Jabutomada (minha crônica no Divirta-se do Estadão)
Você lembra qual foi o seu primeiro contato com essa tomada nova que nos impingiram na surdina?
A infeliz entrou na minha vida em julho do ano passado. Meu laptop tinha morrido durante uma viagem e eu precisei voltar a São Paulo para comprar outro.
O primeiro choque foi quando vi que até mesmo um notebook – cujos plugues sempre vieram com terceiro pino, para os quais todo mundo já tinha instalado tomadas específicas em casa, no trabalho e nos hotéis – vinha com a esquisitice nova. O segundo choque foi quando o vendedor me disse que os adaptadores estavam em falta.
Precisei ir no dia seguinte até a Santa Ifigênia e percorrer três lojas até conseguir o adaptador certo. Nunca foi tão difícil ligar um computador.
Não é espetacular, em pleno século 21, o Brasil se meter a inventar um padrão único no mundo em tomadas? É a tomada-jabuticaba: só tem por aqui. Voltamos à década de 70, quando o Brasil criou seu próprio padrão de TV colorida e a reserva de mercado de informática. Alguém aí é do tempo em que a gente precisava mandar transcodificar o videocassete?
A reserva de mercado de plugues e tomadas é um fato: é proibido por lei vender outras tomadas no país. Vai surgir no mercado a figura do contrabandista de tomadas. Está ouvindo o foguetório? Chegou um carregamento de tomadas americanas no morro, corre lá antes que façam uma UPP.
Para não dizer que o Brasil está sozinho nessa idiotice, registre-se que a Argentina também criou uma tomada estapafúrdia própria. Leve um laptop brasileiro novo (já com a jabutomada) a Buenos Aires, e você vai precisar não de um, mas de dois adaptadores para o bicho funcionar. E viva o Mercosul!
O desenho da tomada deve ter sido feito pelo mesmo pessoal competente que trabalhou na reforma ortográfica. Tenho certeza que ali tem o dedinho do gênio que resolveu eliminar o acento de “para” do verbo parar.
E por falar em dedinho, os técnicos justificam o novo formato por ser antichoque. Mas custava terem partido do design da tomada de três pinos americana? Pelo menos seria mais fácil encontrar adaptadores quando viajássemos.
Pra que simplificar, não é mesmo? Trilhamos o nosso próprio caminho. Jabuticaba e progresso!
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47 comentários
Todo o maravilhoso discurso de segurança do Inmetro sucumbe diante do primeiro adaptador! Sem contar que, por causa deles, os móveis ficam muito afastados das paredes…
Todo o maravilhoso discurso de segurança do Inmetro sucumbe diante do primeiro adaptador!
Um belo dia, um desocupado do Inmetro teve um “outsight” (insight é inspiração pra uma idéia inteligente) e disse: o Brasil vai ter sua própria tomada! a Jabutomada (mistura de jabuticaba com tomada).
Não dá vontade de dar um tiro na testa dum idiota desses?
Eu não sei se vocês têm filhos mas essa tomada foi projetada para evitar este tipo de coisa: https://www.portaltimonfm.com.br/noticias/crianca-morre-eletrocutada-em-teresina/
Eu não sei se vocês têm filhos mas essa tomada foi projetada para evitar este tipo de coisa: https://www.portaltimonfm.com.br/noticias/crianca-morre-eletrocutada-em-teresina/
Não sei se o incômodo de uma tomada é menor do que uma funeral para você. Prefiro a jabuticaba.
Falta muita informação para o pessoal:
Como foi escolhido o padrão brasileiro?
Três critérios fundamentais foram adotados pela ABNT para a escolha desse padrão: segurança, adaptabilidade e custo.
Segurança – o modelo escolhido atende a preocupação com a segurança dos usuários e das instalações.
Adaptabilidade – foi pesquisado o modelo em que os padrões se adaptavam melhor às instalações já existentes. Assim, em 80% dos casos não haverá dificuldade de conexão.
