Seu rico dinheirinho: quanto o real desvalorizou frente cada moeda

Seu rico dinheirinho

Eu já devia ter me ocupado desse assunto há mais tempo; o problema é que a débâcle cambial começou junto com a minha viagem, e até hoje não tinha dado tempo de parar para ver o tamanho do estrago.

E com efeito o nosso realzinho levou um tombo feio. Certamente por ser uma das moedas mais sobrevalorizadas do mundo (todos os levantamentos sobre o assunto diziam isso), o real está sofrendo mais do que as outras moedas nesta recente valorização do dólar.

Não me pergunte o que vai acontecer — essa é a função dos economistas e dos videntes. Este post é apenas para avaliar quanto vamos gastar mais para manter o mesmo padrão de viagem em diferentes lugares do planeta.

Fui ao meu site de cotações cambiais favoritos, o Oanda, e fiz uma planilhinha (no Notepad, que eu não sei usar Excel até hoje) com a cotação de várias moedas contra o real hoje (dia 4 de outubro), há dois meses (dia 4 de agosto) e há um ano (4 de outubro de 2010). Depois fiz uma regrinha de três básica para calcular a desvalorização. Me corrijam se calculei errado. Mas os números brutos já servem como excelente indicador para ver onde perdemos mais e onde perdemos menos.

Do maior para o menor estrago, de dois meses para cá:

Dólar americano: 19% (US$ 1= R$ 1,86 hoje, 1,56 há dois meses. Há um ano: 1,56)

Yuan chinês: 17% (R$ 1 = 3,40 yuans hoje; 4,09 há dois meses. Há um ano: 3,85)

Sol peruano: 15% (R$ 1 = 1,47 soles hoje; 1,70 há dois meses. Há um ano: 1,56)

Ien japonês: 14,5% (R$ 1= 41,05 iens hoje; 47,98 há dois meses. Há um ano: 49,15)

Peso argentino: 13,5% (R$ 1 = 2,27 pesos hoje; 2,62 há dois meses. Há um ano:  2,27)

Libra inglesa: 13,3% (£ 1 = R$ 2,89 hoje; 2,55 há dois meses. Há um ano: 2,58)

Baht tailandês: 12% (R$ 1 = 16,63 hoje; 18,94 há dois mess. Há um ano: 17,12)

Dólar canadense: 10% (CAD 1 = R$ 1,78 hoje;  1,62 há dois meses. Há um ano:  1,60)

Euro: 9% (€ 1 = R$ 2,48 hoje;  2,27 há dois meses. Há um ano: 2,25)

Peso uruguaio: 9% (R$ 1 = 10,36 pesos uruguaios hoje; 11,39 há dois meses. Há um ano: 11,36)

Coroa tcheca: 8,5% (R$ 1 = 9,92 coroas hoje; 10,86 há dois meses. Há um ano: 10,24)

Dólar australiano: 7% (AUD 1 = R$ 1,79 hoje; 1,67 há dois meses. Há um ano: 1,58)

peso chileno: 280 / 291 / 272 — 3,8%
peso argentino: 2,27 / 2,62 / 2,27 — 13,5%
peso uruguaio: 10,36 / 11,39 / 11,36 — 9%
dólar: 1,86 / 1,56 / 1,56 — 19%
peso mexicano: 7,42 / 7,53 / 7,53 – 1,5%
franco suíço: 2,04 / 2,03 / 1,67 — 22%
euro: 2,48 / 2,27 / 2,25 – 9%
libra: 2,89 / 2,55 / 2,58 – 13,3%
coroa tcheca: 9,92 / 10,86 / 10,24 – 8,65%
yen: 41,05 / 47,98 / 49,15 – 14,45%
yuan: 3,40 / 4,09 / 3,85 – 16,8%
dólar australiano: 1,79 / 1,67 / 1,58 – 7,1%
dólar canadense: 1,78 / 1,62 / 1,60 – 10%
baht: 16,63 / 18,94 / 17,12 – 12%
sol: 1,47 / 1,70 / 1,56 – 15%

Peso chileno: 4% (R$ 1 = 280 pesos chilenos; 291 há dois meses. Há um ano: 272)

Peso mexicano: 1,5% (R$ 1 = 7,42 pesos mexicanos hoje; 7,53 há dois meses. Há um ano: 7,53)

Franco suíço: estável (CHF 1 = R$ 2,04 hoje;  2,03  há dois meses. Há um ano: 1,67)

Ou seja: os Estados Unidos ficaram 20% menos baratos, enquanto a Europa ficou apenas 9% mais cara. Dos países vizinhos, o Chile é o que continua com câmbio mais próximo do que era. E o México, ao acompanhar o nosso tombo, se mostra o único lugar em que o nosso real continua tão fortão quanto há dois meses.

