Depois de um susto no início da viagem, a Isabel O. e o Mário conseguiram se recompor e acabaram fazendo uma linda viagem pela Provence e Côte d'Azur, saindo de Portugal, onde moram. Por motivos de organização de busca, escrevi "Provence" no título e agora neste enunciado, mas daqui para a frente deixo a Isabel à vontade com a nomenclatura portuguesa (e mais correta).
Os que leram o texto em que relatei o assalto de que fomos vítimas em Espanha sabem que esta viagem à Provença tem características muito particulares -- terras que não foram visitadas pelo tempo que passamos na esquadra (Carcassonne, por exemplo), e nada de aconselhamento dos “melhores lugares para comer” ou dos produtos mais refinados em lojas ou mercados… Mas ainda assim, quis deixar aqui umas notinhas. Breves, porque os especialistas que já por lá andaram antes de mim, já disseram verdadeiramente o essencial.
Assim, e quanto ao alojamento – depois de muito ouvir falar em Lourmarin, instalei-me exatamente lá.
A terra é um charme e ficámos uns dias num sítio delicioso – “L’Ancienne Maison de Gardes”.
É uma casa perto do castelo, mesmo à entrada da vila. Está dividida em dois apartamentos e um quarto (o site podia ser melhor…). A decoração é aquilo a que chamaria “Ikea-Provençal”. Não sei se a designação faz sentido para vós [faz sim, Isabel; mas para quem nunca ouviu falar da Ikea, seria uma Tok Stok européia -- N. do T.], mas, se virem as fotografias do site, apanham o conceito. Todas as noites jantámos debaixo da parreira, à luz de velas na mesinha que está na foto. Ao contrário de outros locais, a proprietária (da Nova Zelândia) não exigiu depósito. Com as restrições financeiras que tínhamos, um sítio com cozinha deu imenso jeito. Fizemos aí base para descobrir todos os locais aconselhados por aqui.
Sexta-feira é o dia de mercado. Enquanto que alguns deixavam o carro longíssimo, nós saímos de casa calmamente e, um minuto depois, lá estávamos, comprando provisões para mais um pic-nic.
Pensei muito no Beto e nas suas fotos. Não viajei tanto “na maionese” como gostaria… eu tenho dificuldades com o conceito de slow travel (sou muito agitadinha) e, com a história do roubo a perseguir-me como uma sombra, não tive nunca a total serenidade que gostaria, ao andar por aqui.
Em Nice, a segunda base (de onde partiríamos para a Córsega), ficámos noutro local engraçado, a Villa Magdalena, talvez menos consensual no que à decoração diz respeito.
Um casal de artistas comprou e restaurou uma antiga casa do século XIX, dividindo-a em pequenos estúdios. O pequeno-almoço (incluído) é tomado num jardim repleto de estátuas. O interior dos estúdios é tudo menos semelhante a um hotel regular e estereotipado.
O local, perto do porto, é óptimo porque permite deixar o carro estacionado e andar a pé pela cidade.
Quanto a lugares de passeio darei apenas duas dicas de lugares que de vez em quando aparecem aqui aflorados.
Na Provença:
Para além de Lourmarin, gostámos imenso das terras de montanha, destacando Roussillon porque, na zona, pudemos fazer duas caminhadas (trilhas) pelas terras do ocre (o Colorado Provençal), o que foi muito relaxante e bem campestre.
(Claro que corremos todos os locais onde havia lavanda (fomos mesmo na época-limite – alguns campos estavam a ser colhidos).
Na Côte d’Azur:
Fizemos um agradável passeio de barco para ver umas formações rochosas que dão pelo nome de Calanques de Cassis.
O regresso seria Sardenha/Barcelona. Como a viagem não se fez, retornámos pela costa. No entanto, o facto de estarmos indocumentados e com pouco dinheiro fez com que, pela primeira vez desde que me lembro, eu desejasse que a viagem terminasse e pudesse chegar a casa. Embora tivéssemos andado por cidades (Arles, Avignon, Nîmes), foi na zona do campo que nos sentimos mais livres e descontraídos. O nosso estado de espírito não nos fez entrar em Marselha, por exemplo, pensado numa eventual situação de menor segurança.
Viajar assim não é muito simpático mas, como em tudo na vida agarrei-me sempre ao meu lema (uma ligeira adaptação de um poema da grande Sophia de Melo Breyner) – ousar a aventura, a mais incrível/viver a inteireza do possível.
Brava, Isabel!
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