Nordeste meia porção

À mesa no Nordeste: meia-porção de problemas

Nordeste meia porção

Publiquei esta crônica na minha coluna do Estadão esta semana. Mas não consigo resistir a colocar aqui também. Por favor NÃO CONTEM PRA NINGUÉM que eu fiz essa travessura, está bem? Obrigado 😉

Uma das vantagens de viajar pelo Nordeste é poder dividir pratos.

Na maioria dos restaurantes, os pratos servem duas, até três pessoas. Às vezes a informação está explícita no cardápio. Outras vezes, porém, dá para intuir pelo preço: se você está numa capital de médio porte, tipo João Pessoa ou Natal, e o prato de um restaurante sem luxos tem preço de São Paulo (R$ 70 ou R$ 80), é porque serve um casal. Se tiver preço que até em São Paulo seria caro demais (R$ 120, por exemplo), é porque dá para três ou quatro.


Vojnilô
Para além do caranguejo

O problema é quando você vai sozinho a um restaurante desses –- ou vai acompanhado de alguém com gostos (ou restrições alimentares) diferentes. A pergunta óbvia – “Vocês fazem meia porção?” – muitas vezes é respondida com um “Não”. Dá para entender que paellas, peixes inteiros ou mesmo moquecas não se prestem a versões individuais. Mas a impossibilidade de preparar filés, postas ou pratos de camarão para uma pessoa realmente me escapa.

A única opção fora o desperdício é procurar, no rabicho do cardápio, a seção de pratos individuais. Quase sempre a oferta é pouca e sem o apelo dos pratos para dois. Quem vai ao Nordeste para comer massa (passada do ponto) ao sugo (malfeito)?

Nas barracas de praia, a solução é ficar nos petiscos. Dia desses, na orla de Tamandaré, para não pagar uma refeição (para 3) de R$ 90, pedi um petisquinho de R$ 50. Vieram duas postas gigantes de peixe frito com uma montanha de batata frita. Me senti mal de deixar tanta comida na travessa.


Natal: onde comer - Mercado da Redinha
O mapa da boa mesa

O problema atinge até restaurantes pretensamente chiques. No Coco Bambu, rede cearense com casas em vários estados (incluindo São Paulo) e no Nau, restaurante do momento tanto João Pessoa quanto em Natal, nem um bilhetinho assinado pelo Papa Francisco convenceria o maître a servir meia porção. O jeito é ficar só na entrada – ou ir ao Camarões, o concorrente natalense do Nau, que prepara porções individuais com um pequeno sobrepreço.

A questão está tão enraizada na cultura nordestina, que veja o que me aconteceu em Maragogi. Um restaurante da orla anunciava, num quadro negro, pratos sofisticados (spaghetti ao pesto de coentro, polvo à galega com batatas ao murro) a preços abaixo de R$ 50. Obviamente, eram pratos para um. “Oba, hoje não vai ter desperdício”, pensei comigo. Sentei. O garçom perguntou se eu estava sozinho. Respondi que sim. Então trouxe o cardápio. E já foi se desculpando, como se a informação fosse me ofender: “Olhe, preciso avisar uma coisa: nossos pratos são individuais, tudo bem?”

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Maracangalha

23 comentários

Olha… não sei se este é um problema SÓ do nordeste. Este ano estive em Arraial do Cabo – RJ (que lugar lindo!!!), mas as porções lá também são além da conta. Por exemplo: meia porção comíamos eu e a namorada e ainda sobrava. Não seria melhor verificar a situação em várias praças, para não ficar parecendo preconceito com os nordestinos? Abç.

Alguém comentou aí : a gentileza do nordestino é fantástica!! Perfeito comentário.Amo Muito esse povo. Amo Muito o Nordeste. Temos muito que aprender com eles.Principalmente o povo daqui do sul do país

Em João Pessoa o Tasca da Esquina tem um menu, se não me engano chama-se Nas Mãos do Chef, com uma proposta diferente. Vale conferir!
Engraçado que aqui na Europa sinto que está ocorrendo o contrário, a moda são pratos pequenos, você pede de acordo com o tamanho da sua fome e compartilhar e super fácil.

Sou de Fortaleza e concordo. Não curto ter que escolher um prato para dois, sendo obrigada a pedir essas porcões grandes. Inclusive até evito ir a restaurantes que só trabalham assim.
Antigamente víamos mais disso, mas agora estou notando muitos dos restaurantes se adaptando e oferecendo mais porções individuais. Coco Bambu aqui em Fortaleza tb tem pratos individuais. O Tio Armênio, que se não me engano é de Recife, mas tem filial aqui, tem no cardápio a opção do que eles chamam de meia porção (para 1 pessoa) de todos os pratos.

Esse pode ser um problema em alguns lugares mais isolados, realmente. Mas, recentemente, tive uma agradável surpresa em Maceió. Estávamos somente eu e meu marido, ele alérgico a camarão. Era fim de semana e o restaurante só trabalhava com porções grandes, expliquei ao garçon, ele gentilmente nos ofereceu o cardápio de pratos individuais que é servido durante a semana. Saímos muito satisfeitos. A gentileza do nordestino é fantástica.

É bem dificil mesmo. Minha mulher não gosta de peixe e eu amo. Mas mesmo que ela gostasse os pratos são sempre enormes. É um grande desperdicio de comida.

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