Os últimos anos foram particularmente difíceis para o turismo no Egito. O país teve presença assídua nos noticiários, mas sumiu das páginas de relatos de viagem. Um verdadeiro dissabor, tendo em vista as riquezas históricas que ali se encontram.
Conversando com o Gabe Brito sobre esse clima instável, ele soltou uma frase brilhante: "É a oportunidade de conhecer o Egito da década de 80". Recebendo cada vez menos turistas estrangeiros, quem encara uma viagem à terra dos faraós pode ter um encontro praticamente exclusivo com cada múmia e cada pirâmide egípcia.
O cenário geopolítico também não tem contribuído muito: quando o turismo dava os primeiros sinais de sobrevida pós manifestações da Primavera Árabe, vieram os atentados terroristas -- no Mar Vermelho, no ar (a explosão de um avião de turistas russos), em Alexandria, na catedral copta no Cairo. (O circuito turístico principal -- Pirâmides + Nilo -- tem conseguido passar incólume.)
A fuga em massa de visitantes tem gerado medidas cautelosas em algumas agências online; muitas delas já nem divulgam mais promoções para o Egito.
Entretanto, em 2016, o governo egípcio anunciou uma série de medidas para reforçar a segurança dos aeroportos, hotéis e principais áreas se circulação dos turistas, numa tentativa de retomar o crescimento do setor e evitar um colapso total.
E aí? Apesar da crise, é uma boa ideia viajar pelo Egito agora ou é coisa de quem tem um parafuso a menos na cachola? Consultei o DataFacebook e pedi para os amigos viajantes marcarem outros conhecidos que tenham passado pelo país depois de 2013 e os relatos foram coincidentes: mesmo com alguns perrengues, todos adoraram e recomendam a viagem.
Para dias mais tranquilos é importante estar acompanhado de um bom guia local ou em um pequeno grupo de excursão. A segurança em grandes hotéis costuma ser reforçada e, antes de bater o martelo, é importante avaliar que tudo depende do seu perfil de viajante e da sua habilidade de lidar com imprevistos e contratempos.
Ano passado, conversei brevemente com o jornalista brasileiro Sandro Fernandes, que cobriu os conflitos no país, e ele disse que, mesmo com todo esse contexto delicado, recomenda a viagem, mas é importante tomar os devidos cuidados. Ele também acredita que é “um momento incrível para visitar o Egito”.
Sandro complementa dizendo que “a situação política deu uma acalmada e não há mais protestos todas as semanas, como em 2011, 2012 e 2013”, mas de todo modo desaconselha qualquer tipo de viagem pela região do Sinai.
Como informação e canja de galinha não fazem mal a ninguém, reuni algumas dúvidas dos brasileiros que sonham em conhecer as pirâmides, assim como links de relatos de viajantes brasileiros e a cobertura da imprensa internacional.
Por conta própria ou agência especializada?
Mesmo sendo adepta das viagens independentes, determinadas situações como esta exigem um pouco mais de cautela, por isso, acho prudente considerar viajar com o apoio de agência/operadora que esteja acostumada a trabalhar com o Egito.
No Brasil, as operadoras de luxo Teresa Perez e Queensberry têm alguns pacotes especializados pelo país. Lá fora, a Abercrombie & Kent é uma opção recomendada pela jornalista Mari Campos que utilizou seus serviços no Egito. Para ter mais tranquilidade e comodidade, vale investir num upgrade nesta viagem. Outras operadoras mais conhecidas no Brasil como a Visual, a CVC, a Freeway, a Schultz e New Age também trabalham com esse destino.
É exigida alguma vacina para visitar o Egito?
O Portal Consular do Itamaraty informa que brasileiros não precisam tomar a vacina contra febre amarela, apenas se a viagem for via alguns hubs na África que exijam a vacina.
Mas se você optar por tirar o visto antecipadamente, o país solicita, neste processo, a apresentação da certidão internacional de vacinação comprovando a dose dessa vacina.
Qual moeda é usada no Egito?
A moeda corrente é a libra egípcia (EGP). Leve dólar americano ou euro e troque nas casas de câmbio locais ou tente negociar os passeios diretamente na moeda americana. Cartões de crédito oferecem uma taxa de conversão vantajosa, mesmo com o IOF; você pode usar em hotéis e bons restaurantes.
Brasileiro precisa de visto para entrar no Egito?
Existem duas formas diferentes para emissão do visto de turismo para brasileiros que querem visitar o Egito.
Apesar de ainda ser possível conseguir o visto de turista ao chegar no país, a embaixada recomenda que o processo seja feito antecipadamente, conforme orientações que recebi da própria representação em Brasília. Eles não me informaram por telefone os custos para o pagamento do visto no desembarque, mas o site do Itamaraty informa que o custo é de U$25,00.
Para os pedidos antecipados, os documentos exigidos são o passaporte original com validade mínima de seis meses, certificado de vacinação internacional contra febre amarela, formulário preenchido, duas fotos 3x4, cópia das passagens e das reservas dos hotéis, declaração de próprio punho isentando a embaixada de toda e qualquer responsabilidade com relação à devolução do passaporte, endereço completo de devolução e a quantidade necessária de selos para o envio de uma carta registrada de Brasília até a sua cidade. Se preferir, você pode colocar dentro do envelope com os documentos , o valor em espécie para o sedex. Também é preciso enviar em dinheiro completo para o pagamento da taxa do visto.
O processo como um todo é um pouco chato e requer que você envie o passaporte e o dinheiro vivo pelos Correios *medinho* A embaixada do Egito fica em Brasília e tem consulado no Rio de Janeiro, portanto, o visto pode ser solicitado pessoalmente nessas duas cidades, via despachante ou enviando todos os documentos antecipadamente.
