Amazônia: 3 experiências na selva | Cruzeiro Iberostar x Anavilhanas Lodge x Pousada Uacari
Ainda não visitei todos os hotéis de selva na Amazônia — mas já tenho cinco experiências no currículo.
A primeira, em 1999, foi no finado Ariaú, que durante muito tempo foi sinônimo de hotel de selva no Brasil. Não gostei: achei gigantesco e brega. (Visitei de novo em 2012, antes que fechasse definitivamente, e não mudei de opinião.)
As três experiências de hotel de selva que detalho neste post são as primeiras que realmente valeram a pena. (Depois de escrever este post, voltei outra vez à Amazônia — dou o link do relato desta viagem ao longo do texto.)
Esse repertório, curto porém variado, me permitiu chegar a duas conclusões sobre hotéis de selva na Amazônia.
1 | O cardápio de atividades é bastante semelhante
Não importa em que hotel de selva você se hospede, vai poder fazer todos os passeios básicos: navegar pelos igarapés e igapós (“riozinhos” e “lagos” na floresta inundada, durante os meses de cheia), caminhar pela selva (nos meses de vazante), fazer focagem noturna de jacarés, pescar, observar pássaros e animais da floresta, ver botos, visitar uma aldeia de caboclos.
As experiências não serão exatamente iguais (cada hotel tem seu estilo, cada região tem suas peculiaridades, cada época tem suas variações, e sempre haverá uma ou outra atividade exclusiva do hotel), mas o essencial estará coberto.
Arrisco dizer que, mesmo se a hospedagem for ruim, os passeios serão bons.
2 | Hotel de selva é menos caros do que parece
Não há quem não se assuste com os preços dos hotéis de selva na Amazônia. Muitas vezes são expressos em dólar, e cotados por pessoa, não por quarto.
E sempre com aquela pegadinha de mais dias do que noites (3 dias e 2 noites, 4 dias e 3 noites…).
O que aprendi nos meus dias hospedado em pousadas baratinhas em Novo Airão e em Alter do Chão, porém, é que é muito caro tentar fazer os passeios por conta própria.
Nenhuma voadeira entra n’água por menos de R$ 150 (pra te levar até ali pertinho); nenhum passeio de meio dia custa menos do que R$ 300. Ou seja: aquela diária baratinha de R$ 150 esconde gastos extras que podem custar o triplo ou o quádruplo por dia.
É preciso viajar em grupo (dois casais, por exemplo), para que a independência total passe a valer a pena.
Ao incluir traslados, todas as refeições e dois passeios por dia, os hotéis de selva acabam se revelado um bom investimento.
Não são baratos, mas valem o que se paga. (Comparando com o destino que sempre aparece nas comparações: se você pegar um hotel de US$ 100 em Orlando e acrescentar duas entradas para a Disney, traslados e refeições, vai bater em quase US$ 500 para duas pessoas por dia.)
Minha dica para viabilizar essa viagem é emitir a passagem aérea a Manaus com milhas.
Mala de bordo nas medidas certas
Fique de olho nas promoções do seu programa de milhagem; depois de Noronha (para onde é quase impossível viajar com milhas), Manaus é o destino que melhor rentabiliza a suas milhas.
As três hospedagens de selva descritas neste post foram escolhidas justamente pelas diferenças entre seus perfis. Minha antena não estava enganada, e na prática confirmei muito do que intuía antes de viajar.
O barco e os dois hotéis se revelaram três excelentes opções, para três públicos diferentes.
Estas viagens aconteceram em agosto de 2011 (Iberostar Grand Amazon), novembro de 2012 (Anavilhanas Lodge) e setembro de 2013 (Pousada Uacari/Mamirauá).
Em 2018, fiz um novo cruzeiro, desta vez com a Expedição Katerre, e me também me hospedei no hotel Mirante do Gavião, do mesmo grupo. O relato desta viagem está aqui.
Organizador de eletrônicos para viagem
Iberostar Grand Amazon: Amazônia sem perrengue
Se você quer ter contato com a selva com perrengue zero, o barco do Iberostar é imbatível.
O embarque (no meio da tarde) e o desembarque (de manhã cedo) acontecem no porto central de Manaus, que está a 5 minutos de táxi do Teatro Amazonas.
A outra grande atração da cidade, o encontro das águas, está incluído no programa de navegação. Ou seja: se não fizer questão, você não precisa nem dormir em Manaus; terá tempo para visitar o centro histórico ou mesmo fazer um city-tour completo no dia da chegada ou da saída.
As acomodações são confortáveis — ideais para quem vai com crianças e/ou quer ver a selva sem precisar dormir no meio da selva.
