O caso das garotas inglesas

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Vocês que me acompanham sabem como eu sou irritantemente parcial a favor dos gringos que visitam o Brasil. Sempre que posso eu volto com o meu argumento de que o sujeito que ignora o noticiário e se dispõe a passar um tempo num país onde ninguém sabe sequer contar em inglês merece ter estendido o tapete vermelho à sua chegada.

Curiosamente, não consegui sentir pena nenhuma das duas turistas inglesas que foram pegas no golpe da seguradora e foram fazer um xilindró tour. Pelo contrário. Achei é graça.

Confesso que me senti um pouquinho incomodado, achando que eu estava repetindo os patriotas fora de lugar que vibraram com aquela cena patética do guardinha de Fortaleza barrando um espanhol que queria gastar seus euros em Jericoacoara. O coitado não tinha nada a ver com as grosserias que seus compatriotas faziam (e continuam fazendo, com ou sem retaliação) lá em Barajas.

Já essas meninas… hmpf. Além de terem, sim, cometido um crime, ainda estavam contribuindo para piorar as estatísticas que fazem o Brasil parecer um destino mais perigoso do que é.

Ao ler os comentários dos leitores nesta matéria no Daily Mail britânico, porém, vi que não estou sendo xenófobo. Os próprios ingleses acham que o que as meninas fizeram foi o fim da picada (até porque elas estudam… Direito!).

O caso me lembrou algo estranho que presenciei na delegacia de crimes ao turista de Salvador, em dezembro de 2005.

Precisei fazer um boletim de ocorrência do furto de uma carteira com meus cartões de crédito e carteira de motorista. A fila era enorme. Um dos casos que estavam demorando mais era o de um casal suíço ou alemão ou o que valha que estava dando queixa de um roubo com violência. O homem mostrava um corte no ombro, que tinha sangrado. O casal disse ter sido abordado por uma gangue entre a Praça Castro Alves e a Sé, que lhe teria roubado 3.000 euros.

Duas coisas que não me desceram: a tranqüilidade com que o casal fazia o registro (poxa, se não estivessem completamente traumatizados, pelo menos tinham que estar indignados) e o fato de alguém sair com 3.000 euros por aí em Salvador.

Sei lá. Posso estar enganado. Mas se duas inglesinhas estudantes de Direito já dão o golpe do assalto no Brasil, é porque esta prática deve estar bem disseminada.

23 comentários

Estive em Natal 3 vezes diferentes. A última delas, em 2008, me deixou com um misto de indignação e decepção. A Ponta Negra, antes um lugar bacana para fazer footing e andar à toa, se tornou um lugar onde europeus vem fazer esse tipo de tursimo. Eu estava sozinho, não fui mais de uma vez ao calçadão.

Uma pena, parece que Natal está seguindo o mesmo caminho de Recife e Salvador: o eixo do turismo legal e descolado se mudando para praias mais distantes (Pipa, Tibau, e até Sao Miguel lá no Norte) e deixando na “cidade principal” um núcleo de restaurantes e lugares legais e um rastro grande de turismo sexual, prostituição e áreas degradadas ou que dão aquela sensação de estarem “caídas”.

O turismo sexual em todo nordeste é uma realidade. Fortaleza, Natal, Recife, Maceio e demais capitas sofrem com o falso turista europeu ou não, mochileiro ou não, cujo único objetivo é molestar crianças e adolescentes e fomentar o tráfico de drogas. Temos que ser rígidos.

    O turista sexual é o mais organizado de todos. Vem com reservas feitas e dinheiro vivo.

    De maneira geral, não há turista sexual nos vilarejos de praia. Eventualmente o gringo pode levar uma “namorada” para passear, mas não há oferta explícita nas praias.

