Destino: Pindaíba (minha crônica no Divirta-se do Estadão)

Ilustração: Daniel Kondo

Ilustração | Daniel Kondo

Como você pode comprovar toda terça-feira no suplemento Viagem & Aventura, eu ganho a vida respondendo perguntas sobre viagem. A mais difícil delas – e, infelizmente, uma das mais comuns – é: “Quanto eu vou gastar lá?”.

A única resposta 100% exata e sincera a esta pergunta não costuma ser bem recebida: “Certamente mais do que você imagina”. Ainda bem que eu não tempo de fazer uma estimativa completa, porque nesse caso eu acabaria acrescentando: “Provavelmente mais do que você pode”.

As circunstâncias requerem que eu use o meu repertório politicamente escorregadio. Nas entrelinhas, o consulente entende que vai levar um susto, mas que logo se acostuma. Como já disse uma ex-ministra do turismo, relaxa e etcétera.

Quem já viajou três ou quatro vezes sabe que as dívidas são o único souvenir de viagem que você não precisa comprar: elas se incorporam automaticamente à bagagem da volta. De uma maneira instintiva, você passa então a melhorar a qualidade das extravagâncias. Se é para se lembrar da viagem pelos próximos seis extratos do cheque especial, que pelo menos sejam boas lembranças.

No longo prazo, os gastos de viagem não têm contra-indicação. Enquanto bens materiais começam a depreciar assim que saem da loja, as viagens vão se valorizando com o passar dos anos.

A não ser que a viagem tenha sido uma catástrofe total, sua memória vai apagar completamente os maiores perrengues, vai transformar os micos em lembranças divertidas e conceder um senhor upgrade a todos os bons momentos. Não existe viagem mais perfeita do que aquela que você fez há dez anos, não importa quanto tenha custado.

E para que servem então aqueles preços diligentemente coletados pelos colegas? Apenas para dar uma idéia de grandeza. Na vida real, nada garante que a tal Coca-Cola de 2,50 dinares se materialize na sua frente quando você precisar dela. Ou que o restaurante do prato feito de 35 quetzales esteja no seu caminho.

Aquelas caipiroskas na praia de 28 reais, porém, podem ser a diferença entre uma tarde comum e uma tarde que você lembre daqui a dez anos – quando a ressaca e o rombo já tiverem desaparecido sem deixar traço.

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74 comentários

ADOREI!!
Tô me sentindo bem mais normal agora! Já que comecei 2012 lisa pq gastei tudo que levei + o 13º salário + o cheque especial na minha última viagem pelos EUA. Mesmo assim já estou planejando as viagens de 2012 feliz da vida e trabalhando (bastante) pra pagar a conta. Hobby é Hobby ué!?

Muita gente que me conhece precisava ler este texto! Já cansei de tentar explicar que minhas viagens são muito mais importantes que um carro, que um Ipad,e tantas outras coisas que não me fariam nem 1/10 mais feliz do que elas. A gente só é feliz quando sabe priorizar as coisas, e as minhas memórias e a alegria que eu tenho quando um mundo novo se abre a cada viagem ninguém vai tirar de mim e são muito importantes para o meu sorriso. Gostei demais do texto!

    #”Muita gente que me conhece precisava ler este texto! Já cansei de tentar explicar que minhas viagens são muito mais importantes que um carro, que um Ipad,e tantas outras coisas que não me fariam nem 1/10 mais feliz do que elas. A gente só é feliz quando sabe priorizar as coisas, e as minhas memórias e a alegria que eu tenho quando um mundo novo se abre a cada viagem ninguém vai tirar de mim e são muito importantes para o meu sorriso.”
    Gostei demais da resposta, quanto ao texto … mais uma vez … Perfeito !!!!

    Assino embaixo!

    Com essa resposta já pode fechar a caixa de comentários…

Matéria perfeita, irretocável! Reflete exatamente o que acontece em todas as viagens. O que precisa ser sempre aprimorado é como equilibrar os gastos. Vale muito mais a pena comer um lanche no almoço para ter um belo jantar; trocar souveniers que certamente vão se empoeirar depois de dois meses por entradas em um show, museu, etc, e assim por diante.

Excelente texto!
Gastar é inevitável, mas a vivência e memórias que tudo isso irá proporcionar serão memoráveis! Foco no passeio/férias. Deixa as preocupações e custos pra quando voltar delas.
🙂

Comandante, nem sempre isso é verdade. No ano passado, planejei uma viagem no esquema econômico pra Europa. Foram 27 dias e reservei coisa de R$ 9 mil, sem incluir as passagens aéreas. Gastei metade do dinheiro — e pode ter certeza de que não abri mão de nada que eu estivesse afim de fazer. Incluindo passagens aéreas, gastei R$ 6 mil. Sobraram mais de R$ 4 mil para a próxima viagem.

    Lucas, vc é o meu rei… como vc fez para acontecer tal multiplicação dos peixes???

    Acho que a questão primordial aqui é: 9.000 reais é viagem em esquema econômico????? Putz, tô pobre mesmo…

Maravilhoso artigo!!! Isso vem bem a calhar ao meu atual momento e meu argumento era exatamente este: o que vale é o que fica na memória.
Não existe momento econômico ideal para uma viagem, até porque quanto mais o tempo passa, mais exigentes ficamos.

Vou indicar a leitura dessa crônica quando me fizerem a pergunta “Quanto eu vou gastar lá?” (o que, provavelmente, ocorrerá ainda hoje). Parabéns, Riq! Mais um texto leve e gostoso de ler.

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