A floresta estará o tempo todo à vista, e será visitada em passeios curtos, de 90 a 120 minutos de duração, no início da manhã ou no meio da tarde. Quando o sol estiver alto, você poderá escolher entre os ambientes refrigerados do navio ou as espreguiçadeiras do dec
Comida e bebida seguem o sistema all-inclusive que o Iberostar pratica em seus resorts, com oferta generosa, extensiva aos lanchinhos e até às bebidas alcoólicas (é a única hospedagem de selva em que a caipirinha, a cerveja, o vinho e o espumante não aparecem na conta do check-out).
Os buffets são feitos para não ofender o estômago de ninguém: a culinária regional tem presença pouco expressiva e é sempre complementada por pratos ‘internacionais’ (na minha viagem, teve até uma noite “surf & turf”, de filé + lagosta).
Nas noites, além do passeio de focagem de jacarés, há sempre algum entretenimento — de música ao vivo a um show folclórico de encerramento (pra gringo ver).
Toda semana, o Iberostar cumpre dois percursos.
Da noite de sexta à manhã de segunda, o barco navega pelo Solimões (como o Amazonas é chamado a oeste de Manaus) — uma rota onde, além da selva, é possível observar a vida do homem amazônico, já que nas margens moram ribeirinhos que cultivam a terra na vazante do rio.
E da noite de segunda à manhã de sexta, o barco vai pelo Negro, que é bem menos habitado (mas também tem uma fauna menos rica, pela pobreza de nutrientes de suas águas).
Iberostar Grand Amazon
- É para você: que quer visitar a Amazônia sem abdicar de confortos urbanos
- Não é para você: que busca uma experiência de selva mais intensa
Anavilhanas Lodge: Amazônia com charme
Antes mesmo de ser charmoso, o Anavilhanas Lodge é um hotel inteligente. A localização não poderia ter sido melhor escolhida. O hotel fica numa grande área preservada em frente ao intocado arquipélago das Anavilhanas — um parque nacional com 400 ilhas no rio Negro.
Ao mesmo tempo, está relativamente perto de Manaus (são 180 km por via rodoviária, com acesso pela nova ponte do Negro e por boa estrada asfaltada até a entrada da propriedade) e a meros 10 km do vilarejo de Novo Airão.
A facilidade de acesso aparece na qualidade da construção e da manutenção: o Anavilhanas é rústico por uma questão de estilo, não por necessidade.
E a proximidade da vila (que não é avistada de nenhum ponto do hotel) ajuda a manter alto o astral da equipe, que pode ir e voltar todos os dias, sem precisar passar temporadas confinada.
O que eu mais gostei é o que o conforto e a direção de arte não desvirtuam a sua experiência de selva. A construção é discreta e harmônica — e mesmo a piscina, que poderia estar num hotel de charme urbano, tem uma localização discreta; não é o ponto focal da propriedade.
Existem dois tipos de acomodações. A categoria básica é composta por chalés, geminados dois a dois. Eles foram reformados recentemente, com o aumento da área envidraçada para dar mais a sensação de estar na floresta.
Bangalô
Essa sensação é plena nos bangalôs — unidades independentes que têm toda a frente envidraçada. Se você e$tá podendo, durma num deles. Eu dormi, e digo que é um dos quartos mais charmosos em que já me hospedei no Brasil. É um hotel de selva que cabe até numa lua de mel.
Os ambientes sociais são elegantes na medida — e ficam ainda mais bonitos quando você compara com a breguice extrema do Ariaú. Nenhum detalhe passa despercebido.
A trilha sonora é perfeita: só música brasileira da melhor qualidade (ajudando a mostrar um Brasil muito bacana para os gringos, que são sempre a maioria entre os hóspedes).
Os buffets incorporam ingredientes e temperos regionais à maioria dos pratos, conferindo um leve toque exótico, mas sem radicalismo.
No dia em que me hospedei, a atividade do fim da tarde era remar por um igarapé próximo. Fomos levados de voadeira e lá descemos o igarapé de canoa até uma prainha ótima para cair n’água. (Ou seja: acabei não passeando pelas Anavilhanas.)
Se bem que o melhor passeio pelo arquipélago é feito apenas por quem cacifa o sobrevôo das ilhas — e pode servir como trânsfer de ida ou de volta (a saída é do aeródromo do hotel Tropical, em Manaus).
Anavilhanas Jungle Lodge
- É para você: que procura uma hospedagem charmosa como as da África do Sul na Amazônia
- Não é para você: que acredita que confortos muito urbanos não combinam com selva
Promoções para sua viagem
Pousada Uacari: Amazônia consciente
A Pousada Uacari, na Reserva Mamirauá, é mais do que ecológica — é turisticamente correta.
