Zoológico de Luján: por que não recomendamos a visita 1

Zoológico de Luján: por que não recomendamos a visita

Luján

O Viaje na Viagem nunca tinha ido ao zoológico de Luján. Até que a Elisa, CEO do site, calhou de ir com a filhota passar o Carnaval em Buenos Aires, e resolveu conferir essa atração que está no roteiro de tantos brasileiros. O que ela viu? Animais fora do seu ritmo normal de alimentação e sono, expostos a uma interação que mais constrange do que entusiasma. É mais do que a pena que você sente no zoológico; é a pena que você sente no circo. [Riq Freire]

Texto e fotos | Elisa Araújo

A visita ao zoológico de Luján estava na programação da minha semana em Buenos Aires porque minha filha (8 anos) e eu tínhamos ouvido falar nesse local onde se podia “abraçar filhotes de leão”. Ela ficou com essa idéia na cabeça e eu comecei a pesquisar o assunto.

Além das informações práticas (como chegar, etc.) encontrei relatos negativos, denúncias e críticas sobre o local em si e sobre as condições em que os animais são mantidos. Alguns blogs não falam sobre o passeio e deduzi que essa é a maneira que encontraram de não divulgar o local, não estimular as visitas. Decidi manter o zôo na agenda para ver com meus próprios olhos e formar uma opinião sobre esse programa tão popular entre os brasileiros que viajam para a capital argentina.

Optei por não prevenir minha filha sobre as questões que geram as denúncias (as crianças não vêem as coisas como os adultos, percebem detalhes que não vemos e não dão atenção a coisas às quais ficamos atentos).

Nosso balanço final, após a visita, ponderando a opinião da minha filha e depois de conversar com o comandante Ricardo Freire, é que se trata de um passeio que o Viaje na Viagem não recomenda. Leia abaixo a minha experiência e as minhas impressões.

Estrutura e aparência

Não há bilheteria. Quem entra a pé ou de carro paga diretamente para funcionários que ficam circulando no caminho da entrada. Os carros, táxis e algumas vans entram dentro do zôo e estacionam nas vagas espalhadas nas áreas mais próximas da entrada. Não há um estacionamento em separado, os carros passam (devagar) entre as filas de pessoas esperando para entrar nas jaulas dos tigres, da leoa e dos leõezinhos.

A impressão que me deu foi de estar em um grande sítio mal cuidado. O chão é de terra batida (quando chove deve virar lamaçal) ou grama não aparada. Algumas espécies circulam soltas — patos, gansos, lhamas — por isso é melhor olhar onde pisa porque os bichos passam o dia inteiro sendo alimentados pelos turistas. Logo, há grande produção de… cocô. É como andar numa fazenda. Em alguns locais, o cheiro também lembra o de uma fazenda.

Os locais que vendem comida oferecem basicamente fast food, empanadas e sanduíches. Há um restaurante, mas não cheguei até ele. Tínhamos optado por levar sanduíches feitos por nós no hotel (nosso quarto tinha uma pequena cozinha), frutas e biscoitos. Compramos lá suco de laranja feito na hora (estava ótimo) e água. Há mesas livres para sentar e comer, além de espaço para piquenique.

Os banheiros não agüentam o volume de pessoas — os papéis usados vão sendo jogados no chão e formam pilhas. Não há limpeza na freqüência que seria necessária para suportar um dia de visitação pesada (eu fui numa segunda-feira de Carnaval, o local estava cheio de brasileiros e de argentinos).

Fila das elefantas

Preços

Em março de 2014, a entrada custava 200 pesos (cerca de R$ 45 no paralelo) para não-residentes acima de 2 anos de idade. Além disso, paga-se a comida comprada lá, o passeio de carrossel (fraquinho) e em todas (absolutamente todas) as “atrações” há uma cestinha em que os funcionários pedem “una colaboración” (as pessoas deixam 5 ou 10 pesos ou notas de reais de baixo valor).

Bebedouro do filhote

O que tem pra fazer além de ver os animais

Há um parquinho infantil do tipo que se encontra em praças: balanços e outros brinquedos para as crianças menores ou para as que não querem ficar horas em filas. Há um carrossel bem pobrezinho, mas esse é cobrado por fora (são 10 pesos). Um trenzinho aberto dá uma volta em torno do jardim dos tratores e dos carros antigos e também da grande jaula dos leões. As crianças gostam da experiência. Já o passeio de pônei é de chorar — a criança é colocada sobre o pônei, anda 2 metros pra lá, 2 metros pra cá e pronto. Minha filha achou bobo e disse que é “uma exploração” do pônei.

