A primeira viagem à Europa

Ponte Carlos, Praga

Se você vai aproveitar o real valorizado para realizar o sonho de viajar à Europa, entenda: não dá para abraçar o continente inteiro de uma vez só. Mas veja pelo outro lado: a Europa é como os melhores vinhos – vai melhorando com o tempo. Se você só pode viajar à Europa de dez em dez anos, saiba que daqui a uma década aquele pedaço que você não conseguir visitar agora vai estar ainda mais interessante.

Não tente fazer por conta própria o roteiro das excursões.
Nas excursões dá certo porque existe um ônibus sempre a postos, um motorista que sabe por onde está rodando e um guia que leva direto ao que ele acha mais importante. Na vida real você vai precisar fazer tudo sozinho – achar o endereço do hotel, andar de metrô arrastando mala e decidir o que fazer a cada momento. É muito mais divertido, mas leva muito mais tempo. Evite o pinga-pinga, parando em todas as cidades que se atravessarem no seu caminho. Procure dedicar pelo menos quatro dias inteiros para cada grande capital do seu roteiro. (Senão, deixe para a próxima.)

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Não compre a passagem antes de resolver o itinerário.
É incrível, mas isso acontece com mais freqüência do que se imagina. O passageiro compra a passagem mais barata e depois é que vai tentar descobrir um jeito de cobrir o resto do roteiro. As viagens mais complicadas – como costumam ser as primeiras viagens – normalmente são melhor resolvidas quando você chega por uma cidade e volta por outra (e faz vários trechos aéreos internos que, quando comprados junto com a passagem intercontinental, podem sair mais em conta do que viajando de trem ou com companhias aéreas de desconto).

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Trem não foi feito para dormir.
Passar uma noite no trem é uma bela experiência: não é lá muito confortável, mas rende ótimas histórias na volta e, vá lá, economiza uma noite de hotel. Fazer disso uma rotina, porém, é uma das maneiras de estragar a sua viagem. (Se é para dormir em beliche em meio a desconhecidos, prefira o albergue.) O trem é perfeito – e insuperável – em trajetos diurnos de até três ou quatro horas. Mais do que isso, considere o avião.

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Carro? Só em viagens pelo interior.
Mesmo depois da invenção do GPS, o carro continua não combinando com viagens longas pela Europa. Nas cidades grandes, carro é um estorvo: o trânsito é complicado, o estacionamento é difícil e caríssimo. As auto-estradas são ótimas, mas passam ao largo das paisagens mais bonitas e dos vilarejos mais pitorescos. Só alugue carro para explorar regiões delimitadas, com estradas vicinais, mirantes e paradas gastronômicas.

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Reservar antes sempre é melhor.
Viajar sem rumo definido e sem hospedagem reservada é para quem tem tempo sobrando. Se você vai passar quinze, vinte ou trinta dias na Europa, não vale a pena perder meio dia toda vez que chegar a uma cidade. Faça suas reservas antes de sair: quanto maior a antecedência, melhores serão os hotéis que você conseguirá na faixa de preço que procura.

A Europa está nos detalhes.
Europa não é só igreja e monumento. Em vez de dar tanta importância aos cartões-postais que você não verá ao vivo na sua primeira viagem, dedique-se a viver os aspectos que são comuns a todas as cidades européias. Andar a pé e de transporte público; xeretar o pequeno comércio; sentar num café e ver a vida passar; comer coisas simples, feitas do mesmo jeito há séculos, são prazeres imbatíveis, que só se encontram no continente europeu. Não gaste seu dinheiro indo até a Europa só para ver. Use também os outros quatro sentidos, e você vai aproveitar muito mais.

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A primeira viagem à Europa (II)

Pensando bem, a menos que você volte sempre para os mesmos lugares, toda viagem à Europa é uma primeira viagem. Cada vez que planejamos férias por lá, as mesmas dúvidas vêm à baila. Que cidades incluir e quais deixar de fora? Quantos dias em cada lugar? Avião, trem ou carro? O assunto rende um livro. Mas aqui vão algumas dicas para ajudar a montar o seu itinerário.

Procure reduzir o pinga-pinga.
Por mais cidades que você queira incluir no seu roteiro, evite dormir uma noite em cada lugar. Os procedimentos para entrar e sair de hotéis tomam tempo; carregar bagagem exaure a paciência. Eleja cidades-base de onde você possa fazer pequenas viagens bate-e-volta sem precisar carregar as malas o tempo todo. Numa primeira viagem de 15 ou 20 dias, o ideal é escolher três ou quatro cidades principais. Você vai se surpreender com a quantidade de lugares interessantes que você vai encontrar a até 1h30 de trem de distância.

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Simule os horários e os tempos de viagem de trem.
As melhores viagens de trem são as que duram até três, no máximo quatro horas, e não tomam a melhor parte do seu dia de férias. Para descobrir como o seu roteiro se comporta nos trilhos, simule suas viagens no site das ferrovias alemãs (https://bahn.hafas.de/bin/query.exe/en). Mas atenção para a pegadinha: use o nome das cidades nos idiomas locais (Venezia e não Veneza, Wien em vez de Viena). Assim você fica sabendo que a viagem mais curta entre Barcelona e Roma dura 18 horas, mas que de Viena a Budapeste são apenas 3 horas.

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Descubra as companhias aéreas low-cost da sua rota.
As Gol e as BRA da Europa são muito mais barateiras que suas congêneres brazucas. Comprando com antecedência, você consegue passagens de até 10 euros (com taxas, a conta costuma começar em 40 euros). Para saber quais companhias operam vôos no seu caminho, consulte o Skyscanner (www.skyscanner.net), que informa (em português!) rotas, disponibilidade e preços, já com todas as taxas incluídas.