Sua operação faz parte do plano de manejo da primeira reserva de desenvolvimento sustentável do Brasil, criada em 1996 para preservar a biodiversidade de uma área de mais de 1 milhão de hectares, sem desalojar a população.
Com a limitação da exploração dos recursos naturais, o turismo entrou como uma fonte alternativa de emprego, renda e capacitação.
A localização é remota. À diferença da maioria dos outros hotéis de selva, que ficam relativamente perto de Manaus, a Reserva Mamirauá está no médio Solimões, mais de 500 km a oeste da capital, e a uma hora e meia de barco da cidadezinha de Tefé.
Chega-se a Tefé de avião (1h em jato, ou 1h30 em turboélice ATR, ambos pela Azul), lancha rápida (12 horas) ou barco regional (dois dias de navegação).
Quando feito nos dias de troca de grupo (segunda e sexta), o traslado está incluído nas diárias. O barco da pousada logo deixa o Solimões e entra por um emaranhado de canais cujas margens vão ficando cada vez menos povoadas.
Uma hora e meia depois você chega à pousada, graciosamente situada numa curva do rio (do lago? do canal? do curso d’água? enfim).
Toda a estrutura da Pousada Uacari — sede, quartos, passarelas, áreas de serviço — é flutuante. Mesmo sendo bastante básicos, os chalés acabam oferecendo uma sensação que você não vai ter em nenhum hotel de luxo, seja na selva, seja na praia: a de estar num “overwater bungalow” 🙂
O que me levou à Reserva Mamirauá foram os relatos da Lucia Malla e do Gabe Britto. Pois bem: as qualidades que eles enxergaram ficam amplificadas na comparação com outras experiências mais comerciais de selva.
A Pousada Uacari transpira ingenuidade e autenticidade. Com exceção dos biólogos, que vêm de cidades grandes e passam temporadas de alguns meses, todos os funcionários nasceram e cresceram na região.
É fácil ficar com a impressão de que a familiaridade dos guias com a mata e suas criaturas vem da infância, e não de algum treinamento.
Para mim, o maior diferencial da experiência de selva em Mamirauá são os passeios de canoa a remo. As voadeiras são usadas só para passeios a pontos distantes da região. Para a exploração dos arredores, a canoa é o meio de locomoção preferencial. (Tem dias em que saí de canoa pela manhã e à tarde).
Vagarosamente, por duas horas, duas horas e meia, o guia-canoeiro leva você pelas entranhas da floresta. Sem o barulho do motorzinho das voadeiras, você não apenas vê, mas ouve a floresta. O tempo todo, não só nas paradas. E isso muda a história. A floresta não pára nunca de falar.
O guia também fala, e se você tem a sorte de entender português, vai aprender causos fascinantes. Tipo: na época em que essa castanha amadurece e cai n’água, o tambaqui come e fica mais saboroso.
Já na época em que essa castanha amadurece e cai n’água, o tambaqui come e fica com gosto ruim. (Moral da história: não saia para pescar tambaqui na Amazônia antes de fazer um cursinho em Mamirauá.)
Me diverti muito bancando o intérprete com a californiana que acabou sendo minha companheira de passeios. (A pousada agora tem um professor de inglês residente, pago por crowdfunding, para que os guias também consigam se fazer entender aos gringos.)
Mas não apenas os passeios são roots; o seu chalé terá apenas ventilador, e não haverá muito o que fazer na pousada entre as 11h e as 15h, entre a saída da manhã e a da tarde. (Leve livros.) À noite, quando funciona o gerador, dá para recarregar as baterias dos aparelhos.
A comida é caseira: simples e saborosa. Para quem não come peixe, sempre tem um franguinho. Os sucos são sempre de frutas amazônicas, e as sobremesas, deliciosas.
A pousada tem também uma cabana no meio da mata, com telas no lugar de paredes, onde dá para passar uma noite, acompanhado por um guia. A experiência está incluída nos pacotes de uma semana, mas pode ser paga à parte por quem fica menos noites.
Pousada Uacari
- É para você: que procura uma experiência de selva autêntica com bom custo x benefício
- Não é para você: que faz questão de ar condicionado e hotelaria profissional
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88 comentários
Quero agradecer as dicas e relatos sobre o UACARI LODGE, o qual escolhi por suas dicas no blog. Eu voltei de lá nesta semana e foi uma experiência maravilhosa e autêntica no coração da Amazônia apresentada por guias locais da reserva Mamirauá. Recomendo demais!
Que legal, Daniela! Obrigada pelo feedback!