La nave
Minha crônica no Guia do Estadão de hoje.
“Vocês já pensaram em vender cruzeiros de sete dias a lugar nenhum, só para os passageiros terem tempo de fazer tudo o que é oferecido a bordo?”
A pergunta, feita por uma jornalista australiana ao presidente da companhia de cruzeiros Royal Caribbean, fazia todo o sentido. Estávamos – ela, eu e mais três ou quatro mil convidados – há quase vinte e quatro horas a bordo do cruzeiro pré-inaugural do maior navio de passageiros já construído, o Oasis of the Seas, e ainda não tinha dado tempo de ver tudo.
Nunca fui fã de cruzeiros. Concordo que é um ótimo meio de transporte a paisagens longínquas e geladas, que se prestam a ser apreciadas do convés: fiordes da Noruega, geleiras da Patagônia e do Alasca. Para visitar lugares em terra firme, porém, acho contraproducente. O tempo de permanência é exíguo, e a estrutura criada para receber o enxame de turistas acaba produzindo experiências bastante pasteurizadas em cada lugar.
Sempre achei que cruzeiro é para quem gosta mais de navio do que propriamente de viajar. A verdadeira viagem acontece a bordo; as escalas são meros acessórios – desculpas para embarcar.
Se o futuro dos cruzeiros está em meganavios como o Oasis of the Seas, então a indústria de cruzeiros deve concordar comigo. Com 20 andares e três avenidas de lojas e restaurantes (duas delas, ao ar livre), o Oasis é uma metrópole concentrada. Extrato de Las Vegas. Bonsai de Dubai.
O centro de gravidade não é mais uma piscina gigante com uma arquibancada de espreguiçadeiras em volta. Dá para passar a semana inteira sem ir às piscinas. Se quiser, você não precisa nem ver o mar. Uma das avenidas a céu aberto fica no miolo do navio, e é ornamentada por um jardim tropical.
É incrível como figurinhas fáceis em terra firme, quando trazidas a bordo, ficam espetaculares. Um corredor de shopping bacana. Um carrossel tradicional de parquinho. Um jardim vertical. Uma lojinha de cupcakes.
As coisas verdadeiramente sensacionais, então, ficam surreais – como o teatro aquático com mergulhadores à la Acapulco, ou a piscina de ondas para surfar, ou o bar que simula o movimento da maré.
Mesmo que você não curta o estilo, como eu, é impossível não admirar o resultado. Mais ou menos como num megamusical da Broadway – por sinal, tem um em cartaz a bordo, ‘Hairspray’.
Segundo o presidente da companhia, porém, não há planos para cruzeiros sem paradas. Bem. Depois não digam que a gente não sugeriu.
38 comentários
Gostaria de alguma informação sobre as escalas. O navio oferece alguns tours, porém como viajo com meus filhos e minha irmã, fica muito caro fazer os passeios, além do quê não me agrada muito a ideia de sair em grupo de excursão. É tranquilo chegar ao porto e fazer os passeios sozinhos?
Depende da escala. Há desde uma praia particular (Labadee, no Haiti) até ilhas que talvez você queira dar a volta toda (St Maarten).
Quase sempre é possível fazer algo por conta própria, mas é preciso lidar com o tempo exíguo das escalas.
Leia mais aqui:
https://www.viajenaviagem.com/2009/12/por-dentro-do-oasis-of-the-seas/
Riq,
Procurei no VnV e não achei. Como fica questão dos vistos nos portos de escala? Estou pensando em fazer uma viagem no Oasis (ou no irmão gêmeo Allure) com mais 3 amigas em 2012, pela rota oeste do Caribe (passando por Nassau, Charlotte Amelie e St. Marteen) pra tentar tangenciar ao máximo a possível rota de furacões. Você sabe quais as chances de não se conseguir esses vistos?
Abraços,
Olá, Ludmila! Nâo é necessário visto para nenhum desses destinos. Normalmente passageiros de cruzeiro no Caribe não precisam de visto para lugar nenhum, só para voltar aos Estados Unidos.
Muito obrigada, Bóia!
Você é uma graça, como sempre!
Riq, encontrei hoje essa reportagem sobre a questão a venda de cruzeiros para não-americanos.
https://www.news.com.au/travel/story/0,23483,26415925-11212,00.html
Ricardo. Há tempo ouço um amigo citar o teu blog e só agora “parei pra ver”. E realmente, é ótimo, de um conteúdo riquíssimo. É de se ficar horas aqui “viajando”… Meus parabéns!!!