A taxa cobrada pode variar entre R$ 115 (para uma entrada) ou R$ 165 (para múltiplas entradas) e todo esse trâmite pode levar 10 dias úteis e só pode ser solicitado dois meses antes do embarque.
Atenção para a pegadinha do cronograma: o visto de apenas uma entrada tem validade de três meses a partir da data de emissão. Já o visto de múltiplas entradas tem validade de seis meses. Brasileiros não podem passar mais do que trinta dias no país com esse tipo de visto.
Atualmente, o site da embaixada no Brasil está fora do ar e os formulários devem ser solicitados pelos emails consuladodoegito@yahoo.com ou embassy.egypt.brasilia@gmail.com.
Consulado da República Árabe do Egito no Rio de Janeiro
- Rua Muniz Barreto, 741, Botafogo | Tel.: 21/2554-6664 e 21/2554-6318 | Atendimento: 2ª a 6ª das 10 às 12h e das 14h às 15h30
Embaixada do Egito em Brasília
- Setor de Embaixadas Norte - Avenida das Nações, Lote 12 | Tel.: 61/3323.8800
Como chegar no Egito saindo do Brasil?
As rotas mais convenientes para chegar ao Cairo saindo do Brasil são operadas pela Turkish, via Istambul; Alitalia, via Roma; Emirates, via Dubai; ou ainda pela África do Sul com a South African, via Joanesburgo. A Royal Air Maroc e a Ethiopian também oferecem voos saindo de São Paulo com conexão em Casablanca e Adis Abeba, respectivamente.
Qual é a melhor época para viajar pelo Egito?
De outubro a abril são os meses com temperaturas mais amenas e recomendados para quem quer viajar pelo país. Leve em consideração que em abril costumam acontecer grandes tempestades de areia. Esse período também coincide com a alta temporada, mas tendo em vista tamanha crise no turismo, deve ser possível conseguir bons descontos mesmo assim.
E o assédio existe mesmo?
Os relatos das mulheres que encontrei foram unânimes: ao viajar pelo Egito, é missão impossível não deparar com os assédios cometidos nas ruas e em praticamente qualquer lugar. Por isso, considere viajar acompanhada ou em grupo e vá preparada para encarar essa chatice. Confira também os trajes de vestimenta, roupas tidas como 'inadequadas' podem aumentar ainda mais essa impertinência.
Melhores rotas pelo Egito
Os principais atrativos turísticos se encontram no eixo Cairo – Luxor – Aswan. Esse roteiro engloba os principais museus, templos, relíquias arqueológicas e pirâmides faraônicas do país. O trecho do Nilo pode ser feito convenientemente a bordo de um cruzeiro -- o sentido Aswan-Luxor vai a favor da corrente. Não é prudente considerar Sinai, Alexandria ou mesmo os balneários do Mar Vermelho por hora.
É perigoso viajar pelo Egito?
A orientação do próprio Itamaraty é: "cidadãos brasileiros devem viajar ao Egito com alto grau de cautela. Ainda que os níveis de violência urbana sejam baixos, recomenda-se evitar topo tipo de viagem a algumas áreas do país, como o Norte do Sinai, bem como regiões no deserto ocidental próximas à fronteira Líbia por razões de segurança." A fronteira do Egito com a Palestina encontra-se fechada de forma permanente.
- Nile City Towers - North Tower - 18th Floor 2005-C Corniche El Nil Cairo - Egypt | Tel.: 20-2/2461-9837; 20-12/2244-4808 (Plantão Consular) | Email: comunica.cairo@itamaraty.gov.br
Ir ou não ir, eis a questão
Não existe uma resposta definitiva para essa questão. Todos a quem perguntei responderam que a viagem foi incrível, apesar de todos os receios e perrengues. O momento pode ser uma ótima oportunidade para visitar alguns dos tesouros mais importantes da humanidade sem se debater com hordas de turistas -- mas, ao mesmo tempo, pode gerar uma sensação constante de insegurança e preocupação.
Queremos saber: você viajaria para o Egito nessas circunstâncias? Conhece alguém que viajou recentemente ou tem dicas para compartilhar? À caixa de comentários!
Para entender mais sobre a Primavera Árabe
- Projeto Humanos 17 – Uma Primavera no Egito no Anticast -- o podcast narra a história do brasileiro Aldo Cordeiro Sauda no país durante os conflitos. Imperdível.
- The Square, documentário de 2013 que mostra a tomada da Praça Tahrir durante as manifestações de 2011.
Leia também: #Linkódromo
- Egito no Mairon pelo Mundo (viagem feita em 2016)
- Egito no London, Sô! (viagem feita em 2015)
- Egito no Escolha Viajar (viagem feita em 2015)
- Egito na Viajar pelo Mundo (viagem feita em 2014)
- Egito no As Estrangeiras (viagem feita em 2014)
- Egito no Planejar e Viajar (viagem feita em 2014)
- Egito no MariCampos.com (viagem feita em 2013)
- Egito no Pé na Estrada (viagem feita em 2013)
- Egito no Rêvivendo Viagens (viagem feita em 2012)
Na imprensa internacional (matérias em inglês):
- Can Middle East tourism ever recover? no The Guardian
- Can tourism in Egypt bounce back after violent traumas? na CNN
- Egypt to spend £26m on X-ray machines and CCTV cameras at tourist resorts no The Telegraph
- Tour operators selling holidays to Sharm el Sheikh despite terror warnings no The Telegraph
- Egypt's wishful 'gold standard' security has a long way to go no The Telegraph
- In Cairo, alone time whit the pharaohs no The New York Times
- In Egypt, a setback for tourism amid signs of hope no The New York Times
- Why UK tourists shloud consider returning to Egypt on holiday no Independent
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