Note como o dólar canadense voltou a ficar mais barato que o americano (coisa à toa, mas ficou). E não se iluda tanto com a estabilidade do franco suíço — antes desta valorização do dólar, era o franco que tinha sofrido a maior alta; contra o real, está 22% mais caro que há um ano.

Minha dica em tempo de dólar caro? Menos turismo de compras e mais turismo de viajar de verdade, meu povo 😀

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57 comentários

O que noto nem é o problema da valorização do dólar. O que me incomoda, e muito, é o preço das coisas (em real, mesmo). O Brasil é um dos lugares mais caros que conheço. As nossas passagens aéreas são absurdas. Nossos restaurantes caríssimos. Já comi diversas vezes em restaurantes italianos – na própria Itália – muito mais barato que o seu similar brazuca. Idem para franceses, alemães, etc. etc. O dólar pode subir que mesmo assim vai ser vantajoso fazer compras nos EUA. Tudo graças à nossa política tributária. Importar produtos da China? E daí que a Receita pode eventualmente taxar? O preço em dobro com os impostos de importação ainda são a metade do correspondente brasileiro. E depois reclamam do resultado entre a diferença dos gastos no exterior dos brasileiros e o gasto dos turistas estrangeiros no Brasil…

    talvez seja por isso que os EUA e europa estao todos quebrados financeiramente: impostos muito baixos que nao sao sustentaveis.

    Não mesmo… os impostos (europeus principalmente) também são altíssimos, porém eles entregam serviço de volta para quem paga imposto, então o pessoal pode consumir mais sem se preocupar tanto com saúde, saneamento, etc- maior consumo é menos preço.

    O que acontece é que os bancos emprestaram fortunas em dinheiro para gente que claramente não tinha condições de pagar – e quando ‘surpreendentemente’ não pagaram, os bancos ficaram sem dinheiro e iniciaram esta bola de neve.

    E para encarecer mais ainda, temos o chamado ‘custo-brasil’. Há mercadorias que gastam X para vir da China até Santos, e X+X para ir de Santos até São Paulo… Já li que só parado na fila de espera no porto, alguns navios demoram mais tempo que na vinda da China até aqui – e ainda tem propina para liberação das coisas, estradas ruins, combustível, etc – imagine então para levar estas mercadorias até o Acre.
    É… este país nosso é bem complicado.

    Monica acho q vc nao esta acompanhando as notícias com atenção. São justamente os principais governos da europa q vão socorrer bancos gananciosos e governos perdulários ( como o nosso) que gastam os olhos da cara para manter uma Maquina publica gigante e ineficiente. Aqui em Belindia estamos sentindo os impactos desse comportamento agora. As ações do nosso governo para manter os investimentos no ano passa (eleicao) estão se refletindo nos altos índices de inflação agora. E viva-se com isso, 40% da minha renda são para impostos, nao posso sair na rua após as 10, se tiver uma emergência vou morrer mesmo, e empreiteira pode pagar pensão para amante de senador. Nos somos um exemplo!

Estamos em outubro, isto é, faltam pouco mais de três meses para as viagens das festas de fim de ano e das férias de janeiro. Não acho que esse momento (dezembro e janeiro) combine com concessões e descontos feitos por hotéis e companhias aéreas. Nessa época todo mundo viaja de todo jeito, então os vôos e os hotéis estarão lotados e, pela oferta e procura, não há razão para barateamento de preços. Mais ou menos como preço de carro: carro no Brasil é caro porque as pessoas pagam o quanto se pede.

Para os que usam cartão de crédito, essas moedas todas são convertidas para o dólar americano, ou seja, gasta-se inicialmente em peso mexicano mas depois é feita a conversão de peso mexicano para dólar, com as consequências daí decorrentes. A tudo isso ainda se soma os 6,38% de IOF.

Estava acompanhando as passagens aéreas para alguns destinos internacionais na segunda quinzena de dezembro. Os preços dispararam.