    É lógico que a prostituição infantil e o tráfico de drogas têm que ser combatidos. Mas daí a mandar de volta todo gringo que não tiver reservado uma pousada em abril em Jericoacoara, convenhamos…

    Em qualquer lugar do mundo, ser visitado é motivo de alegria e orgulho. Aqui no Brasil é invasão de território. Vai entender…

    “cena patética do guardinha de Fortaleza barrando um espanhol que queria gastar seus euros em Jericoacoara”

    Antes de qualquer coisa quero dizer que gosto muito do blog, mas é lamentável sua opinião a respeito desse episódio de Fortaleza!

    Nosso princípio de reciprocidade nas relações deve ser respeitado. Se um país exige é rígido para receber brasileiros, devemos ser igualmente rígidos para recebê-los. Não vi você defendendo com a mesma vontade a aluna de mestrado que ia pra um congresso internacional barrada na Espanha, e compará-la ao espanhol que chegou aqui com 150 euros e sem passagem de volta é desrespeito.

    Sobre “julgar o cabeludo de Jeri de antemão” é obviamente necessário, já que não dá pra adivinhar as intenções de quem chega, por isso se faz alguma avaliação ao em qualquer país do mundo.

    As deportações de estudantes e turistas brasileiros no exterior TAMBÉM são patéticas.

    O cabeludo de Jeri foi deportado porque não tinha RESERVA DE POUSADA (não teve nada a ver com passagem de volta). E também porque tinha uma CÂMERA DE TV GRAVANDO e o guardinha se arvorou a ministro das relações exteriores.

    Os espanhóis estão fazendo o que os brasileiros não fazem: estão respondendo com os pés e deixando de vir ao Brasil aos milhares.

    Tá lá escrito. O sujeito não tinha reserva de pousada em Jericoacoara nem dinheiro EM ESPÉCIE para ficar três meses. Se alguém chegar no Brasil com dinheiro em espécie para passar três meses será louco. Qualquer pessoa que assistiu ao vídeo vê que o guardinha jogou pra platéia.

    Esse tipo de retaliação é populismo puro. Repito: patriotismo fora de lugar.

    Reciprocidade? Qual é a reprocidade que existe, por exemplo, na exigência de visto aos americanos? Por acaso o americano precisa ir pessoalmente a um consulado brasileiro no outro lado do país, levar a escritura de suas propriedades, comprovar um vínculo inalienável com o território americano e se submeter a uma entrevista humilhante para conseguir seu visto? Nada disso. Para o americano, o pedido de visto é apenas um perrengue burocrático (que, mesmo assim, faz com que a imensa maioria desista de vir para cá a passeio). Mas, claro, aqui ficamos todos felizes, porque somos um dos únicos do mundo a manter a “reciprocidade” (nem o Hugo Chávez “reciproca”).

    As barreiras para a entrada de turistas (formais, no caso de turistas americanos, canadenses e japoneses, e veladas, no caso dos espanhóis) são como restrições à exportação. São como um subsídio à captação de turistas por países como México, Argentina, República Dominicana e Tailândia, que é para onde perdemos os nossos visitantes.

    O turista espanhol não é o guardinha de Barajas. O turista americano não é o Bush encarnado.

    Turismo e xenofobia não combinam. Não há lugar para xenofobia neste blog.

    Eu tenho dezenas de posts prometidos e atrasados, fora as minhas outras obrigações, e não posso ficar aqui a vida inteira batendo boca com você sobre assunto. A posição pró-retaliação e anti-estrangeiros é absolutamente dominante e hegemônica na internet e no inconsciente coletivo do brasileiro. Fique à vontade para ajudar a eternizar essa opinião por aí.

    Aqui não, por favor. Obrigado.

Cometeu crime tem que ser julgado e sofrer a pena prevista na lei, nem menos, nem mais. Sem impunidade, mas também sem linchamento e preconceito.
Outro assunto turístico-midiático: o brasileiro que deu a volta ao mundo e, incrível azar, faleceu na última escala.

Eu concordo com você que o gringo que se dispõe a vir para o Brasil é um herói, mas não vamos supor que todos são honestos e bonzinhos. Tem muito gringo vindo para o Brasil atrás de turismo sexual, achando que no Brasil pode tudo .

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