Os carros antigos, carroças e tratores são uma parte interessante do local (e aumentam a sensação de se estar numa fazenda ou num sítio). As crianças podem subir em alguns e fazer pose de “estou dirigindo esse trator enorme, olha só!”. Lhamas e gansos circulam por ali, passeando entre os humanos.

Comendo na mão dos turistas

Os animais

Há animais domésticos e selvagens “domesticados”. Logo na entrada está um grande cercado onde ficam cavalos, ovelhas, lhamas, pôneis, cabras e bodes. Um pouco mais à frente estão as jaulas dos tigres, da leoa e dos filhotes de leão.

Os leões adultos ficam em seguida. Dromedário e elefantas estão no final. A tal interação com os animais se dá de duas maneiras: você pode alimentar os animais domésticos (com a comida específica que é vendida por 10 pesos em saquinhos logo na entrada) ou você pode acariciar e tirar fotos com os selvagens “domesticados”.

Está aí um dos primeiros problemas na nossa opinião: os animais passam o dia inteiro comendo nas mãos dos turistas. E o zôo abre 7 dias por semana, todos os dias do ano. Ou seja, os bichos comem o dia inteiro, todos os dias. Pelo comportamento deles, são completamente condicionados a isso. Basta você se aproximar do cercado dos animais de fazenda para que eles venham tentar comer na sua mão.

Temos então as fotos e interação com os selvagens domesticados. No caso das elefantas, a experiência é assim: você fica na fila, na sua vez, avança, pega pedaços de banana já cortados e se posiciona onde o funcionário manda. Outro funcionário fica com sua câmera. Quando ele comanda, você levanta a mão com o pedaço de banana e a elefanta pega com a tromba. Faz isso uma vez, uma foto. Segunda vez, segunda foto. Terceira vez, terceira foto. Para a quarta foto, o funcionário dá um comando de voz e a elefanta levanta a tromba bem para o alto. É a pose final. O resultado são fotos divertidas, mas pense só: as elefantas (são duas) fazem isso o dia todo, 7 dias por semana, todos os dias do ano…. para que você, turista, tire fotos divertidas.

Os grandes felinos são a principal atração. Logo após termos chegado (entramos no zoo as 11 da manhã) a fila para a leoa estava tão grande que encerraram a “atração” (o numero de pessoas na fila era suficiente para o horário do expediente dela).

Filhote come

A interação com os filhotes de leão foi assim: entramos na jaula (entram as familias juntas) onde havia 4 filhotes de 5 meses. Dois dormiam, um estava comendo pedaços de carne crua e o outro estava deitado ao lado do bebedouro. Era nesse que podíamos passar a mão e tirar foto. O bichinho ou estava sonolento ou estava deprimido, porque tinha a cabeça virada para o lado oposto, quase enfiada no bebedouro. O filhote que comia estava com cara de triste e o filhote que dormia no fundo da jaula estava acorrentado (foi minha filha quem viu e me mostrou perguntando porque, isso a deixou incomodada).

Na jaula ficam também dois cachorros. O funcionário me disse que os filhotes são criados com cachorros para que fiquem mais dóceis. A experiência não teve nada de fofinha, de segurar no colo uns bebezinhos de leão (bebês de leão foram feitos para isso?). A visão do filhote dormindo acorrentado foi super deprê.

Tigre

A jaula dos tigres (branco e de Bengala) é um ponto focal do zôo. Muita gente na fila, muita gente apenas olhando e fotografando. São animais enormes, lindos e parecem ser os menos dóceis. Não fiquei na fila, mas vi que o esquema é o mesmo — eram três animais em rodízio, um para acariciar e posar, um dormindo e um se alimentando (coxas e sobrecoxas de ave). Só adultos podem entrar, só se pode por a mão no dorso do bichão.

lujan-pablo-dormindo

No final do nosso passeio fomos até a jaula do Pablo, um leão adulto. De novo, só adultos podem entrar. Eram 3 da tarde, Pablo estava dormindo, dormindo pesado. De vez em quando balançava o rabo ou movia um pouco uma das patas para espantar as moscas. A jaula é enorme, larga e alta, em forma de cilindro. Pablo dormia sobre uma plataforma de cerca de 1 metro de altura (atrás dessa jaula há outra, onde ficam outros leões e leoas fora de expediente, dormindo ou acordados).

