Está acontecendo em São Paulo o Fórum Panrotas, o mais importante encontro do trade do turismo brasileiro. Se não estou viajando, faço questão de ir.
Tradicionalmente, a primeira manhã sempre tem a presença de alguma autoridade do turismo, seja para fazer uma apresentação. conceder entrevista ou participar de debate. Costuma ser o momento VAM (Vergonha Alheia Máxima) do evento. Com raras exceções, o que se vê são ministros e presidentes de Embratur despreparados e/ou alheios à realidade. Nunca vou esquecer uma Marta Suplicy garantindo que o programa Viaje Mais Melhor Idade ia revolucionar o turismo brasileiro. Ou um ministro Gastão Vieira ser reduzido a estagiário de turismo durante um debate com os ministros do México e do Chile.
O atual ministro, Vinicius Lages, é diferente. O cara é profissional e competente. Está no cargo quase por acaso: foi alçado a ministro para um mandato-tampão depois que o antecessor saiu para concorrer nas últimas eleições. Só continuou no cargo porque o indicado pela base aliada ao carro, o potiguar Henrique Alves, estava suspeito de estar na lista do promotor Janot de indiciados na Operação Lava-Jato. Quando a lista foi publicada, o nome de Alves não estava lá. E desde então, a cada nova crise entre o governo e a base, volta o zunzunzum que vai rolar uma substituição no ministério.
Seria uma lástima se o ministro Lages caísse. Ele fala coisa com coisa. É a primeira autoridade brasileira que parece entender o que precisa ser feito em termos de comunicação e marketing fora do trade e do nicho de eventos (onde vamos muito bem. Nosso calcanhar de aquiles é o viajante independente).
No Fórum Panrotas, Lages foi entrevistado por Jeanine Pires, ex-presidente da Embratur e atual secretária de Turismo de Alagoas. Achei que o formato tivesse sido pensado para blindar o ministro com perguntas convenientes. De fato, nenhuma pergunta foi muito desafiadora, mas o ministro soube incorporar pontos interessantes em suas respostas.
O mais importante: Vinicius Lages sabe que os destinos brasileiros precisam aumentar sua presença digital. Falou de destinos com extenso material em vídeo disponível na web, como o México.
Espero que isso signifique uma guinada na política do turismo brasileiro para o digital. Os destinos brasileiros (e aqui sou eu falando, não o ministro) precisam produzir e organizar conteúdos próprios de grande apelo e utilidade que possam ser compartilhados e complementados pelo público. O que temos hoje, em âmbito nacional, é uma série de reaproveitamentos confusos do conteúdo do TripAdvisor (no horrendo e rigorosamente inútil Visit Brasil, no desatualizado Trip Planner, que ainda em as cidades-sede na capa, e no limitadíssimo FellowTrip, um app tão ruim que até o nome está errado ("companheiro de viagem" seria TripFellow; do jeito que está significa.... viagem-companheira).
O que mais gostei na fala do ministro foi encontrar a oportunidade de, ante o corte de despesas armado pela Fazenda, tetnar convencer a presidente a salvar os investimentos em branding e marketing, que são infinitamente mais baratos (e, arrisco dizer, mais eficientes) que a miríade de emendas ao Orçamento que são canalizadas pelo ministério -- e que (quem está dizendo sou eu, não o ministro) tornam a pasta minimamente atraente no toma-lá-dá-cá dos acordos de governabilidade.
(Mais parênteses: uma vez, no Ceará, perguntei ao secretário de Turismo por que o estado não tinha um site em inglês. O secretário respondeu que estava duplicando a Estruturante, construindo aeroportos em Jijoca e Aracati e não sobrava tempo para fazer um site em inglês.)
No fim da entrevista, Jeanine Pires chamou Guilherme Paulus, do board da CVC, para fazer uma pergunta que, politicamente, ela não poderia: "O senhor fica, ministro?"
Com uma franqueza e espírito esportivo, Vinicius Lages reconheceu que sua permanência depende do jogo de braço entre o governo e a base.
Desejo-lhe sorte.
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