Ê, vida difícil só é essa do viajante…

    PêEsse, vc matou a pau, acabei de chegar do Chile, não adianta o peso não estar tão desvalorizado porque a conversão é para o Dólar ai a coisa pega, Fechamento do Itau 1,92 mais IOF, para garantir a conta pode dobrar, o que é 2 vira 4. O Peso chileno no sábado estava no aeroporto(que é a pior 238,00) nas melhores cotações das casas de câmbio 265, 260. Tentei fazer futurologia e joguei tudo para 30 de outubro, só resta torcer. Vc sabe se por acaso tiver um dia de queda do dólar posso pagar mesmo antes do vencimento?

    Queridos: 1 dólar, há dois meses, valia 458 pesos chilenos. Hoje vale 533 pesos chilenos. Isso significa que o tombo do peso chileno foi quase tão grande quanto o do real. Logo, as compras em pesos são convertidas em menos dólares, hoje, do que eram há dois meses.

    O único senão é que, uma vez feita a conversão para o dólar, se o dólar continuar subindo frente ao real até o pagamento da fatura, a conta sobe. Mas caso se mantenha estável, a informação de que o Chile encareceu pouco depois desta débâcle é correta.

    Ufa!! Já estava começando a me arrepender das poucas compras que fiz no cartão lá no Atacama…
    Não tinha pensado nisso!

    Tens razão….só para ilustrar paguei uma conta no débito no sábado para ver a cotação, saiu assim.
    Pesos 32.230,00
    Débito Itau – 123,96 , já contando o IOF .

    Para quem usa cartão de crédito, a relação de vantagem ou desvantagem de qualquer moeda em face do real só vai até a conversão em dólar, o que acontece um ou dois dias depois da compra. Depois, o que vai valer mesmo é quanto aquela moeda se valorizou ou desvalorizou em relação ao dólar (e não ao real) e quanto o real se valorizou ou desvalorizou em relação ao dólar. Ou seja: a relação qualquer moeda X real é um indicativo, mas o que conta mesmo para fins de controle de gastos é a relação qualquer moeda X dólar (porque assim é que será feita a conversão) e a relação dólar X real (porque assim é que será feito o pagamento).

    O que eu quero dizer é que de muito pouco adiantará, por exemplo, o peso mexicano ter se desvalorizado em relação ao real se ele tiver se valorizado em relação ao dólar, porque quando for feita a conversão aquele meu passeio pago em pesos mexicanos significará mais dólares, e se o dólar seguir encarecendo, porque os dólares custarão mais reais.

    Só lembrando que estou falando do uso de cartão de crédito. Para outros meios esta reflexão não é necessariamente verdadeira.

    É isso mesmo…..
    Para quem vai a Europa por exemplo, torna-se interessante levar dinheiro vivo (Euro) e utilizar menos cartão…. o Euro se valorizou pouco em relação ao dólar.

    Não sei se isto é uma boa idéia, mas em dois lugares em Paris me ofereceram a opção de pagar já com a conversão em reais, e eu preferi. Dei uma olhadinha no comprovante e depois pesquisei na internet e a cotação foi a do euro turismo, não sei se foi pior, mas me deu um certo conforto esta opção. Vamos ver na fatura o que acontece.

    PêEsse: devido ao mecanismo de “arbitragem”, as cotações entre 3 ou mais moedas são sempre equivalentes. O Euro, por exemplo, só subiu 9% ao inves dos 19% do dólar porque a cotação Euro X Dólar caiu bastante, 12% nos últimos 40 dias. E talvez caia mais devido aos problemas da Grécia, Espana, Itália…

    Não existe um mercado independente entre cada par de moedas. Os tubarões das finanças internacionais explorariam essa diferença

Ricardo,

Verdadeira utilidade pública! Rsss
Pelo que tenho acompanhado das análises, parece que este quadro será parcialmente revertido até o novembro, ao menos no patamar de R$ 1,70 como a galera acima também apontou.
Será que a situação melhora a tempo de salvar as férias de fim de ano???
Abraço.

Riq, ótimo post!

Você não imagina a sorte que minha esposa e eu tivemos. Viajamos por Portugal, Suiça e Itália durante todo o mês de agosto. Como a nossa fatura do cartão de crédito fechou no dia 01/09 não pegamos a forte alta do dólar.

