Cias. aéreas brasileiras avisam | "Escolha: ou promo, ou milhas" 1

Cias. aéreas brasileiras avisam | “Escolha: ou promo, ou milhas”

Ponte Aérea

Adaptado da minha coluna Turista Profissional de hoje no suplemento Viagem do Estadão.

Chorar é livre, espernear faz parte do jogo (e às vezes dá resultado). Mas a verdade é que mudança de regras em programas de milhagem é algo quase tão antigo quanto os programas de milhagem.

Para você ver: no início dos anos 90, em programas como Smiles e Aadvantage, um upgrade para classe executiva em vôo internacional custava apenas 12.500 milhas – não importando a classe tarifária em que a passagem tinha sido comprada. Já há muitos anos, porém, o mesmo upgrade custa 30.000 milhas, e só é concedido para passagens compradas na tarifa cheia.

Nos últimos meses, três das quatro maiores companhias aéreas nacionais alteraram as regras dos seus programas. Em junho a TAM matou o principal benefício histórico do Multiplus Fidelidade, que era a garantia de emitir passagens domésticas e sul-americanas pela tabela-base, sem limitação de assentos por vôo. Ainda em junho, a Azul reformulou o programa Tudo Azul, que passou a atribuir pontos proporcionais à tarifa paga.

Agora é a vez da Gol mudar. A partir de 10 de outubro, o Smiles vai na cola do Tudo Azul e passa a conceder milhas com base no valor da tarifa. E para penalizar ainda mais o caçador de pechinchas, as tarifas promocionais não darão mais direito a milhas (uma prática que não é novidade, mas que estava restrita aos feirões e às megapromos de todas as companhias).

Milhonários x Pechincheiros

O recado das companhias aéreas é claro: os infiéis, que voam sempre onde está mais barato, serão cada vez menos remunerados com milhas. Pense numa Dona TAM, numa Tia Gol e numa Miss Azul enfileiradas, todas com uma mão nas cadeiras e outra com o dedinho em riste na nossa direção: “Escolha: ou a promo, ou as milhas! As duas ao mesmo tempo você não vai ganhar não. Guloso!”

O acúmulo substancial de pontos passa ser privilégio dos passageiros freqüentes, que pagam as tarifas cheias de última hora e têm sua milhagem bonificada em até 100% (clientes TAM Vermelho Plus, TAM Black e Gol Diamante) e 200% (clientes Azul Safira).

Para complicar a vida dos independentes, os cartões de crédito dos bancos – que eram o melhor atalho para juntar milhas em várias companhias sem precisar voar – agora impõem barreiras para a transferência de pontos.

O programa Sempre Presente do Itaú é o mais implacável: os pontos sofrem um deságio de 20% ao serem transferidos e o para o Multiplus Fidelidade ou para o Smiles, e o limite mínimo de transferência atingiu estratosféricos 48.500 pontos. (Em contrapartida, Banco do Brasil, Bradesco e Santander estão com uma promoção com o Smiles de bônus de 20% na transferência, mas o limite mínimo também é alto: 40.000 pontos.)

Com os pontos presos no banco, você pode perder as promoções de milhas reduzidas que volta e meia são oferecidas por TAM e Gol — e que são a melhor maneira de rentabilizar as milhas acumuladas.

Back to basics: a saída é o cartão de crédito oficial do programa

O mundo gira, a TAM e a Gol rodam, e quem quiser acumular pontos sem voar deve voltar à década de 90, quando o único jeito de turbinar sua conta num programa de milhagem era fazer o cartão de crédito oficial do programa. Com esses cartões, seus pontos ou milhas são creditados logo depois do pagamento da fatura mensal, sem limites mínimos nem delongas. Você restringe sua independência ao se fidelizar a um dos programas de milhagem, mas continua livre para borboletear entre as promos e os feirões de todas as cias.

