Diário de Barbados: a chegada

A terra de Rihanna!

O post do barbeador foi escrito no avião (um oferecimento da superbateria do meu HP novo). Se eu tivesse escrito depois de ter chegado, precisaria ter contado outras coisas. A mão de Murphy, por exemplo.

Saí do Brasil com todas as reservas da maratona de vôos devidamente impressas — menos uma, a do vôo final Barbados-São Paulo. O vôo ainda não estava disponível no sistema, então só pude emitir a passagem no meio do caminho. Claro que eu não carrego a minha impressora comigo, então precisava parar num business center de hotel ou num çaibercafé para imprimir. Fui adiando, adiando, e… ah. Não me pediram para ver passagem de volta em lugar nenhum, não vai ser em Barbados, né?

Welcome... mas tenha a passagem de volta em mão, please

Vai ser, sim, Murphy.

E lá fui eu pra salinha da imigração, um momento Barajas no Caribe. A passagem tá no meu computador, se tiver internet aqui eu busco rapidinho, Sir. “Não tem internet aqui.” O oficial achou cabeludíssima a história do vôo direto para o Brasil, nunca tinha ouvido falar. Fui abandonado junto a um chinês, dois antilhanos e dois indianos, todos nós sujeitos à deportação sumária.

(O problema da minha deportação é que, se eu tivesse que pagar por ela, sairia uma fortuna — imagine uma passagem só de ida, e de última hora, primeiro a Miami, depois a São Paulo…)

Foi então que eu li a placa “Proibido uso de câmera e celular” e me lembrei que, habilitando o roaming de dados no iPhone, eu poderia achar o meu cartão de embarque na minha caixa de emails usando a rede telefônica mesmo. Assim que o meu comissário reapareceu, pedi permissão para usar o telefone. Ele, ufa, deixou. A conexão estava lentíssima, mas depois de uma eternidade, carregou o e-ticket.

Bendito eticket!

Pronto. O oficial chamou a moça que tinha me barrado e ela, contrariadíssima, me carimbou a entrada.

Deixei o saguão e fui procurar a locadora em que tinha reservado um carro. E… quem disse que eu achava? Só quando entrei na portinha de outra locadora para perguntar é que descobri que a “minha”  funcionava no mesmo escritório.

Começava aí a segunda parte do suplício da chegada. Os trâmites foram rápidos: o funcionário superatencioso, a reserva honradíssima (tinha feito pela Expedia). A televisãozinha mostrava Brasil x Costa do Marfim — saiu o terceiro gol enquanto eu estava lá. Fui levado ao meu carrinho, pequeno, novinho e simpático.

E seguiu-se então o desafio de achar meu hotel dirigindo na mão inglesa. Debaixo de chuva.

Demora um tempo pro cérebro se acostumar com tudo ao contrário, sobretudo quando você acabou de escapar de ser deportado. Eu já tinha visto o caminho no mapa; precisava virar na segunda rotatória. Só que é MUITO difícil acertar a saída certa da rotatória quando você dirige ao contrário. O cérebro lê a informação de um jeito, e não consegue “espelhar”. OK: o meu cérebro não consegue espelhar.

Resultado — penei um pouco até achar a estrada costeira certa. Em Barbados é difícil saber que você está na costeira, porque a costa toda está construída. Manja Floripa entre Canasvieiras e Ponta das Canas? Não dá pra saber que tem mar em Cachoeira do Bom Jesus. Barbados é praticamente inteirinha assim.

Na mão inglesa (ei, era um engarrafamento, por isso deu pra bater a foto)

(Atenção: esse era um engarrafamento! Por isso deu pra bater a foto)

A maioria das ruas é estreita — o que é péssimo para quem não tem golpe de vista apurado (fico o tempo todo raspando a calota na calçada), mas por outro lado é seguro, porque vai todo mundo devagar. É difícil passar dos 40 km/h. Ainda assim, sem conhecer o lugar, a gente perde a entrada o tempo todo, e tem que ir adiante e arranjar um jeito de dar a volta.

O problema de achar o meu hotel é que o endereço era vago: “Rockley Beach”. Sem número. Numa primeira passada, não localizei. Estacionei, então, no pátio de um fast food, e fui procurar. Ops: era fácil, eu tinha passado na frente.

