Como enxugar roteiro de viagem

Como enxugar seu roteiro de viagem em 5 passos

Existe uma recomendação clássica para arrumação de mala, que parece gozação mas é 100% séria. “Ponha sobre a cama todas as roupas que você acha que vai usar – então, corte pela metade”.

Na montagem de roteiros este método também é eficaz. Por mais experiência de viagem que a gente tenha, no entusiasmo do planejamento de viagem a gente sempre exagera.

Não é só em viagem, não. Pense no seu dia a dia. Quando você precisa sair de casa, na sua própria cidade, para executar um roteiro pré-determinado qualquer, quantas vezes você não consegue dar conta de tudo o que tinha planejado? Ou leva o dobro de tempo que imaginava?

Agora transfira isso para um lugar que você não domina, e onde está sujeito a toda sorte de imprevistos. Por isso é sempre melhor pisar no freio e inventar menos paradas e menos compromissos do que a gente acha que pode cumprir.

Como enxugar seu roteiro de viagem em 5 passos

A seguir, um roteirinho para você enxugar o seu roteiro:

1 | Divida o número de dias pelo número de lugares onde você pretende dormir

Esse é o indicador mais certeiro para você saber se está exagerando ou não.

Resultado< 2

Se o resultado for menor que 2, significa que você está planejando uma maratona — na verdade, uma corrida com obstáculos. Que obstáculos? Sua mala, o carro, o avião, o trem, o próximo hotel. Mal chegou, prepare-se para partir. Se chover, se der dor de barriga, se o pneu furar — o programa estará perdido, e não haverá tempo de recuperar; tem que tocar pra próxima.

Resultado = 2

Se o resultado for igual a 2, o seu roteiro teoricamente não exige um esforço sobre-humano para ser cumprido. Se é puxado ou não, vai depender do tipo do lugar em que você está parando (para destinos mais pedaçudos, dois dias é pouco tempo) e da dificuldade de deslocamento entre os lugares. Mas pelo menos você vai conseguir respirar um pouquinho.

Resultado = 3

Se o resultado for igual a 3, o ritmo já está mais maneirinho. Ainda estará corrido se todas as cidades forem grandes demais, mas se você estiver combinando dormidas em cidades de portes diferentes, em princípio parece uma boa média.

Resultado = 5

Se o resultado for igual a 5, sua viagem será tranqüila e recheada de descobertas. Cinco é um número mágico — mesmo que você perca um dia inteiro no deslocamento, ainda terá quatro dias líquidos para curtir no lugar. (Mas obviamente este número não é pétreo; ficar cinco dias num lugar desinteressante será tedioso.)

2 | Calcule realisticamente o tempo do deslocamento

A parte mais frágil dos nossos planejamentos de roteiros está aqui. A gente pega a informação do tempo do deslocamento líquido – “São Paulo está a 45 minutos de vôo do Rio de Janeiro” – e pronto, acha que só vai gastar aquele tempo.

Na vida real, entre trânsito, antecedência para o check-in e enrolação de desembarque, não se leva menos do que 4 horas para fazer essa viagem de 45 minutos.

Com o tempo real de deslocamento calculado, fica mais fácil você identificar quais etapas da sua viagem estão corridas demais.

Acrescente 3 horas a viagens de avião

Acrescente 3 horas a qualquer viagem de avião. É uma estimativa conservadora do tempo que você vai levar em deslocamento, check-in, procedimentos de embarque e desembarque.

Acrescente 1 hora a viagens de trem ou ônibus

Acrescente 1 hora a qualquer viagem de trem ou ônibus. A não ser que você esteja sempre hospedado ao lado da estação central, a saída e a chegada sempre vão envolver algum deslocamento interno na cidade.

Não calcule o tempo pela velocidade máxima das estradas

Viagens de carro: não calcule o tempo pela velocidade máxima permitida. É ilusão achar que, só porque o limite de velocidade da auto-estrada é 130 km/h, você vai rodar efetivamente 130 km por hora.

Engarrafamentos, pedágios, paradas no posto e pequenas bobeiras sempre acontecem. E daí que aquela distância de 250 km que você contava certo em fazer em duas horas pode levar três.

Viajando por estradas secundárias o baque é ainda maior; o limite de velocidade em zonas urbanas pode cair a 40 ou 50 km/h.