Claro que, para ser um milhonário via gastos de cartão de crédito, você precisa ter… muito gasto de cartão de crédito. A partir de uma média mensal de gastos de R$ 2.000 você compensa a anuidade e tem algum lucro emitindo uma viagem com milhas. (Estou falando de viagens domésticas; se você conseguir juntar milhas somente via cartão de crédito para viajar ao exterior, provavelmente não precisaria de milhas para fazer nenhuma viagem…)

Os cartões de crédito oficiais do Fidelidade TAM são emitidos pelo Itaú nas bandeiras Visa e MasterCard. A versão International tem anuidade de R$ 172 e confere 1 ponto por dólar gasto. A versão Gold tem anuidade de R$ 268 e dá 1,33 ponto por dólar gasto. A versão Platinum custa R$ 399 por ano e dá 1,5 ponto por dólar gasto.

Os cartões de crédito oficiais do Smiles são emitidos pelo Banco do Brasil e pelo Bradesco, somente na bandeira MasterCard. São mais generosos do que os cartões da TAM:  dão bônus na adesão e na renovação (creditados depois do pagamento da anuidade) e oferecem mais milhagem por dólar. A versão Internacional tem anuidade de R$ 90, bônus de adesão de 1.000 milhas e credita 1,35 milha por dólar gasto. A versão Gold custa R$ 190 por ano, dá bônus de adesão de 5.000 milhas e 1,5 milha por dólar gasto. A versão Platinum tem anuidade de R$ 248, bônus de adesão de 10.000 milhas e confere 2 milhas por dólar gasto.

Se você tem gastos altos com cartão de crédito, vale a pena cacifar um dos cartões platinum. Além da melhor relação gastos x pontos conferidos, os cartões platinados dão prioridade no check-in e no embarque. Você adquire (literalmente) o seu status de elite, mesmo sendo pechincheiro de carteirinha. A única diferença é que você não ganha os bônus sobre as milhas voadas. Mas como passagem-prêmio nunca deu direito a milhagem, você não sai perdendo nada.

E você? Mudou de estratégia depois das últimas mudanças? Ou desistiu da brincadeira?

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57 comentários

Acabei com o meu Sempre Presente e estou concentrando todos os gastos em um cartão Platinum do BB. No momento, repensando meus próximos passos em relação aos programas. Dou preferencia a usa-los em viagens internacionais e a saída da TAM da StarAlliance é mais uma mudança chatinha.
Tenho a certeza de que os programas estão muito piores porém me parece que nunca foram tão populares.

O grande problema que eu vejo nisso tudo é que, como a grande maioria das pessoas não tem educação financeira, acabam gastando dinheiro à toa em pagamentos de anuidades de cartão, tarifas bancárias, IOF e outras despesas inúteis.

E, com isso, dilaceram boa parte do orçamento doméstico, agravam sua situação financeira pessoal, se estressam por conta do acúmulo desmedido de milhas que têm enormes dificuldades para gastar, e o resultado final disso tudo é que o planejamento da viagem acaba sendo mais desgastante que a própria viagem.

O que impera no Brasil é a armadilha do hiper consumismo, reflexo claro de uma população com pesados déficits de conhecimento financeiro. A dor de cabeça para usar as milhas acaba sendo uma pequena ponta do iceberg disso tudo.

Eu já fui obsessivo compulsivo master plus advantage por milhas.
Comprava até pão na padaria e pagava com meu cartão platinum.
Pagava conta dos outros com meu cartão, pegava o dinheiro delas e fazia um pagamento avulso.. só pra acumular mais e mais milhetas.
Pagava boletos com o cartão de crédito. No Santander isso era muito fácil até dia desses. Independente do valor, a taxa era só uma: 15 reais. E com esses 15 reais eu fazia virar até 7500 pontos. \o/
E assim eu fiz várias viagens pela América do Sul e Europa.. Emitia passagem pros amigos, pros meus pais, pra minha família.. Mas dai comecei a ver que compensava mais emitir nas promos do que com milhas.. fui desencanando, usando menos milhas, preocupando menos com elas.. mas elas foram acumulando, acumulando..
Hoje devo ter uns 100k pontos no cartão (que não vence)uns 60k no Smiles, uns 20k no Multiplus.. e uns miseros 5k no KM de desVantagens. E o PIOR.. sem condições de programar nenhuma viagem este ano por motivos de: trabalho novo. =\

Pelo menos até conseguir gastar esses pontos todos, o tio da padaria não tem visto mais o meu cartão, os boletos são pagos da forma tradicional e abrir a fatura do cartão de crédito deixou de ser uma cena de filme de suspense 😀