Custo – foi pesquisado o melhor custo benefício para os usuários e empresas impactadas.
Para esse estudo, a ABNT criou um comitê técnico, com representação das partes interessadas, que estudou por mais de cinco anos a questão. O Inmetro, então, ampliou a discussão, envolvendo fóruns e realizando painéis setoriais para discutir o tema.
A questão foi levada ao Fórum de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados, que, após escutar instituições representativas das partes interessadas, como o Inmetro, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica – Abinee, a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos – Eletros, o Sindicato do Comércio Varejista de Material Elétrico e Aparelhos Eletrodomésticos no Estado de São Paulo – Sincoeletrico, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – Idec e a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor – Proteste, decidiu apoiar a padronização dos plugues e tomadas.
Novamente o Inmetro ampliou a discussão, levando-a para o Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – Conmetro – formado por Ministros do Governo Federal e dirigentes de diversos órgãos nacionais – que escutou novamente as partes interessadas e deliberou a regulamentação do padrão brasileiro dos plugues e tomadas de forma compulsória.
(…)
Mas você deve estar se perguntando, por que não foi adotado um padrão universal?
Porque não existe um padrão universal. Várias tentativas em todo o mundo, inclusive da entidade internacional de normalização do setor, a Comissão Eletrotécnica Internacional – IEC, não foram adiante. Nem mesmo a Comunidade Européia – que já estabeleceu outros padrões únicos, entre eles a moeda, conseguiu padronizar os plugues e tomadas. Por esse motivo, muitos países em todo o mundo estabeleceram seus próprios padrões –são 110 padrões em todo o mundo – como o Estados Unidos, Inglaterra, França, Argentina, Espanha, Colômbia, Chile e Portugal.
Quando as partes interessadas reuniram-se com a ABNT para definir o padrão a ser implantado no Brasil, aconteceram algumas tentativas para que fossem escolhidos padrões de outros países. Mas o padrão brasileiro tinha que atender as três premissas básicas: segurança, adaptabilidade e baixo custo.
E porque não adotar o padrão de um parceiro comercial como o EUA ou a Alemanha?
Você vai entender o porquê. O padrão americano possui baixo custo mas foi feito para trabalhar na tensão de 110 V. Como no Brasil temos diferentes sistemas de distribuição, com tensões de 110 V, 127 V e 220 V, sendo esta última a predominante no país, esse padrão seria inseguro para nós. Já o padrão Alemão, considerado o mais seguro do mundo, possui elevado custo e baixa compatibilidade com os plugues e tomadas utilizados no Brasil. Ou seja, qualquer adaptação tentada com um dos 110 padrões existentes no mundo, iria impactar fortemente uma das três premissas básicas.
Mais: https://www.inmetro.gov.br/ouvidoria/faqs.asp#plugues
Criticar é bem-vindo, mas com base fundamentada, o que não está sendo feito nesse caso, ao contrário de todo o trabalho que o Inmetro desenvolve.
Criticar sem saber pode levar ao risco de, no mínimo, cometer gafes.
Em tempo: não trabalho no Inmetro, mas conheço o trabalho realizado pelo Instituto.
isso tudo é muito bonito e razoável, Leandro, mas carece de bom-senso.
Ou o Inmetro acha que todo mundo é rico e pode se mudar para uma casa nova com as jabutomadas, ou então assumir o custo e o transtorno de construir um sistema de aterramento e mudar todas as tomadas da casa para o novo padrão? sem contar que em muitos casos isso é impossível, como em prédios já construídos. Resultado? o cara vai ter que trocar as tomadas da casa, mas deixar o terceiro pino sem função, ou então vai dar um jeito de adaptar o terceiro pino.
Aí, toda a maravilhosa filosofia de segurança vai por água abaixo.
Penso que deveria ao menos existir um período de adaptação para a utilização da jabutomada.