Entre Ushuaia e Punta Arenas, pelos fiordes da Patagônia

Geleira Piloto

A primeira parte desta expedição a Argentina e Chile não poderia ter sido mais adequada ao meu perfil de viajante. (Relembrando: não tenho vocação para caminhar no frio – sou da praia – e durante minha estada por essas bandas estou à procura dos passeios que ofereçam a melhor relação esforço x benefício. Quero as paisagens mais bonitas que possam ser avistadas sem que eu precise me transformar num trekkista sério.)

Pelo canal de Beagle

Durante os sete dias a bordo do Via Australis, indo e voltando entre Ushuaia, na Argentina, e Punta Arenas, no Chile, naveguei ao longo de montanhas altas com cumes nevados; fiquei tête-à-tête com geleiras belíssimas; vi de perto pingüins-de-magalhães, elefantes-marinhos, cormorões e mais aves do que sou capaz de registrar. As excursões a terra firme foram curtas, objetivas e organizadas com precisão cirúrgica.

Na Avenida das Geleiras

Chegava a ser divertido me paramentar para as descidas (botas de trekking; meias grossas; ceroulão; calça de nylon; camiseta de manga comprida; suéter; parka de nylon; luvas impermeáveis; gorro; colete salva-vidas), sabendo que dali a uma hora e meia, duas horas no máximo, estaria novamente à paisana, de banho tomado, sentado confortavelmente numa poltrona de couro, apreciando o fiorde pelas janelas panorâmicas dos salões da popa ou da proa, a bordo de um cabernet sauvignon chileno ou de um bloody-mary preparado com Stolichnaya. Aceita uma Pringle’s?

No porto de Ushuaia

O navio é pequeno, de modo a permitir a navegação pelos braços mais rasos do emaranhado de fiordes sem saída perdidos entre o Canal de Beagle e o Estreito de Magalhães,no arquipélago da Terra do Fogo. São no máximo 140 passageiros, que viajam sob um clima de total informalidade. Trata-se de um “crucero de expedición” que consegue misturar com sucesso excursões em bote salva-vidas com open bar. As horas de navegação são preenchidas com ótimas palestras – ministradas simultaneamente em inglês e espanhol, em salões diferentes – relacionadas ao que vamos ver em seguida: as andanças de Darwin pela Patagônia; glaciologia e aquecimento global; aves patagônicas; a vida dos pingüins.

Darwin na Patagônia

As instalações são confortáveis e, o melhor de tudo, discretas; o navio parece mais um grande iate do que um micronavio de cruzeirão. O banheiro não é minúsculo, e as cabines são arrumadas duas vezes por dia (e aspiradas todas as manhãs). Enquanto está nos canais e fiordes o navio não balança nada; em compensação, é impossível não perceber quando está passando por trechos de águas desprotegidas (o único trecho realmente longo de mar aberto é no caminho do Cabo Horn).

A cabine no Via Australis

Há apenas um restaurante, onde são servidos café da manhã e almoço em sistema de buffet e jantar à la carte (entrada, sopa, um prato principal à escolha entre duas opções, e sobremesa). Os buffets são excelentes; à noite, normalmente eu gostei mais das entradas do que do prato principal. Todas as bebidas estão incluídas; durante o jantar é servido vinho ou cerveja, e o bar também tem destilados, espumante e licores, acompanhados por salgadinhos e azeitonas.

Entradita: centolla
Côngrio: prato principal
Malditas sobremesas irresistíveis

A equipe é afinada, prestativa e supersimpática. Os guias são biólogos chilenos, fluentes em várias línguas, que se revezam nas palestras e recheiam as expedições de informações pertinentes.

Programación en portugués!

Na hora de descer os passageiros são divididos em grupos (de acordo com os idiomas) e fazem percursos diferentes, de maneira a nunca superlotar um único ponto do local visitado. É tudo muito, muito bem feito: a operação é azeitadíssima, sem lugar para o improviso.

Geleira Pía

Somente uma ínfima minoria dos passageiros faz o circuito integral. Normalmente escolhe-se um dos percursos: três noites (dois dias) entre Ushuaia e Punta Arenas, ou quatro noites (três dias) entre Punta Arenas e Ushuaia. Os dois trajetos, porém, só apresentam duas paradas coincidentes (concentradas num único dia em cada perna). Como embarquei a convite, pude me dar ao luxo de fazer o cruzeiro completo e, assim, comparar a ida e a volta. Leia o relato da viagem, confira as fotos e veja se você concorda com o meu veredicto.

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    Vista do mirante da geleira Pía
    Perto da geleira Pía
    A caminho da geleira Pía

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    113 comentários

    😆 Li os posts de baixo pra cima e só no fim percebi que foram postados na ordem cronológica dos acontecimentos. O meu problema com o frio é que detesto sair da cama. Numa cabine como a que você mostrou, com aquela janelaça, ia ficar pior. Bela viagem. Abraços pra ti e pro Nick.

    Riq

    Qual o preço do cruzeiro?

    Por se falar em $$$$ evite ao maximo acessar a intenret via modem do celular, que custa uma fortuna. Eu tive uma cliene que fez uma curta viagem para a Espanha, de 3 semanas, e a TIM mandou uma conta de R$ 42.000,00 ( o valor está certo, não tem zero sobrando, não), e isto só pelo uso da internet. Fica o aviso para todos…

      Os preços estão no último post da série (“de onde pra onde?”).

      Ontem, preso no navio, mas vendo as luzes de Ushuaia ao longe, configurei o celular para roaming de internet e acessei umas três ou quatro vezes. Vamos ver quanto vai ser a conta… (já reverti para o não-roaming, claro).

    Oi Ricardo, acabo de chegar de Perito Moreno/El Calafate, IMPERDIVEL!!!
    Espero que estejam bem… Valeu conhecê-los!! Bjs Ana Paula-SP

    Eu iria fazer esse cruzeiro esse ano, mas eles não fazem no período do inverno, né? E acho que também temos que reservar com muita antecedência, certo? Aguardo mais dicas, obrigado

      Setembro a abril. Todas as dicas estão nessa série de quatro posts. Os links dos outros três estão ao final do texto.

    Eu não tinha a menor idéia de como era bonita essa região. Taí uma novidade pra mim !!! Amei as fotAs.

    Começo hoje a engordar o porquinho pra fazer a viagem dia e volta também! Se há um deus, que ele não permita que eu morra antes!

    Riq, os trekkings são nivelados por dificuldade? Quem quer ficar mais tempo, tem como? Ou são todos meio q no mesmo nível?

    Ah, e desculpa a piada, irresistível qdo li… é o cruzeiro twitter: só cabe 140. 😀

      Hahahaha!

      As expedições são todas facinhas. De vez em quando tem uma subida. Numa das paradas você pode escolher entre uma caminhada no plano e outra montanha acima. Mas é tudo café-com-leite, nem dá pra caracterizar como “atividade” propriamente, não…

      E não dá pra ficar mais do que o tempo contado, não, porque o navio logo zarpa pra próxima. É tudo cronometrado (e suuuuuuper organizado).

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