Biojóias e artesanato da comunidade quilombola Jatimane
Taipu de Fora, uma das praias mais espetaculares do nosso litoral, ganhou um evento cultural novo. Agitando o inverno na região, a primeira edição do Festival de Arte e Gastronomia teve, nesse finalzinho de férias, debates, palestras, muita comida gostosa e confraternização entre moradores e turistas. O evento aconteceu entre os dias 30 de julho e 2 de agosto na Pousada Taipú de Fora, uma favorita do Ricardo Freire na região há muito tempo, o que foi mais um motivo para a gente não deixar de participar. A enviada especial Adriane Lima, que mora em Salvador, esteve lá, e conta pra gente sobre o festival e também sobre o trajeto entre a capital baiana e a Península de Maraú (se você não mora em Salvador ou arredores, e vai precisar pegar avião, prefira chegar pelos aeroportos de Valença ou Ilhéus).
E se deu para aproveitar a praia? Claro que deu! Vai pela Adri:
Texto e fotos | Adriane Lima
Pousada Taipú de Fora
Chegamos à Pousada Taipú de Fora e fomos muito gentilmente recepcionados. Seguimos direto ao restaurante, onde o menu degustação do almoço já estava sendo servido. Nos dias do Festival, a cozinha do restaurante da pousada apresentou aos participantes diversas iguarias mesclando a cozinha internacional com as delícias baianas.
Nhoque de banana e crumble de mamão e manga
Dos criativos pratos experimentados, sinto que vou suspirar ainda dias e dias com saudade do nhoque de banana-da-terra com molho de moqueca.
Entre uma refeição e outra, o restaurante preparou cafés regionais temáticos, cada dia dando ênfase a um produto típico brasileiro -– um dia o milho, no outro o aipim, outro dia a banana-da-terra.
Tainha defumada e frutas ao creme
Para nós, o ponto alto da parte gastronômica foi a mesa redonda sobre o processo de defumação da tainha, prato freqüente nos quilombos da região. Foi um bate-papo bem rico entre Gino Cesar, chef do restaurante da Pousada, Marcelo Nada, representante do movimento Slow Food Brasil, e Pedrina do Rosário, integrante do Quilombo Jatimane, sobre a importância histórica e cultural da gastronomia e da valorização dos produtores locais. A tainha em questão foi preparada também por uma quilombola, defumada e servida aos convidados -– e estava uma delícia.
Catharina Suleiman e o curador Mario de Lima
A parte cultural do Festival foi bastante intensa e eclética, reunindo desde artistas plásticos como Catharina Suleiman, responsável pela capa do novo CD “Guelã” de Maria Gadu, aos escritores Pedro Gabriel (do livro Eu me chamo Antônio) e Clarice Freire (blog Pó de Lua).
Rivani Nasário e Andreia Pradho
Teve também show com a Rivani Nasário, a Cangaceira do Cordel, cordelista muito conhecida em Pernambuco que utiliza a literatura de cordel como projeto pedagógico, além de outros músicos e artistas, como a cantora Andreia Pradho.
Todas as discussões que acompanhei foram muito ricas, mas o que me chamou atenção foi que a comunidade de Taipu de Fora esteve todo o tempo presente nas apresentações. Fossem quilombolas ou moradores de Taipu, empregados da pousada e expatriados dos mais diversos destinos que escolheram a Península de Maraú pra viver, estavam todos lá, aproveitando tudo o que aquelas pessoas tinham para falar e também compartilhando conhecimento.
Biojóias de Fabiani Julianni
A pousada abriu espaço para que líderes comunitários apresentassem as ações sociais realizadas na região e que artistas e artesãos pudessem ensinar, expor seus trabalhos e colocá-los à venda. O próprio Haroldo, proprietário da Pousada, tem seus trabalhos fotográficos expostos nos ambientes.
Apresentação de dança de meninas quilombolas
Durante estes dias nós, turistas, tivemos a oportunidade de interagir com a comunidade local de uma forma mais intensa, algo mais difícil de acontecer em situações comuns para visitantes em um periodo tão curto. Foi como acompanhar, na prática, o que é o turismo sustentável, a valorização da história e da cultura local e as belezas e dificuldades destas escolhas. Me encantei com todas as histórias que ouvi.
Pousada Taipú de Fora e a praia
Coroando um final de semana cheio de novos aprendizados, o Festival foi programado para acontecer na lua cheia e contou com tempo bom em quase todo o período, com exceção da noite de sexta, quando choveu um pouco e ventou bastante.