De maneira geral, tire 30 km da velocidade máxima permitida na estrada, e você terá um cálculo mais realista do tempo de deslocamento.

3 | Imagine-se executando também a parte chata de cada etapa

Não basta só calcular o tempo real de deslocamento. Vale a pena projetar o gasto de energia e o eventual nível de transtorno envolvidos em cada trajeto.

Muitas vezes, para obter mais “tempo líquido” nos lugares, programamos saídas de madrugada, noites em trânsito, conexões apertadas. Um ou outro dia madrugando, tudo bem; o problema é quando isso vira a tônica da viagem.

Ponha no papel quantos dias o despertador será o seu principal companheiro de viagem; quantos dias você vai cabular o café da manhã; quantos dias você vai ter conexões apertadas; quantos dias você vai chegar antes da hora do check-in do hotel; quantos dias você vai chegar ao hotel tarde da noite (sob o risco de o hotel dar “no-show”).

Procure restringir esse stress ao mínimo. Se necessário, corte paradas.

4 | Para que mesmo você está parando em cada um desses lugares?

Fico assustado como muita gente programa suas viagens e só depois vai descobrir o que existe para ver ou fazer em cada lugar. É o contrário!

A contabilidade é uma força nociva no planejamento de uma viagem. Parece que quanto mais lugares a gente visitar, mais a gente vai aproveitar a viagem ou rentabilizar o investimento. Mas basta voltar aos itens “2” e “3” para ver como isso é ilusório. Fazer check-in só é gostoso no FourSquare, na vida real é um pé no saco.

Muitos roteiros redondinhos acabam estragados por causa da Síndrome de Já-Que. Você sabe: já que eu estou aqui, não custa esticar até ali… Só que custa. Custa tempo, custa dinheiro, custa não conseguir visitar direito nem um lugar, nem o outro.

Sem falar naqueles desvios monumentais que a gente faz só pra poder cruzar uma fronteira e dizer que “conheceu” um outro país. É o que eu chamo de Síndrome de Bruges. (Quando está no seu caminho, Bruges é uma cidade lindinha de ver. Mas fazer os desvios que as pessoas fazem vindas da Inglaterra, da Alemanha, da Suíça!, só pra passar em Bruges, é um exagero.)

Se o seu roteiro está muito corrido, comece eliminando pernoites nas cidades que você não sabe exatamente por que está visitando; as cidades que entraram só porque estão perto de outras; e as que só estão para aumentar a contabilidade de lugares ou países que você vai “conhecer” numa viagem só. Você vai aproveitar muito mais se resolver dedicar mais tempo aos lugares que têm realmente vontade de visitar.

5 | Elimine as redundâncias

Esta é talvez a sintonia fina mais difícil de fazer, mesmo para os viajantes mais experientes. Temos a tendência de tentar “esgotar” um assunto, um território, visitando tudo o que for possível, com receio de perder algo muito importante.

Na prática, o que acabamos fazendo é incluir “mais do mesmo”, numa repetição que só interessaria a estudiosos (ou cartógrafos, ou guieiros).

Assim, em vez de pegar uma bela praia como se deve, perdemos o dia zanzando de praia em praia sem aproveitar nenhuma. Em vez de usar a experiência de quem foi e escolher vilarejos representativos de uma região, resolvemos que temos que bater ponto em todos.

O objetivo de uma viagem não é demarcar território, ticar uma lista de obrigações ou esquadrinhar uma região para o Google Earth.

O objetivo de uma viagem é criar uma sequência de dias gostosos e memoráveis, em que você vai ver ao vivo velhos conhecidos dos livros (ou das telas), vai fazer descobertas próprias, vai se divertir e vai para a cama à noite com a sensação de estar de férias, e não de ter cumprido compromissos de trabalho.

Enxugue esse roteiro: você vai me agradecer.

232 comentários

Olá. Estou amando as dicas do seu site, já li vários posts!!

Estou morando atualmente em Doha no Qatar e antes de vir pra cá minha única experiência no exterior foi uma viagem ao Chile que planejei com a ajuda daqueles livrinho Guia da Folha de SP.

Eu e meu marido estamos pensando em fazer nossa primeira viagem a Europa com o seguinte roteiro:

Frankfurt – Pois todos os vôos que saem daqui tem para obrigatória. 2 dias.

