Postal por escrito: Nova York

Times Square

20 de fevereiro de 2005. Nova York é o fecho mais perfeito para uma viagem de volta ao mundo. Ou então: Nova York é o fecho mais redundante para uma viagem de volta ao mundo. Você decide. Eu ainda não cheguei a uma conclusão, mas é possível que as duas hipóteses estejam corretas. Por que alguma coisa não pode ser perfeita e redundante ao mesmo tempo? Talvez seja o caso.

A qualquer momento, o mundo inteiro pode ser encontrado em Nova York. Tudo o que a gente não viu pelo caminho, durante a viagem, está aqui. Nova York tem os pretos que faltam à Cidade do Cabo e os latinos que dariam um outro charme a Sydney. Diferentemente de Tóquio, em Nova York você consegue achar com facilidade o endereço do mais obscuro dos restaurantes japoneses. (Porque aqui, ao contrário de Tóquio, todos os lugares têm endereço.)

Mas o que faz de Nova York a cidade-síntese do planeta é o fato de, mesmo sendo a capital do mundo rico, a cidade ter aparência, coloração, cheiro e textura de uma metrópole de Terceiro Mundo. Basta você sair das imediações do Central Park para se ver em quarteirões feios, sujos e malvados, que não destoariam da paisagem caso fossem despejados e precisassem se mudar para o centrão de São Paulo. Para o visitante desavisado é difícil compreender que lugares como o Meatpacking District e TriBeCa, que meteriam medo em Bombaim, no Cairo ou em Xangai, sejam tão badalados. Mas é justamente esse espírito que faz Nova York ser Nova York, e por isso o novo bairro da moda – perceptível, claro, apenas ao olhar treinado dos descolados profissionais – é o Lower East Side, que até anteontem era um antro de migrantes pobres e que, francamente, continua com cara de antro de migrantes pobres.

Uma das coisas que mais me divertem em Nova York é saber que a maioria das pessoas por quem eu cruzo nas calçadas mora em apartamentículos que qualquer pessoa de classe média baixa no Brasil qualificaria de insalubres. A diferença é que, enquanto na maioria dos casos a gente precisa se contentar com aquilo que tem dentro de casa, os nova-iorquinos têm a cidade mais vibrante do mundo à porta, para se esbaldar.

É sempre muito bom terminar uma viagem num lugar que você já “conhece” e curte. Em lugares assim, quaisquer dois dias já valem a pena: é como uma visita que você faz a um amigo querido ou a um parente distante. A função desse encontro é fazer com que você e a cidade não se percam de vista. Se a ausência for muito prolongada, talvez você e a cidade se estranhem lá na frente. Aparecendo de vez em quando, fica fácil para um acompanhar as mudanças do outro. A cidade vê que você engordou e ficou um pouquinho mais pobre, e tem uma oportunidade de avisar que daqui a pouco o hype vai estar no Lower East Side.

O simples fato de você não ter nenhum compromisso turístico básico – tipo subir em belvederes ou se deixar fotografar em frente a monumentos famosos – faz com que você se sinta íntimo dessa cidade. Ao passar pelos viajantes-de-primeira-viagem, aqueles de mapa na mão e câmera pendurada no pescoço, você se sente indiscutivelmente superior – por mais que até uma cidade atrás você estivesse de mapa na mão e câmera no pescoço. A verdade é que ninguém tem tanto preconceito contra turistas quanto o próprio turista.

Eu até tinha planejado explorar lugares novos em Nova York. Uma das minhas idéias era destrinchar o Brooklyn, que vem se hypando com força total nos últimos anos, e sem dúvida daria uma bela matéria. Mas o frio era tanto (mínimas de 10 negativos, máximas de zero grau, e ventando quase o tempo todo) que acabamos ficando pela “nossa” Nova York mesmo – uma cidade que começa no SoHo e vai até mais ou menos a rua 25, com uma ou outra escapadela a Midtown.

O quê? Torres Gêmeas? Não sei do que se trata. Nunca fui. Nunca reparei nelas nas vezes em que estive na cidade. Se eu não tivesse visto na TV, jamais desconfiaria de que alguma coisa anormal tivesse acontecido.