Piscina natural em Taipu de Fora
Seguindo a Cartilha Riq Freire para aproveitar piscinas naturais, também pudemos aproveitar o melhor da maré para curtir a praia e dar nossos mergulhos nas piscinas naturais –- um espetáculo da natureza, já narrado aqui em outras postagens.
A viagem de Salvador a Taipu de Fora
Ferry Dorival Caymmi
Chegamos no terminal de São Joaquim na sexta-feira às 07h30 para pegar o ferry-boat das 8h. O ferry do horário foi o Dorival Caymmi, um dos ferries gregos comprados recentemente para fazer a travessia. Ele é bem bonito e cabem cerca de 110 veículos, mas mesmo assim é melhor não confiar na sorte e comprar com antecedência a passagem com hora marcada no site.
Eu acho que começar uma viagem pela Bahia atravessando o ferry é uma maravilha -- além de descansar o motorista e economizar um bom deslocamento por terra (cerca de 180km), a vista incrível de Salvador dá um tempero especial ao início do trajeto.
O ferry atrasou 10 minutos para sair e levou uma hora exata na travessia. Às 9h10 estávamos pegando a estrada para atravessar a Ilha de Itaparica e seguir em direção a Camamu.
No caminho, passamos por Nazaré das Farinhas, Valença e outras cidades menores. Vantagens de estar de carro: ao passarmos por Nazaré das Farinhas já aproveitamos para comprar alguns (muitos) pacotes, que levamos para toda a família. Presentear com farinha de Nazaré das Farinhas é certeza de deixar a família feliz!
De Bom Despacho/Itaparica a Camamu são 180km, que se faz em aproximadamente 3 horas. A estrada está boa, sem buracos, mas não dá para desenvolver muita velocidade porque há muitas comunidades margeando a estrada, muitos quebra-molas e alguns trechos sem acostamento. Entre Valença e Camamu há também muitas oportunidades de compra de mariscos. Da próxima vez vamos viajar com uma sacola térmica vazia no porta-malas!
Às 12h30 chegamos a Camamu e deixamos o carro no estacionamento do Chico do Reggae. Este estacionamento, assim como muitos outros, é uma construção simples, sem identificação externa, como capacidade para um número de carros que varia de 5 a 10 veículos. Não sabíamos onde ficava o nosso, mas a cidade é pequena e todo o mundo conhece todo o mundo. E só perguntar na rua que rapidinho você chega no estacionamento contratado. Conversando aqui e ali, nos foram indicados também 2 estacionamentos com perfil no Facebook: o estacionamento do Delegado e o Jamaica. Coloque na busca do Face “estacionamento Camamu” que eles aparecem.
Lancha da Camamu Adventure
Depois de guardarmos o carro pegamos a lancha rápida de 13h para Barra Grande, pela empresa Camamu Adventure (passagem a R$ 30). A travessia, de meia hora, é linda –- Camamu à distância tem um visual incrível, lembrando muito as cidadezinhas portuguesas. Os pescadores e as vilas que margeiam o curso da lancha até Barra Grande nos fazem viajar no tempo.
Chegando em Barra Grande, destino final de muitos dos visitantes da Península de Maraú, o carro da pousada nos esperava para mais 9km de estrada de terra (mais ou menos 20 minutos de carro) até a Pousada Taipú de Fora, onde chegamos aproximadamente às 14h.
Para o retorno a Salvador, fizemos exatamente o trajeto inverso (Barra Grande-Camamu-Bom Despacho-Salvador), também voltando pelo ferry, com passagens adquiridas para as 20h. Calculando com um pouquinho de folga o retorno, não tem como dar errado. Saímos de Taipu às 14h30min e às 19h15 estávamos em Bom Despacho, em nossa fila esperando o ferry das 20h sair.
Dicas importantes
Camamu
Viajando na sexta, sábado, domingo ou segunda pela manhã, comprar as passagens do ferry com hora marcada é importantíssimo para não estragar o fim de semana. A fila do ferry também tem uma seção para prioridades (grávidas e idosos), mas no retorno do ferry até esta fila estava bem concorrida.
Não deixe de ligar de algum lugar da estrada e avisar ao estacionamento em Camamu que você está chegando. As pessoas têm várias atividades e muitas vezes não estão no estacionamento.
Adriane Lima viajou a convite do Festival de Arte e Gastronomia de Taipu de Fora e da Pousada Taipu de Fora.
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