Bouvet (minha crônica de hoje no Guia do Estadão)

No menuzinho da Amazon

Que livro você levava para o banheiro quando era criança? Eu levava o Almanaque Abril. Minha parte favorita era o capítulo dos países, que vinha com a ficha completa de todos os que estivessem representados na ONU.

Produto interno bruto, renda per capita, principais recursos naturais, sistema de governo, estava tudo ali. Mas a informação que importava, para mim, era a capital. Eu sabia as capitais de praticamente todos os países listados. Minha memória RAM era ocupada com dados como “Uagadugu, capital do Alto Volta”. Gostava também de saber as cidades principais, que sempre apareciam com a população entre parênteses. Eu comparava sempre com Porto Alegre (845.000).

Me intrigava porque algumas seleções que participavam da Copa não eram países de verdade. Sempre me pareceu um escândalo que o País de Gales pudesse disputar as eliminatórias e o Rio Grande do Sul não.

Eu já não consumia mais o Almanaque Abril quando os países deram para trocar de nome. Ceilão virou Sri Lanka (já me acostumei), Alto Volta virou Burkina Faso (me senti traído), Birmânia virou Mianmar (me recuso a aceitar). Como se não bastasse, outros não-países, como as ilhas Faroë, começaram a disputar a Copa (e o Rio Grande, nada).

A legião dos países insignificantes só veio a reaparecer na minha vida recentemente, com a invenção das compras pela internet. Toda vez que eu vou comprar num site internacional preciso achar o Brasil num menu de países. E em quase todos esses sites, o Brasil aparece embaixo de uma tal Bouvet Island.

Faz muito tempo que estou para googlar esse fim de mundo. Demorei tanto, que o assunto foi parar no Economist da semana passada. Um artiguinho delicioso tenta definir o que é um país, e traz à baila, entre outros, o caso da ilha Bouvet. Listada até no formulário de pedido de vistos de entrada nos Estados Unidos, a ilha Bouvet é, pasmem, desabitada. Pudera: é uma das ilhas mais remotas da Terra e tem o território coberto por gelo. Ainda assim, tem direito a domínio próprio na internet (.bv) e prefixo de radioamador.

Qualquer hora dessas aparece nas eliminatórias da Copa. Esperem até o Rio Grande saber disso.

48 comentários

O Almanaque Abril, o atlas do Reader’s Digest do meu avô e o War foram os pilares da minha infância, hehe…! No Almanaque, além das capitais, adorava comparar as rendas per capita, até que uma prima mais velha, politizada e azeda me disse que aquilo ali não representava nada, já que a divisão de renda nem sempre era justa. Ficava morrendo de vontade que Porto Alegre chegasse logo ao milhão de habitantes e só passei a descrer daquela publicação quando vi que Curitiba chegou lá antes – era óbvio que aquilo estava errado!!!

Riq, eu sp me sinto viajando quando entro no VnV,através dos seus relatos, dicas, fotos…mas hj, foi demais. A viajem foi interna,foi na nossa pp vida, nas nossas lembranças afetivas mais remotas e ilustradas. Ah, bom demais. Almanaque Abril, Barsa, Delta. Lembrei de um livro capa dura, faz tanto tempo que nem sei o nome, mas falava da vida dos faraós, Ramisses I,III…..com direito, a fotos, aos mapas e tudo, interessantíssimo. Isso sem falar dos Atlas, tb de capa dura, que eu herdava do irmão mais velho, e que estava sp folheando, procurando países, capitais, bandeiras. Naquela época os livros dos irmãos mais velhos eram aproveitados pelos mais novos e era um luxo ter livros de capa dura….Não sei quem, mas lá em cima alguém falou que o gostar de viajar deve ter começado assim, concordo.
Boa viagem a todos.

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