Trombose no avião

“Tive trombose e estou pondo a boca no trombone”: o depoimento da Marcie

Trombose no avião

Todo mundo que viaja de avião corre o risco de desenvolver uma trombose. A querida Marcie Grynblat Pellicano, sócia remida aqui do blog e dona do Abrindo o Bico, é uma vítima recente. E conta como fazer para que você não seja a próxima. Obrigado, Marcie! (E gracias pela foto, Natalie!) [Riq]

Texto: Marcie Grynblat Pellicano

Como sabem as pessoas que me conhecem, costumo voar com certa regularidade: viagens de curta, média e longa duração. Um pulinho até Toronto. Um pulo até Paris. Um pulão até Tóquio. E por aí afora. Mas felizmente nunca tive nenhum problema, além de uma sonolência prolongada nos voos de leste a oeste. Conto isso porque no meu último voo, de Nova York pra São Paulo, tudo mudou. E como eu era ignorante do problema, escrevo estas mal traçadas linhas para evitar que você também o seja.

O fato é que cheguei a São Paulo com a perna esquerda inchada e a pele em technicolor (êpa, entreguei a idade!). Atenção para o detalhe (coisa que é muito importante): uma perna só! O que fiz diante disso? Ignorei solenemente e continuei a vida. Dirigi, andei a pé, passei calor, fiz meus exercícios, certamente consumi sal em excesso, etc, etc.

Sinais de trombose:

  • Dor na perna
  • Pele avermelhada, azulada ou pálida
  • Panturrilha inchada
  • Veias dilatadas

E aí voltei pra Nova York, somando ao meu problema (até o momento desconhecido) mais 9 horas de voo. No dia seguinte, numa consulta de rotina e quando já deixava o consultório, fiz menção à perna em technicolor. Uma perna só?!!, perguntou/exclamou a médica. Foi como se eu tivesse acionado o alarme de incêndio… Armou-se um pampeiro na clínica e só faltou me internarem! Fato é que logo depois lá estava eu diante de um especialista em DVT (Deep Vein Thrombosis).

O mesmo que, uma semana depois, reencontrei num mesa de cirurgia. Com direito a anestesia geral e três horas de procedimentos. Uma sonda navegou minha veia safena da barriga da perna até a virilha e na viagem de volta retirou o coágulo. Terminou? Não: numa nova incursão, a mesma sonda instalou um stent ou endoprótese na altura do abdome. Com isso, juntei-me às 900.000 pessoas/ano que são vítimas do mesmo problema aqui nos Estados Unidos. Novecentas mil pessoas, cem mil das quais não sobrevivem à experiência.

O mal, que já foi chamado de Síndrome da Classe Econômica, na verdade tem mais a ver com o tempo de voo do que com o preço do bilhete. Mais exatamente, tempo de voo e o que você costuma fazer entre a decolagem e o pouso. Se você é dos que só se levantam quando a bexiga obriga (até rimou).. pode começar a mudar seus hábitos. Como dizia uma antiga campanha de publicidade: Mexa-se!. Estique as pernas e flexione os pés. Abrace e “desabrace” os joelhos repetidas vezes. Melhor ainda, desconsidere o olhar fulminante das simpáticas comissárias de bordo e faça passeios pelo corredor.

Diminua o risco de trombose

Em viagens de avião:

  • Estique as pernas
  • Flexione os pés
  • Abrace e ‘desabrace’ os joelhos repetidas vezes
  • Faça passeios pelo corredor

Escrevo este texto ainda em convalescença. Além do anticoagulante que é forever!, uma caminhada de manhã, outra caminhada à tarde. Televisão com intervalos regulares (nada de binge watching!). Melhorando aos poucos para de novo colocar o pé na estrada. A recomendação médica é esperar quatro semanas. Mas se há uma coisa que nessa situação o tempo não faz, é voar…

Claro que preferia não ter tido motivo para escrever este post. Mas, já que aconteceu, fica aqui o registro de minha experiência. Se ela puder abrir os olhos de quem venha a ler este texto, fico mais do que satisfeita. A pior maneira de enfrentar um problema é ignorar que ele exista. Como eu vinha fazendo até agora…

Visite o Abrindo o Bico para saber das últimas de Nova York.

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81 comentários

Vixe Marcie, que bom que deu tudo certo! Se com uma viajante experimentada como você aconteceu, imagine com a gente, que viaja nas férias e olhe lá.

Também era ignorante no assunto até ler uma reportagem sobre a síndrome do vôo econômico. Depois tive conhecimento de duas pessoas próximas que morreram com trombose após voos longos. Sempre em qq viagem, mesmo de carro, faço movimentos nos pés, em aviões caminho a cada 2 horas intercalado com movimentos nos pés e alongamento. Tbm acho que no momento das normas de segurança deveria ser informado a necessidade das pessoas se movimentarem em um voo longo. Obrigada por compartilhar sua experiência. Muita saúde pra vc!

Vou fazer uma viagem para Grécia daqui um mês . Uma parte de avião e outra de navio . Como devo proceder para evitar transtornos durante tantas horas de vôo?

    Olá, Sonia! Há dicas no próprio texto, num box em cor amarela para ficar bem destacado. Você também pode ler os comentários anteriores, há muitos depoimentos e recomendações.

Uma das minhas melhores amigas faleceu de embolia pulmonar, aos 29 anos, 3 dias após um vôo retornando da Alemanha. Ignorou os sintomas e levou a vida normalmente. O assunto é muito sério e o risco de morte é real. Descobrimos depois que ela estava grávida e a gravidez eleva (e muito) o risco de trombose e embolia. Fica o alerta a todos. Eu costumava ficar horas parada quando viajava: dormindo, lendo, vendo filmes, etc. Depois dessa tragédia, passei a fazer alongamentos e levantar a cada duas horas para caminhar, além de tentar movimentar as pernas a cada 15-20min. Quem já tem algum problema de circulação é importante consultar um médico e avaliar a possibilidade de tomar uma injeção preventiva antes de um vôo muito longo.

Há 2 anos atrás meu pai teve uma trombose que evoluiu para uma embolia pulmonar. Depois disso, utilizo as meias de compressão, faço caminhadas regulares no avião a cada hora e meia/duas horas. O último vôo para a Rússia foram 36h de viagem e graças a Deus, tudo certo. Não deixem de se movimentar e levantem-se da poltrona regularmente. Só o exercício sentado não é suficiente.

Foi bom eu ler esse artigo porque sou dessas que nem bebe água para não ter que se levantar para ir ao banheiro. Vou ajudar alertar outros como eu. Obrigada por compartilhar sua experiência!

Eu já me cuido há um tempo porque minhas pernas inchavam muito. Daí conversei com minha médica vascular. Ela orientou a usar meias de compressão e levantar e fazer exercícios- 3 séries de 15 (em pé levanta o calcanhar e desce, levanta e desce). A sensação é de queimação na panturrilha, sinal de que o sangue está bombando ali. Eu prefiro fazer voos longos de dia pq daí estando acordada cuido mais do alongamento (braços e mãos tb são importantes alongar).

Nossa, Marcie! 😨
Que susto! Mas que bom que, apesar de todos os pesares, terminou tudo bem! Graças a Deus! 🙏
Parabéns pelo relato e que você tenha uma ótima recuperação.
Fique bem 😘

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