A semelhança do espaço com um picadeiro de circo é óbvia. Só não tem chicote e domador.

Você entra na jaula e segue as orientações do funcionário: sobe numa plataforma intermediária que deixa você de pé atrás do leão. Sorria, faça pose. Tem gente que faz V, tem gente que mostra o muque. O funcionário tira fotos. O resultado final das minhas fotos são imagens em que apareço sorrindo atras de um leão chapadão. Me senti péssima ao ver as fotos. É um troféu ruim.

Eu ficaria mais animada se Pablo estivesse acordado? Acho que não. É uma experiência falsa. O leão não é ele mesmo ali, não está em seu estado natural. É quase como tirar uma foto com a estátua de cera da rainha Elizabeth. Não é a rainha, você pode até se divertir exatamente por ser uma rainha fake de cera, mas no caso do leão, é diferente. É um animal vivo.

Leoa dorme

A opinião da minha filha (8 anos)

No dia seguinte, ela avaliou o passeio como “mais ou menos”. Gostou de ter feito “amigas novas” (duas meninas argentinas com as quais brincou um pouco). Gostou do trem, dos carros antigos e do balanço. Achou as filas “enormes e ruins” e não gostou de não poder entrar nas jaulas dos bichos grandes. Disse que os filhotes de leão são “fofinhos, mas estavam tristes porque não estavam com a mãe deles”. Nem se lembrou da elefanta.

Avaliação final

Não é um lugar ao qual quero voltar. Não recomendaria a amigos, mas descreveria o que vi, para que cada um tome sua decisão. Há denúncias pela internet de que os animais são dopados para que fiquem mansos. Não dá para afirmar isso porque eu não vi. Pode-se especular. O que vi são animais em ambientes que nem de longe lembram seus habitats naturais, fora seus ritmos naturais de alimentação e sono. Pense em você fora do seu ritmo de alimentação e sono…

O que vi foram animais expostos a uma “interação” que não deve ser agradável para eles, especialmente os felinos (quem tem gatos sabe o quanto é estressante para eles o contato com estranhos) ou condicionados a uma interação motivada pela comida.

Na minha opinião é um preço muito alto para pagar por fotos divertidas ou bonitas. Não o preço que você paga pelo ingresso ou o tempo que você fica nas filas. Quem paga preço alto são os animais.

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297 comentários

Nossa que bom que vocês alertaram as pessoas sobre isso !!! Acho um absurdo essa exploração dos animais..eles usam eles para ganhar dinheiro.. drogam os bichinhos tadinhos ! Não financiem !!! por amis que seja legal tirar uma foto abracando o leao, não vale a troca !

Gostei muito da reportagem, estive lá em novembro 2011 e vejo que continua a mesma coisa. Tive, na ocasião, exatamente a mesma visão que a da reportagem. Não entendo de animais e não posso falar que são dopados, mas já fui a outros Zoos, inclusive na Argentina, e nos outros os animais são sempre alertas e mais agitados que em Lujan.
Um passeio que realmente vale a pena na em BsAs é o Temaiken, muito mais organizado e um passeio incrível.

Fiquei mt feliz com a matéria que ajuda nesse caso específico, de Lujan, mas também lembra às pessoas que toda atração tem um custo e que nem sempre é só o dinheiro que sai do seu bolso. O turismo tem um impacto importante nos locais onde se realiza e devemos sempre avaliar qual é esse custo. Uma vida miserável dos animais é um custo alto demais, que não deve ser pago (assim como estimulo pra crianças trabalharem em vez de estudar etc). Parabens ao VnV.

Se fosse tão horrível assim como diz, um zoológico tão famoso como esse já teria sido fechado pelo Ibama não acha? Depende do olhar de cada pessoa. E por sinal, você esqueceu de informar que havia dois filhotes de leão órfãos e que eram amamentados no zoológico por uma cachorra que os adotou. Enfim… não vou conseguir mudar a opinião de uma pessoa que já foi para lá procurando coisas negativas….

    Ibama? Na Argentina?

    È mais difícil mudar a opinião de um desinformado do que quem “já foi para lá procurando coisas negativas…”

    O comentário sobre o Ibama foi infeliz, mas de fato há organismos internacionais de olho no único zoo no mundo que permite interação com os animais.