Comandante, voce esta certíssimo quando diz que milha boa é milha gasta. Gastei quase tudo! As da Tam torrei dando pra meu filho que mora fora vir me visitar, e o critério foi a saudade. Bateu, gastei. Foi um ótimo custo benefício.Hoje tenho tão poucas milhas da Tam que mesmo que ela voasse SDU-Nova Iguaçu, não dariam nem pra uma perna. De qualquer forma estou feliz, pagando a passagem ou usando milhas ninguém merece viajar pela Tam e levar 12, 15 ou até mesmo 22 horas para chegar num destino dentro do próprio país ou ficar parado num aeroporto 4,5 ou 6 horas para pegar a conexão.

Já usei milhas do Smiles para ir pra Europa, mas faz tempo! Deixei de tentar usar milhas para o exterior. Atualmente ainda tenho algumas que uso eventualmente dentro do Brasil, mas tá difícil, cada vez mais difícil conciliar datas,horários de voo, destino e quantidade de milhas exigidas por trecho. A quantidade de milhas exigidas está cada vez mais abusiva. Exatamente como os preços das passagens.

O uso cartão de crédito vai continuar para tudo, sempre pensando nas milhas. Só não uso fora do Brasil, assalto que dá pra fugir, ainda fujo. Mas cada vez é mais comum eu pagar pelas passagens, lamentavelmente. E as milhas que irei acumular fica pra viagem de ultima hora caso o preço esteja estratosférico ou uma grande oportunidade ou a saudade apertar. Ou tudo junto e misturado.Já desencanei.

Não tenho cartão de nenhuma companhia aérea, talvez essa opção passe realmente a ser mais vantajosa. Mas as empresas aéreas parecem não valorizar nossa fidelidade. já estou providenciando cartões de crédito que me tragam outras vantagens além da relação dólar gasto/milha como transfer, taxi casa- aeroporto, concierge, segunda opinião em diagnóstico fora do Brasil….não dá mais pra pensar só em milhas.

Ultimamente tenho usado companhias estrangeiras para voar e acumulado milhas no Milleage Plus da Continental que faz parte da Star Aliance. Usei milhas uma unica vez, foi simples. Um único telefonema e 40000 milhas para ir Rio-Cuba-Rio e ainda ter direito a parar no Panamá por 2 dias. Se compararmos 47000 milhas/Smiles pedidas em 09 de setembro para fazer Porto Velho-Rio (só uma perna!) tá barato pra caramba.

Como disse o Philipp, adaptar sempre, desistir jamais!

    40000 milhas para ir Rio-Cuba-Rio e ainda ter direito a parar no Panamá por 2 dias. Como conseguiu isso, Tania? Voou em qual a empresa? Com que tipo de milhas? Grato, Alfredo

Num mercado pouco competitivo, o poder de barganha nao esta do lado do consumidor e com o aumento da renda no Brasil nos ultimos anos, as cias aereas ja estao ha algum tempo fazendo controle de capacidade: no Smiles poucas datas disponiveis e no Fidelidade (que eu sempre ignorei solenemente por conta do meu perfil de viagem) uma quantidade absurda de milhas; ouvi casos de pessoas usando mais milhas para uma economica do que alguns programas exigiam para voos em primeira – nao estou falando de executiva – em empresas como Cathay e Lufhtansa.

Acredito que os bancos compraram muitas milhas/pontos destes programas, e estes ultimos ajustes sao apenas reflexo desta “inflacao dos pontos/milhas”. Aqui nos EUA o Skymiles da Delta e’ notorio por sempre trazer ajustes ao seu programa e por isto e’ carinhosamente chamado de Skypesos pela comunidade de viajantes frequentes. O HHonors – programa de fidelidade dos hoteis Hilton – simplesmente dizimou a sua tabela de pontos em alguns pontos dobrando a quantidade, pelo menos deram um tempo para entrar em vigor a nova tabela (eu zerei meu estoque de pontos).

O Artigo do Seth Kugel (mencionado acima) e’ interessante, mas ele nao vai mudar o fato de que estes programas existem e dificilmente deixarao de existir e conforme disse o Comandante acima “Chorar e’ livre”. As pessoas que perdem um tempinho para entender estes programas se beneficiam e muito deles, mas sabem das limitacoes.