Ricardo, mais um post fantástico. Essa semana mesmo estava discutindo essa questão cambial e a relação que isso tem com o turismo com meus alunos de economia. O dólar disparou mesmo e o pior é que a tendência não é de queda não. Chegar a niveis de 1,55 ou 1,60 nem pensar. O próprio BC já admite que não quer isso. a tendência é que o dólar fique em algo próximo a 1,70 ( na previsão mais otimista). E pensar que poderiamos comprar a 1,52 a menos de dois meses. No entanto, também nãoa dianta sair agora desesperado comprando dólar para viajar em dezembro. Dificilmente o dólar vai aumentar muito mais do que aumentou. E quanto ao Euro, ainda bem que a moeda não se fortaleceu tanto em relação ao real.

Olá Ricardo (& Cia), tenho acompanhado seu site a alguns meses enquanto organizo uma viagem (minha primeira internacional) de pouco mais de 30 dias por Uruguai, Argentina e Chile… Ele tem sido fundamental, desde a definição do roteiro_ ficando o máximo de tempo possível no mínimo de lugares para poder vivenciá-los e não apenas visitá-los_ até a previsão de custos e obtenção de documentos necessários… Mas neste post ocorreu-me o primeiro “grilo”… Levarei uma parte do dinheiro em espécie, cartão do banco para saque no local, cartão de crédito para alguma emergência e um VTM… O dinheiro em espécie levarei em Real.. Ok?… Mas minha dúvida maior é em relação ao VTM, levando em conta a cotação atual, qual seria a melhor moeda para carregar no cartão? Havia pensado em Dólar, mas soube que o Banco Cruzeiro do Sul carrega, dentre outras moedas, Peso Argentino e Peso Chileno… Vale a pena carregar estas últimas e evitar maiores conversões, ou nas circunstâncias atuais ainda vale a pena apostar no Dólar como moeda forte?
Grato

P.S.: Parabéns pelo site, que tem mais informações do que muitos sites oficiais de turismo…

    Acabo de voltar de uma viagem pela argentina e Chile. Levei um pouco de dolar e VTM mas deixei eles guardados, só para emergência. Todo o dinheiro foi através de saques diretamente de minha conta corrente em caixas eletrônicos de lá. Mesmo considerando as taxas, é onde a cotação saiu melhor.

Posso dizer uma coisa? Época de crise abre brechas interessantes na indústria turística. Os precos de passagens devem cair, os programas de milhas vão ferver, os hotéis acabarão dando descontos. Tenho certeza que o incrível patrocinador do VnV, a Hoteis.com acabará por mostrar ótimas ofertas de todo o tipo.

É uma beleza o resultado final do turismo sem compras ::
*mais espaço na mala e nos neurônios
*menos peso prá carregar
*mais tempo prá flanar
*menos tralha pra guardar
*mais dindim prás extravagâncias e próximas viagens.

Riq, sabe aquela viagem pelo Oriente Médio (Egito, Jordânia e Israel), que você e a tripulação até ajudou a construir no post participativo https://www.viajenaviagem.com/2011/09/30-dias-entre-egito-jordania-e-israel-como-voce-dividiria/ ? Pois é, mixou, não vai mais rolar. O preço das passagens subiu MUITO, acho até que desproporcionalmente. Além disso, a desvalorização do real deixou os hotéis muito caros. Como minha viagem teria quase quarenta dias, ainda havia o risco de a coisa piorar enquanto eu estivesse fora.

Eu tentei evitar a desistência, mas não deu. Usei a estratégia de cair ainda mais o padrão dos hotéis mas mesmo assim o aumento nos custos seria muito grande. E olhe que a viagem não seria em nada voltada para compras.

Aí fui atrás de um plano B interessante no Brasil, mas não encontrei. O Nordeste está uma facada e a Amazônia segue caríssima. O restante dos destinos ou eu já conheço ou não me interessa agora. Então resolvi cancelar minhas férias, fazendo a festa de um colega que tem filhos e queria muito tirar férias em janeiro junto com as férias escolares.

Resumo da ópera: não vou tirar férias nem vou viajar. Vou aproveitar para economizar para uma viagem futura.

Estou triste. Jogaram água no meu chope. Por isso que eu detesto quando alguém critica o tal “real valorizado”. Acabou mais uma “janela de oportunidade” para o brasileiro viajar.

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