Saco do Mamanguá

Guia de Paraty

Passeio de lancha ao Saco do Mamanguá

Fazer um passeio ao Saco do Mamanguá estava na minha lista de prioridades na minha última passagem por Paraty.

Passeio ao Saco do Mamanguá, Paraty

O curioso é que, mesmo sem nunca ter ido, eu já era capaz de identificar “o fiorde brasileiro” do alto da Ponte Aérea. No voo mais recente, cheguei até a fotografar (essas fotinhos aí de cima, com a beiradinha da janela de prova). Dessa vez, já tinha decidido que, num dia de tempo bom, o passeio ao Saco do Mamanguá seria a prioridade zero da estada em Paraty.

Pois veja a coincidência: duas semanas antes da data da viagem, recebi, do nada, um email do Davi da Lancha Palombeta. Tempos atrás, um passageiro que é leitor do Viaje na Viagem (ei! identifique-se, please!) sugeriu que ele me procurasse para divulgar o passeio aqui no blog.

O Davi lembrou e, aproveitando um momento mais calmo da baixa temporada, entrou em contato. Para mim era perfeito: a lancha proporcionaria mais eficiência a uma incursão que eu provavelmente faria de traineira tuc-tuc-tuc, levando pelo menos o triplo do tempo para chegar ao Mamanguá (sem paradas pelo caminho).

Meu passeio ao Saco do Mamanguá

Passeio ao Saco do Mamanguá: cais de Paraty

O dia estava esplendoroso – o céu límpido que costuma dar as caras mais no outono e no inverno do que no verão. Mas com o Sudeste todo tomado por uma massa de ar polar, ainda não estava quente o suficiente para cair n’água (mais dois dias de tempo firme e já daria vontade de mergulhar).

Passeio ao Saco do Mamanguá: lancha Palombeta

Embarcamos na Palombeta II, que na época era a mais nova das duas lanchas do Davi (hoje já são 3 lanchas). Tem capacidade para até 7 pessoas, mas ele prefere levar até 5 ou 6 adultos. (A menor lancha da casa, a Palombeta, leva até 4 passageiros.) É uma firma familiar: a irmã e o primo do Davi também pilotam as lanchas.

Passeio ao Saco do Mamanguá: Paraty

O passeio nem tinha começado, e já estava melhor do que o das escunas: a trilha sonora era de clássicos da bossa nova. Dia de luz, festa do sol, até logo, Paraty!

Baía de Paraty

O Davi tem uma trajetória muito interessante: nasceu na vila da Trindade, quando sua mãe era professora na escola local. Cresceu em Paraty, se formou em ciências da computação na Unicamp e um dia resolveu fazer dar uma volta ao mundo pelos picos do surf. Foi ao Peru, a El Salvador… e quando chegou na Indonésia, acabou ficando: trabalhou 5 anos em barcos que levam surfistas para ondas em alto mar em Sumatra.

Na volta ao Brasil, resolveu abandonar a vida em escritório e comprou a primeira Palombeta. Essa mistura de experiências resultou num personagem peculiar: o Davi tem conhecimento de caiçara, habilidade de marinheiro e papo sofisticado de quem já viajou o mundo.

Passeio ao Saco do Mamanguá: Jurumirim

A recomendação do Davi é sair às 9h30, para chegar aos pontos de parada da baía de Paraty antes das escunas, que saem às 11h. Quando chegamos à enseada de Jurumirim, onde Amyr Klink tem a casa de onde sai para suas expedições, só havíamos nós – e as tartarugas, que não demoraram para aparecer.

Passeio ao Saco do Mamanguá: ilha do Mantimento

A segunda parada é perto de uma pedra na Ilha do Mantimento. A ilha tem esse nome porque aqui era o ponto onde, na época colonial, paravam os navios carregados de suprimentos – dali até o porto, a baía não tem calado para grandes navios. (Hoje ali é o ponto onde param os navios de cruzeiro; os passageiros seguem em barcos menores.)

No nosso passeio, quem traz os mantimentos é a gente: o David joga pedaços (e cascas) de banana na pedra, e não demora para cotias, saracuras e sagüis virem buscar. (Em dias de sorte, pode aparecer até algum dos micos-leões-dourados que habitam a ilha.)

Depois da Ilha do Mantimento, a baía fica mais profunda e as águas, mais cristalinas. Nesse ponto, o Davi abre a carta náutica para definir os detalhes da continuação do passeio. Se a prioridade for snorkel, o roteiro de paradas vai ser um. Se o interesse for pela paisagem fora d’água, será outro.

Ilha da Pescaria, Paraty

A primeira parada para snorkel pode ser na Ilha da Pescaria (essa daí de cima).

Praia da Lula

A Praia da Lula também dá bom snorkel e tem uma faixa de areia.

Praia da Preguiça

A Praia da Preguiça pode sumir na maré alta (nesse caso, dá para usar a pedra, como sabem os habituês).

Saco da Velha, Paraty
Saco da Velha, Paraty

O gran finale da primeira parte do passeio, ainda na baía principal, é a prainha do Saco da Velha. Além da água transparente, a praia tem mais duas atrações: uma gruta (estava na maré alta e eu achei melhor não entrar) e um mirante de onde você vai tirar a sua foto mais bonita de Paraty.

