Hollywood (minha crônica no Divirta-se do Estadão)
Confesso que li “Comer, rezar, amar” – e gostei. Mas confesso também que li em inglês. Não, não estou querendo me gabar. Pelo contrário. Não me lembro de ter lido nada em inglês de que não tenha gostado. Cada vez que chego ao fim de um texto em inglês – um livro, um artigo, uma tuitada – eu fico tão feliz de ter entendido, que não tenho como desgostar.
Mesmo tendo gostado do livro, não tinha intenção de ver o filme. Best-sellers ficam ainda mais rasos na telona. E já vêm com legenda. Além do quê, acho a escolha de Javier Bardem para interpretar um brasileiro um insulto à nação. Não que eu consiga pensar num ator brasileiro melhor do que ele, mas isso não vem ao caso.
Acabei precisando pôr o filme na minha lista por causa de gente que veio me avisar que – “Ei, aparece a SUA pizzaria!”. E isso não está certo. A ordem natural das coisas é 1) você vê uma cena de filme de Hollywood num restaurante; 2) você tenta comer nele. Mas depois da terceira pessoa vir me contar, estava claro que a personagem da Julia Roberts tinha realmente ido à MINHA pizzaria em Nápoles.
Encontrei a Da Michele num guia Frommer’s em 1990. Hoje em dia eu provavelmente evitaria qualquer indicação gastronômica que achasse num Frommer’s, mas essa dica não poderia ter sido mais certeira. A pizza margherita de lá é das coisas mais inesquecíveis que já provei. Voltei em 2008, e fiquei tão inebriado quanto da primeira vez.
O filme, como eu desconfiava, não faz justiça à Da Michelle. O letreiro da fachada aparece por cinco segundos e, durante a cena, não aparece nenhum italiano para mandar a Julia Roberts usar garfo e faca para comer aquela preciosidade. As amigas conversam sobre pizza de maneira genérica.
E não há nada de genérico naquela pizza. É diferente de qualquer outra que eu tenha comido, na Itália, aqui ou em Nova York. Grossa e crocante na borda, porém fininha, úmida e borrachenta (meio crua) no miolo. Tomate pastoso. Mussarela perfeitamente derretida. Todas as consistências possíveis num só pedaço.
O mais irônico de tudo é que toda as vezes que pedi aquela pizza eu comi, amei e rezei. Só não tive a ideia de escrever o livro.
Serviço
Antica Pizzeria Da Michele
Via Cesare Sersale, esquina Via Coletta – Nápoles
Aberta de 2a. a sábado das 10h às 23h sem interrupção
Fecha aos domingos (exceto nos meses de maio e dezembro)
Site oficial: aqui
52 comentários
Puts, agora vou ter que programar uma viagem a Napoles para comer essa pizza!
E
Meu Estadao veio sem o Divirta-se hj, mas adorei ler a cronica aqui e poder ver as fotos.
Com a companhia perfeita,na pizzaria certa, tem que rezar mesmo e agradecer esses momentos felizes
Ah…Ric…o que vc escreve aqui é muito mais que um livro…e quando a gente lê a viagem é mais linda ainda! 😉
Ha alguns anos tentei ler Sidney Sheldon. Em Ingles, claro. A porcaria é a mesma. O escritor não se salva porque seu livro esta no original. Não passei das primeiras paginas e literalmente joguei o livro no lixo. Faça como eu, leia Ian Mcewan em Ingles. Escritor de primeira. Ah, eu nao tenho vergonha de dizer q leio muito bem em Ingles
Nao vi o filme , nem li o livro, mas queria comer essa pizza.
Eu fui na pizzaria da Michele por dicas que peguei aqui no VnV!
Fiquei emocionada vendo o filme lembrando hehe
A pizza era maior que o prato! E a cerveja incrivelmente barata.
É a minha melhor lembrança de Nápoles com certeza 😉
Já assisti ao filme e gostei. Estou lendo o livro e estou gostando.
“Cada vez que chego ao fim de um texto em inglês – um livro, um artigo, uma tuitada – eu fico tão feliz de ter entendido, que não tenho como desgostar.”
Brilhante!
E a foto do Nick está sensacional 😛
Muito bom! O livro poderia ter sido escrito por você, então? Confesso que vc fez bem em lê-lo em inglês, porque em português ele fica ainda mais pobre sem contar equívocos primários de tradução (não estou me gabando, meu inglês é terrível, mas para eu perceber as grandes flahas, o negócio foi mal feito…)
A única coisa que me agradou no filme, foi as poucas frases ditas em “português do Brasil”, de certa maneira marcando uma pequena presença, pode ser um coisa boa.
Em Nápoles, meu marido pediu uma pizza “napolitana”. Quase apanha do garçon: “toda pizza é napolitana”. :o)