Termino aqui a republicação da blogagem (mais ou menos) ao vivo da minha volta ao mundo de 2005. Para ler sobre Cidade do Cabo, Cingapura, Sydney, Tóquio, Monte Koya, Kyoto e Takayama, clique aqui.

32 comentários

So por curiosidade, alguem aqui ja se hospedou no
Waldorf Towers, ou Waldorf Astoria para alguns?

Oi Ricardo,
adoro o seu blog. Sempre leio antes de viajar.
Estou indo para NYC em julho, chegando lá justamente no dia 04 de julho e fiquei um pouco receosa. Como é essa questão do 04 de julho, tudo fica congestionado, reforço de segurança, essas coisas chatas ou é tranquilo? Melhor mudar a data da viagem?

Abraços, Adriana

Valeu Gustavo!! Vc acha que a gente vai precisar de carro lá em Boston??

    Oi Patrícia!!
    Boston dá para fazer muita coisa de Metro e à pé, tudo depende do tempo e da localização de seu hotel.
    Acho carro sempre bom, mais em cidades grande eles às vezes atrapalham, não pegaria carro para poucos dias.
    Carro seria uma boa pra se vir de NY para Boston, com paradas em Cape Cod, e etc.
    Boa Viagem!!!

Adorei seu post… Estou indo para NY pela primeira vez no dia 08/06… Mal vejo a hora de me tornar um turista de mapa e câmera na mão na Big Apple!… uhuu!

Estive em Boston em Setembro e com certeza merece dois ou três dias. Acho que Washington também, não vejo elas como cidades para bate e volta.
Boston tem uma parte central histórica muito bonita, a região das universidades (leia-se Harvard) muito show, parte de marinas e parques ao livre muito legal, bares legais, restaurantes diversificados.
Você pode ir a Boston por trem ou Onibus. Sugiro o onibus, o trajeto é muito bonito. O onibus você pega em Chinatown por 15 dólares e em 3-4 horas você estará na estação central onibus e trem em Boston. site do bus https://www.fungwahbus.com/
Boa viagem!!

Chrystina, estou programando uma viagem para NYC em agosto/set. desse ano, e também estou pensando em fazer alguma coisa diferente…Washington é uma boa pra fazer bate e volta, mas já conheço…então pensei em conhecer Boston, mas não pra fazer bate e volta e sim pra passar uma ou duas noites lá. Também achei legal a idéia da Filadelfia…Aproveito pra perguntar se alguém conhece Boston e se vale a pena…

Oi, Riq! Tudo bem?

Estou indo para NY em maio. Vi alguém falando sobre um “citypass” aí. Essa era uma das perguntas que eu ia te fazer: há um passe para as atrações de Nova York? Assim como o fantástico “Paris Museum Pass”, tão divulgado por você? Parece que sim, né?! Mas qual a sua opinião?

A outra pergunta é se há um passe para o metrô que valha a pena.

Muito obrigado, mais uma vez!
Um abraço a todos!

Valeu Ricardo……
Ainda consegui comprar pra data que eu queria. Mas só tinha o horário das 8:00 am…….acho que sobrou esse horário pq não deve dar pra ver nada por conta de neblina…..rs.

    Oi Ricardo,

    Estou em dúvida qto ao Empire State. É o seguinte: vi que tem 2 observatórios. Um no 82º andar e outro no 102º. Achava que era somente um, no topo do prédio. Se eu entendi bem, no site do ESB, custa U$22.00 (compra antecipada – fura fila da bilheteria) e + 15.00 se quiser subir ao observatório mais alto (mas ai tem que comprar na hora). É assim mesmo? Em qual subir? O que vc sugere? Quero ir tb ao Top of the rock.

    Obrigada novamente…..Karina

    Eu só fui ao Top of the Rock. No site do ESB dá pra comprar o que você quiser.

Oi Ricardo,
Em junho ficarei 3 dias em NY (eu sei que é pouco), mas queria saber como comprar o ingresso pra subir na Estátua da Liberdade; ou se o Citypass dá direito só a ir até ela ou subir no topo tb.

Obrigada….Karina

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