Saco do Mamanguá

De lá a lancha passa ao largo de Paraty-Mirim e… tcharam: entra no Saco do Mamanguá.

Saco do Mamanguá: Pico do Mamanguá

Um braço de mar com 8 km de extensão, cercado por montanhas altas, o Saco do Mamanguá tem um formato de fiorde – mas na verdade, não é, pois não foi formado na era glacial pelo movimento das geleiras. Mas é lindo, verdíssimo e bastante preservado – graças ao traçado da Rio-Santos, que passa longe dali, e à mobilização dos 600 moradores que ocupam, de maneira bastante esparsa, as suas margens.

17-cruzeiro

O maior povoado é a vila do Cruzeiro, que fica na margem leste (a mais ocupada, porque tem mais insolação no inverno, explica o Davi). Seu cartão postal é o Pico do Mamanguá, que tem acesso por trilha.

Os moradores usam voadeiras para se deslocar na região e até Paraty. A falta de estradas, porém, atrai andarilhos, que fazem a Travessia da Juatinga – em cinco dias, vão da Vila Oratório (ao lado de Laranjeiras, em Trindade) a Ponta Negra, Martim de Sá, Pouso da Cajaiba, Vila Cruzeiro e (atravessando de barco à Praia Grande do Mamanguá) Paraty-Mirim.

Saco do Mamanguá

A paisagem do fundo do Saco do Mamanguá tem uma combinação inusitada de mangue e montanha (acho que é a primeira vez que vi os dois juntos).

Davi, lancha Palombeta

Bora almoçar? (Lembrei que ainda não tinha tirado foto do Davi.)

Restaurante do Dadinho, Saco do Mamanguá

A parada para almoço é no Restaurante do Dadico.

Restaurante do Dadico, Saco do Mamanguá

Só o fato de não ser parada das escunas apinhadas já justificaria a escolha do Dadico. Mas a comida (e a bebida) são um luxo. Camarões e robalo fresquíssimos, no ponto certo de cocção; e caipivodkas feitas com um maracujá hipersaboroso. (OK, Paraty, eu sei que é um insulto usar vodka em vez de cachaça, mas eu só gosto de cachaça pura, não na caipirinha; perdão!)

Passeio ao Saco do Mamanguá: lancha Palombeta

Devido ao vento, o Davi resolve abortar uma das paradas da volta. E avisa que vamos navegar meia-hora em velocidade; se quisermos relaxar e cochilar, tá valendo.

Foi o único momento em que me dei conta de que estava numa lancha: a seqüência de paradas do trajeto de vinda – todas pertinho uma da outra – faz com que a velocidade passe quase despercebida.

Forte da Tapera

Nossa última parada antes da volta foi nas ruínas do Forte da Tapera, onde ainda resistem dois canhões. Menos de dez minutos depois, estávamos de volta ao cais de Paraty.

De lancha ao Saco do Mamanguá: vale a pena?

Supervale. Sim, você acaba abrindo mão da poesia da traineirinha de madeira, em que você sobe no solário e passa boa parte do trajeto tuc-tuc-tuc deitado no colchonete tomando sol. Mas por outro lado tem um passeio mais dinâmico, com mais possibilidades de paradas – e mais chances de encontrar lugares vazios.

O preço é bastante razoável (sobretudo quando você compara com os praticados em Angra). O passeio na Palombeta (17,5 pés, até 4 pessoas) sai por R$ 1.200 na baixa temporada e R$ 1.400 na alta. Na Palombeta I (19,5 pés), R$ 1.400 na baixa temporada e R$ 1.600 na alta. Na Palombeta II (20,5 pés, até 7 passageiros), R$ 1.600 na baixa e R$ 1.800 na alta.

(Para comparar: as traineirinhas cobram a partir de R$ 100 por hora de passeio, e precisam de 2 horas para chegar ao Saco do Mamanguá. Os passeios de escuna podem custar R$ 110 por pessoa, mas chegam a carregar até 60 pessoas; alguns roteiros incluem o Saco do Mamanguá.)

Para contactar o Davi na Palombeta, use este formulário ou ligue/mande um whatsapp para (24) 99975-7859.

Passeio feito a convite da Lancha Palombeta.

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    27 comentários

    Uma forma mais barata de chegar ao Saco de Mamanguá é ir a Paraty Mirim e pegar um barco até o Saco de Mamanguá que dura 15 min.

    Neste feriado de 15.11.2021 resolvi voltar ao Saco do Mamanguá (vim a 1a vez em 2002/2003 – isso mesmo: há quase 20 anos). Experimentei o Dadico que esta mais “arrumado” com umbrelones azuis bonitos e com comida e bebidas bem boas. Preços salgados, mas parecidos com os de Paraty. E se penso na logística, nem acho caro.
    Mas a melhor de todas as surpresas foi a hospedagem no Le Cabanon Mamangua com os anfitriões Trygve (noruegues) e a Nathalie (francesa) bem ao lado do Dadico. Da pra ir a pé tomar uma caipirinha.

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