Paris – 7 dias

Londres – 5 dias.

Você acha que dá? Estamos pensando fazer o percurso Paris- Londres no Eurostar.

    Olá, Thais! Se for pegar o vôo de volta em Frankfurt, esteja lá na véspera. O vôo é charter? Ou Condor? Entre Paris e Londres, vá de trem sim.

Opa tudo bem!

Vamos la.

Eu pretendo fazer Sao Paulo, Lisboa, Madri, Paris e Londres em 15 dias no mês de abril de 2014. Vou fazer minhas conexcoes entres as cidade por aviao, de Paris para Londres talvez faço de trem. Vou comprar as passagens tudo pela internet. nunca aconteceu problema comigo por compra na itnernet.

Eu vou ficar 5 dias em lisboa e regiao (aproveita visitar um amigo), 2 dias em Madri, 1 dia e meio em Paris e 3 dias em Londres.

Eu não contei os dias de conexçao, no final pelo planejamento sera uma viajem de 15 dias.
talvez posso conseguir 17 dias de viajem..
Tenho alguns hostels e hoteis ja em vista

Só queria dizer que ficamos 10 dias em Paris e foi ótimo! Só saímos para ir em Versailles 1 dia, os outros 9 dias ficamos em Paris mesmo e pudemos curtir muito a cidade. E ela merece esse tempo! Abraço!

Olá,
Admito, fiz a besteira: com milhas vencendo, comprei as passagens para Europa antes de fechar todo o roteiro… questões pessoais me impediram de planejar corretamente a data de retorno e agora sinto que tenho um roteiro mal acabado…
O plano era Italia – Londres – Paris em 20 dias líquidos (fora os 2 de chegada e volta). Paris seria apenas alguns dias de fim de viagem, já que conheço a cidade e a divisão ficou assim:
Veneza – 2 dias
Florença – 4,5 dias, com bate-volta para Pisa/Lucca e Siena/San Gigminiano; chegada de trem pela manhã e saída de trem à noite
Roma – 5 dias
Londres – 5 dias (com um dia totalmente “perdido” na chegada de Roma e outro parcialmente prejudicado pela saída de Eurostar para Paris à noite)
Paris – 3 dias
Lendo seus artigos, me parece que fica muito corrido. Pensei em tirar Londres do roteiro (com dor no coração), mas aí o roteiro parece ficar com folga: pensei em colocar dois dias a mais na Italia e dois dias a mais em Paris, mas tenho a impressão que o tempo em Roma e Toscana estão de bom tamanho e parece que uma semana em Paris seria demais (Paris é infindável, eu sei, mas o impeto desta viagem seria conhecer novos lugares, sem abrir mão de uma parada por lá, coisa que pretendo fazer sempre que estiver na Europa)
O que acham? Com Londres o roteiro é muito sobre-humano? Com ela chegou no mítico quociente de 2 dias por cidade…

    Olá, Rogerio! Tecnicamente a gente recomenda você escolher entre Paris e Londres e dedicar uma semana à escolhida. Pense nessa viagem como “O principal da Itália” + Londres ou “O principal da Itália” + Paris. Combine a que ficar de fora com alguma outra parte da Europa na próxima viagem.

    Eu fiquei 3 dias em Veneza e 7 em Florença. Visitando também, Arezzo/Cortona e Cinque Terre que é longe pacas mas é um espetáculo. Tem Verona também , Vicenza, Lago Magiore, ( mas esses não dá para visitar de Florença). Dia nunca sobra na Itália.

Valeu boia, mas na sua opinião valeria a pena tirar um dia de Bariloche e acrescentar em Buenos Aires, Punta ou Santiago?

    Olá, Ramon! Repetindo, acho muito improvável que você realmente leve esse roteiro adiante.

    Além de ser caríssimo, você perderá um dia de deslocamento entre a maioria dos lugares, o que reduzirá a conta de dias efetivamente úteis em cada um. Vai passar batido por Puerto Varas. Vai passar por Punta del Este numa época em que a cidade está parada.

    Recomendo que você leia os posts que eu indiquei e pense numa viagem geograficamente mais limitada e, portanto, mais proveitosa e menos cara.

Olá.

24/6= 4 será que isso é um bom numero?

Roteiro:

Montevideo:05/11 a 08/11.