Escolha seus hotéis com base na opinião de outros viajantes.
Qual o melhor hotel, na faixa de preço que você pode pagar, que esteja disponível nas datas em que você precisa? Sites como o TripAdvisor (www.tripadvisor.com) e Venere (www.venere.com) buscam essa informação baseados na experiência de hóspedes de verdade. Para a Europa, o melhor é o Venere, que organiza as resenhas por bairros: em vez de pesquisar a cidade inteira, você vai direto na localização que mais lhe interessa.

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Quanto mais países, melhor?
Não adianta: para a maioria dos viajantes, a primeira viagem a Europa é sinônimo de passar pelo máximo de países no mínimo de tempo. Se esse for o seu caso, deixe as grandes distâncias da Península Ibérica, do sul da França e talvez até da Itália para uma próxima; se você zanzar ali pelo norte da França, Bélgica, Holanda, Alemanha e Inglaterra, a cada três horas vai estar num país diferente, ouvindo um novo idioma. (Em contrapartida, se você quer saber qual é o melhor lugar da Europa para fazer uma viagem de um país só, a resposta é fácil: Itália.)

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Se você já foi à Europa, encerre a viagem na sua cidade favorita.
Gostoso mesmo é poder voltar a lugares como Paris, Londres, Roma ou Barcelona sem precisar bater ponto em absolutamente nenhum cartão-postal. Termine seus giros europeus sempre no mesmo lugar, e em três viagens você e sua cidade favorita estarão íntimos.

Leia também:

Europa: quantos dias em cada lugar?

Europa: avião, trem ou carro?


1049 comentários

Eu não sou contra nada ( mesmo sendo do-contra)
Só quero entender.

Aos capricornianos: será que é isso mesmo? Meu pai tb era, e era o maluco do “treino para ir ao aeroporto numa cidade estranha”. Como a gente SEMPRE estava de carro, esse era o mico master que pagávamos…Fora a antecedência para chegar ao aeroporto. Ele dizia que para ficar esperando para sair em casa, ficava esperando no aeroporto, sossegado (aliás, outro tema de enquete: com quanto tempo de antecedência vc chega ao aeroporto?).

Eu nunca fiz e não gostei de execursão. Podem me tachar de preconceituosa, e sou um pouco mesmo. Eu acho que a graça está em descobrir as coisas. O imponderável é parte da rotina de um viajante. Acho que de repente na Asia, Africa, se justifique. Mas essa coisa de fazer tudo grudado com um monte de gente nunca foi comigo…
Faço uma exceção: excursões onde vc vai fazer trilha, bem direcionadas – Aí é divertido e, por causa das coisas em comum, a excursão deve fluir mais.
Deixa eu sair desse blog do demônio e trabalhar!!!

Eu também não sou contra, não gosto pra mim, e entendo que em determinados casos é até aconselhável (primeira viagem, não falar uma outra língua, muitos deslocamentos, viagem em solitário, pessoas de idade, etc…). Não quis ser preconceituoso e, se passei essa idéia, me desculpe, Zé.

Beto e Sylvia — agora que eu vi os comentários de vocês. Eu não gosto de excursão, mas não sou contra, não
😆
Acho até que muitas das viagens que nos pedem pra destrinchar aqui são melhor feitas de excursão do que por conta própria. No final essa viagem do Zé ficou interessante — ele vai experimentar, numa viagem só, o que é ficar um tempão numa cidade, fazer parte de uma excursão e viajar por conta própria… (eu nunca tinha pensado nesse tipo de “buffet”, ha ha).

Zé Carlos, seu roteiro é bem factível, você vai se divertir.

Algumas observações:

1 – 12 horas de conexão em Nova YOrk justificam uma chegadinha na cidade, sim. Eu não tenho esse fetiche pela Estátua da Liberdade (nunca fui, nem sei direito como se vai!), mas se você está a fim, acho que dá tempo, sim.

2 – Você não vai ter tempo de “conhecer” muito da Inglaterra no seu meio-período livre do curso de Londres, não. Nem se preocupe muito com isso. Faça um ou outro bate-e-volta — a Bath, por exemplo — mas aproveite essa semana parado numa cidade sensacional como Londres para ter uma experiência bem diferente do resto da viagem. Você vai ter a oportunidade única de ficar íntimo de Londres. Compre a revista Time Out da semana e vá atrás de tudo o que a cidade tem a oferecer.

3 – Entre a Itália e Barcelona, vá de avião, para não passar quase um dia na estrada. A Vueling voa de Milão a Barcelona desde 40 euros. https://www.vueling.com

Ricardo, eu não detalhei, mas fiz alterações aumentando Londres! Estarei lá por 4 dias completos!

A questão é que minha esposa já foi uma vez à Europa e estamos privilegiando lugares que ela não conheceu, como, por exemplo, Bruges! Lá é um dos poucos lugares em que ela faz questão de ir! 🙂

Valeu pela dica.

Jose Carlos:
A tripulação aqui está tentando entender o por que da
viagem organizada no meio da tua aventura já que vais
fazer o resto tudo por tua conta.

Ih! Falar em excursão, cvc, provoca brotoejas na tripulação Eu já tô me coçando…

Prezado Igor, 100% dos comentaristas que se manifestaram sobre o seu caso disseram que dividir esses quatro dias entre Bruges e Londres é uma roubada.

Uma roubada que vai te custar 180 euros de trem, pelo que você orçou, ou viagens a aeroportos distantes do centro, que vão te custar horas preciosas de que você não dispõe num itinerário tão apertado.

Não vou te recomendar nem uma coisa, nem outra. Vá de Paris a Londres. Deixe a Bélgica para uma próxima. Temos informações científicas, coletadas junto a fontes abalizadas, dando conta de que dificilmente a Bélgica vai sair do lugar na próxima década.

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