Minhas dicas para o mundo de pontos e milhas:

– Trate as milhas como um “facilitador de viagen”. Se voce trata como um investimento estar. Pessoalmente eu as utilizo para fazer algumas viagens que jamais faria se elas nao existissem;
– Utilizem a estrategia de ganhar e gastar. Os programas serao invevitavelmente ajustados, assim e’ melhor gastar o quanto antes;
– Nao e’ necessario depositar suas milhas/pontos em programas de cias brasileiras, ou da empresa que voce esta voando. Muitas vezes e’ ate’ melhor deposita-las em um programa parceiro, mas para isto apenas mesmo analisando situacao particular de cada um;

Hoje mesmo ha 2 posts fantasticos em 2 blogs que acompanho neste mundo das milhas , ambos sao em ingles:
https://boardingarea.com/onemileatatime/2013/09/17/nothing-makes-happier-seeing-someone-happy-lufthansa-first-class/
https://boardingarea.com/viewfromthewing/2013/09/17/miles-really-matter-ever/

Adaptar sempre!
Desistir? Jamais! 😀

Mudamos radicalmente nosso comportamento com milhas na última viagem após estas mudanças. Foi-se o tempo eu ficava feliz da minha mãe ir ao dentista e pagar no cartão de crédito para me ajudar a ir a Europa uma vez por ano…c´est finit! Precisávamos de Rio-Roma-Rio, sem negociação por conta de um casamento, mas para alta temporada, 1 mês antes (o que dava pelos compromissos profissionais) só encontramos Madri pela TAM. Como a KLM se revelou a melhor cotação (TAM muito mais cara!), fizemos a descompressão esse ano em Amsterdam (cidade que revi quando namorávamos e não tinhamos obrigação de fazer lerês) e mesmo com o code-share com Alitalia (pontuando nada na ida e nada no deslocamento para Amsterdam), pontuamos na Air France, que dará em nada provavelmente… Hoje encaramos as milhas voadas e do cartão como um investimento de longo prazo em fundos que darão em água em alguns casos…tomara que seja a água do Nordeste e não a água que me refiro hironicamente! rsrs

Vi alguns comentarios acima que vão na mesma linha do que eu penso… Uso o cartão pra comprar tudo, e quando aparece uma viagem vejo o que da pra fazer com os pontos. Como viajo sempre com meu marido, tento conseguir uma ida-volta paga com milhas e compramos a outra passagem, ou transferimos para o programa do le club e trocamos por descontos nas diarias dos hoteis accor. Temos que ver as milhas realmente como um bonus, um plus. Se entrar na paranóia de acumular a qualquer custo acaba saindo no prejuízo com tantas mudanças nos programas das companhias aéreas

Gente, o cartão top da Caixa pontua 2,2 pontos por dólar. O dólar usado é o comercial, isto é, o menos caro possível. Transfere-se pontos facilmente. Não dá para perder tempo com cartões lixo como o Itaú.

Consegui fazer muitas viagens com milhas, em trechos nacionais e internacionais, consegui ir de executiva pros Estados Unidos, pra Buenos Aires, Santiago, isso no passado. Hoje já nem me importo muito, os programas estão péssimos. Eu que moro em SC preciso sempre fazer conexão em Guarulhos ou Galeão para alguma viagem internacional. Comprando em dinheiro na TAM por exemplo a conexão pode ser de 2 h, com milhas passa pra 6h, 8h de espera. Estão fazendo de tudo para você não gastar suas milhas com voos. Pra que “dar” ao cliente um passagem com milhas que custaria 500 reais, quando pelo menos número de pontos podem empurrar uma torradeira que numa loja não custa nem R$ 100? Eu que só viajava com a TAM, passei a comprar na cia que tem o melhor custo / benefício no momento. Perderam um cliente freqüente!

Acumular milhas viajando já tinha ficado difícil com a imposição do IOF de 6,38%, o que reduziu a nossa tendência de usar cartão de crédito lá fora.
Agora as empresas aéreas dão os apertos finais na gente.
Está difícil assim…

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