu preciso consultar as regras.E às vezes fico mesmo na dúvida. Mas a nossa língua é uma bagunça total. Tenho lido muito a abolição do “r” no infinitivo dos verbos. O coitado do “r” está sendo substituído por um acento! EX: ela foi pagá um conta, eu adoro comê, e assim por diante. Com a interatividade, todo mundo gosta de “comentá” e não duvido nada que assim como o futuro subjuntivo do verbo ver (quando eu vir) que já está praticamente substituído por “quando eu ver”, o infinitivo seja abolido!

Maltratado nunca teve hífen. Sempre foi uma só palavra. É adjetivo, originário de maltratar.

    Obrigada! Agora já sei! Sempre me enrolo com hifens… Sem querer abusar, já abusando, da aula: Mal-educado é maleducado? Já foi, é ou jamais será?

    Mal educado soa bem melhor e até onde me lembro sempre escrevi separado (poucas vezes devo ter escrito essa palavra)… Mas estou sem nenhuma segurança para escrever hj em dia… Triste, pq, para não errar, tento limitar o vocabulário…

“(não, não acabou o hífen nesse caso?)”. É uma pergunta que não sei e talvez nem queira responder!

Pelo amor de DEUS, vc leu o acordo ortográfico??? Desde quando as letras não mudas, ou seja, pronunciáveis foram abolidas pelo acordo??? Vc deve estar brincando, não pode ser sério! Explica direito isso ou vai ser um desserviço ao nosso idioma já tão mal-tratado (não, não acabou o hífen nesse caso) e quase sempre ignorado/ignorante. Prefiro acreditar que vc está zoando! Brinca com isso não…

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