    O emprego do termo “organismos” está correto. Cultivar o hábito da leitura pode ser-lhe útil.

    Poxa, só o fato do leãozinho ser amamentado por uma cadela já é suficiente para saber que tem algo muito errado. Não é porque é leite que é tudo igual – basta ler a caixinha de leite na sua casa que diz para que não se alimente crianças com apenas aquele leite! Filhotes diferentes tem necessidades diferentes! os orfãos deveriam receber cuidados especiais e formulas de leite que suprisse suas necessidades de alimentação.
    É realmente muito triste saber que lugares como esse existem…

    Meu caro, é só você jogar no Google “abaixo assinado zoo lujan” que encontrará vaaarios de autoria da população argentina pedindo o fechamento do local!!! mas, nem tudo ocorre tão rápido ou da maneira que esperamos. Aqui no próprio Brasil existem zoológicos deploráveis nos quais pessoas também lutam pelo fechamento, mas nem por isso eles já foram fechados.

    Ah, claro, afinal todas as leis são cumpridas e ta todo mundo preocupado com o bem estar dos animais. aff

Estou de viajem marcada para Buenos Aires com amigos, mas este passeio foi descartado pelo grupo por exatamente estes motivos. Mas a sonolência dos leões não seria por eles serem animais que caçam à noite? Qualquer programa do Discovery ou NatGeo vai mostrar belas imagens de leões caçando durante o dia, mas isso não é o normal. Eles caçam mesmo à noite.

Pela descrição, nem parece o lugar onde estive. Durante minha visita, não vimos nenhum animal dormindo e nem sonolento,todos andavam dentro das jaulas, inclusive o leão. Dentro das jaulas q entramos (mais ou menos 8) não vimos nenhum tipo de sujeira, inclusive dos animais e nem cheiro mal, jaulas limpíssimas. O único lugar q cheirava mal, era onde estavam as cabras. Passamos a mão nos tigres e demos leite na nossa mão para q eles lambessem, não vi nenhum animal acorrentado ou triste, mas tbm não esperava ver nenhum sorrindo. Os animais são dóceis, por q são amamentados pelas mães e por cadelas , e seus filhotes (cachorrinhos)crescem juntos com leões e tigres.Qto ao banheiro sujo, a presença de mtos brasileiros no local explique mta coisa . Em nenhum momento, foi pedido caixinha . Mas enfim tudo depende do olhar da pessoa .

Perfeita a materia!! Estive lá em outubro passado e me senti muito mal naquele lugar!! Quem diz que aqueles animais estão domesticados não entende nada de animais!! Fui pra lá por indicação de conhecidos, e porque minha esposa queria muito; mas desde o início me perguntava “como vamos amamentar um TIGRE??”. E para quem não percebeu; era claro que naquelas “mamadeiras” (garrafas de coca-cola velhas) não tinha leite nenhum e sim um baita de um dopante!!! Os funcionários chutam carreteis de aço no chão pra despertar os bichos…. É deprimente!!!! Saímos de lá com tanta tristeza que queriamos fazer uma denuncia a sociedade protetora dos animais!!! Em compensação até o Zoo de buenos aires é ótimo!! E o Temaikan ESPETACULAR!! Este sim vale a visita!!!

    Eu vi animais bem deprimidos no zoo de buenos aires ontem :/ não recomendo

Visitei o Zoo de Lujan em agosto de 2013 com minha mãe. Minha impressão foi péssima… dentro da jaula do tigre branco presenciei uma das piores cenas da minha vida, o funcionário dando murros na boca de um dos tigres para ele se acalmar, enquanto o outro tigre dormia e o terceiro estava disponível para fotos… também vi um tigre em uma jaula de carros antigos, totalmente abandonado… o local tem uma energia ruim, muito sofrimento dos animais, não recomendo.

Tremenda furada o “passeio” ao Zoo de Lujan – BsAs.
ze geraldo

Quando fui lá eu não percebi nenhum animal com jeito de estar dopado. Não entrei nas jaulas, mas uma amiga minha entrou e tb não percebeu isso, inclusive na jaula do tigre branco ele estava bem espertinho querendo brincar com o pé dela. Os tigrinhos menores estavam fora das jaulas passeando e eu cheguei a pegar um deles no colo. Também não vi nenhum deles machucados, pareciam bem saudáveis. Essa foi a impressão que tive e gostei do passeio.

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