Punta del Leste:08/11 a 11/11.

Buenos Aires:11/11 a 15/11.

Bariloche:16/11 a 20/11.

Pucon:20/11 a 23/11.

Santiago: 24/11 a 28/11.

O que acha boia meu roteiro ta muito puxado?

Boa noite,

Apesar de concordar que comprar as passagens não é a primeira coisa a se fazer. Achei uma promoção realmente tentadora. Aquela da Ibéria ida e volta para Roma por R$800,00 com taxas e tudo mais. Marquei a viagem para mim e minha noiva de 01/05 a 17/05 de 2014. E agora estamos naquela fase definir o roteiro. A principio seria esse (Já sofreu e irá sofrer ainda mtas alterações hehehe):

02/05 – Roma – Amsterdam
03/05 Amsterdam
04/05 Amsterdam
05/05 Amsterdam – Paris (trem)
06/05 Paris
07/05 Paris
08/05 Paris
09/05 Paris – Barcelona (avião??? trem noturno??? carro???)
10/05 Barcelona
11/05 Barcelona
12/05 Barcelona
13/05 Barcelona – Roma (avião?? carro sul da França??? enforcando os dias em Roma)
14/05 Roma
15/05 Roma
16/05 Roma
17/05 Roma – Sp

OBS:
1 – Nos dias de deslocamentos, pretendo faze-los pela manhã, descansar o resto da tarde que sobrar e aproveitar algo da noite da cidade.
2 – Já li todos os tópicos do blog sobre este tema hehehe, conheço a maioria das recomendações e tento utiliza-las a todo tempo, porém pode ter falhas.
3 – Não somos muito de curtir pontos turísticos tradicionais, preferimos conhecer a cultura e a vida da cidade em si.
4 – Até agora, exceto o trecho ams-paris que será de trem, os deslocamentos internos que mais valem a pena são os aéreos. Consegui orçar por todos por R$ 1,100 para duas pessoas, voando Alitalia e Air-france podendo ser comprados direto nos sites do brasil das cias áreas e ate parcelar. Estes são realmente os mais indicados para o meu caso???
5 – Minha esposa tem fixa na cabeça uma idéia de fazer esta viagem toda de carro, que deu aproximadamente 4 mil km em 15 dias… na minha melhor previsão são pelo menos 5 dias de carro para todos esses deslocamentos. eu acho totalmente inviável.
6 – Munique também está nos planos, mas foi cortada, (por mim cortaria mais uma). Caso o roteiro mude e ela se adapte bem a ele. pode ser que volte aos planos.

Agora minha duvida.
Para agradar a todos, vcs teriam alguma sugestão, em como adaptar esse roteiro com alguma parte dele de carro, na França talvez??? Ou algum outro roteiro que possa ser feito de carro envolvendo essas cidades, ou algumas delas pelo menos???

Caso algo estivesse errado, ou alguma cidade que deva ser cortada, sugestões são sempre bem vindas.

desculpe o comentário extenso.

att.
Caio

    Caio,
    Se fosse meu roteiro, diminuiria um dia em Barcelona e aumentaria um dia em Paris. Pelo seu roteiro, vc ficaria 3 dias inteiros em Paris, sendo que no outro dia seria deslocamento para Barcelona. 3 dias em Paris é pouquíssimo tempo, mesmo para aquelas pessoas que não pretendem visitar os cartões-postais. Na minha primeira vez à Europa acabei ficando 9 dias em Paris, e assim mesmo vim embora achando que foi pouco.
    Também acho que ir de carro de um país para outro não rola. Se vcs querem muito alugar carro, poderiam excluir uma das cidades do roteiro e fazer a região dos castelos, na França, de carro.

Um dos melhores textos de viagens que já li!
Eu estava muito precisando ler essas dicas! Meu roteiro estava enorme e cheio de locais desnecessários…
Obrigada por isso!

Boa tarde,

Vamos fazer uma viagem para conhecer Milão, Zurich, Praga e Marseille. Por onde deveriamos começar e qual a melhor forma de viajar para esses lugares como meio de transporte?

Obrigada!!!!

    Olá, Fernanda! Geograficamente a melhor ordem é voar do Brasil a Praga, de lá a Zurique, ir de trem a Milão e de avião a Marselha, voltando ao Brasil de Marselha.

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