O hotel — na verdade, um flat: o Southern Surf Beach Apartments — foi realmente um achado. Peguei no TripAdvisor. A moça da recepção foi um amor, me encheu de dicas, folhetinhos, recomendações e telefones de emergência. O quarto: básico, espaçoso, agradável, com varanda e cozinha equipada. A 100 dólares por noite (e a sétima noite de graça), está bastante bom.

Southern Surf ApartmentsSouthern Surf Apartments

No hotel, a moça da recepção recomendou que eu fosse jantar em Oistins, um vilarejo mais ao sul onde há um mercado de peixe e quiosques que servem peixe frito com acompanhamentos regionais. Mas eu estava cansado fisicamente e esgotado emocionalmente, então me contentei em achar St Lawrence Gap, uma ruazinha de restaurantes e bares a cinco minutos de carro de onde estou. Logo no primeiro trecho considerei dois restaurantes. Um tinha a placa “Zagat rated” — cotado no guia Zagat. O outro tinha o slogan “the good old Bajan cuisine” — a boa e velha cozinha de Barbados. Fiquei com este, que ainda por cima era mais barato. Fui seco num prato típico — “cou-cou”, descrito nos guias como uma mistura de milho e quiabo, servido ali com peixe ensopado.

Sweet Potato, St Lawrence GapCou-cou

Decepção. Imaginava que o cou-cou fosse um caruru diferente, mas não passava de um angu com pedacinhos de quiabo (o quiabo à parte, porém, estava uma delícia). Achei que merecia uma sobremesa (banana flambada) e fui dormir o sono dos quase-injustiçados.

Contrariando os sites de meteorologia, a segunda-feira amanheceu ensolarada. Aproveitei pra vasculhar as praias das costas sul e sudeste.

A costa sul, onde estou, é Barbados para mortais: aqui ficam os hotéis de preço moderado e praticamente toda a vida noturna da ilha. Vai do arrabalde da capital, Bridgetown, até pouco adiante de Oistins, o tal vilarejo do mercado de peixe.

São praias de faixa de areia estreita e mar — pelo menos nesta época do ano — esverdeado. A areia é amarela e a água não é mais cristalina do que em Maceió ou em Floripa. Não é o tipo de praia que me tiraria do Brasil. A que achei mais bonita foi Maxwell Beach, aí abaixo:

Maxwell Beach, Barbados

Mas a que tem o melhor serviço de bordo é Dover Beach:

A cerveja de BarbadosDover Beach, BarbadosPosto salva-vidas em Dover Beach

Se bem que eu acho que o melhor trecho de praia aqui da região deve ser justamente a praia onde estou, Rockley/Accra, que tem um deck (“boardwalk”) com restaurantes charmosos. Mas não consegui explorar na segunda, porque o tempo fechou justo quando voltei pra casa 😳

Dei também uma chegada na praia mais famosa da costa sudeste, e talvez de toda a ilha: Crane Beach. É tida como a mais bonita, e de uma certa forma é: tem bastante areia (branca!), coqueiros e uma linda pedra à direita (que não fotografei direito!), sobre a qual foi construído o mais antigo hotel da ilha (e até hoje um dos mais elegantes), o The Crane. Mas… tem mais espuma e ondinha intermitente do que praia em Fortaleza. De novo, não é uma praia que me tiraria do Brasil. (E quem fica neste hotel está tão isolado quanto quem se hospeda no Costão do Santinho em Floripa.)

Crane Beach, Barbados

Crane Beach, Barbados

O tempo fechou na volta pra casa, então troquei de roupa e fui comprar meu barbeador em Bridgetown. Comprei um chinês vagabundo por… 20 dólares (40 dólares barbadianos). Não, eu ia conseguir ficar sem me barbear. Passar bronzeador em penugem é bem nojento…

Centrinho de Bridgetown

À noite fui jantar num bar que tinha achado simpático por fora, o Mojo, filial de uma rede britânica. Não me arrependi. Ambiente gostoso, gente interessante, comida bem-feita e não-cara. Às 10 da noite ia começar música ao vivo. Não pude ficar. Tinha que acordar cedo.

barb-mojo

A terça-feira foi dedicada à costa oeste, que é o filé-mignon imobiliário da ilha. Uns quinze minutos depois de Bridgetown começam a aparecer as grandes propriedades muradas e algumas suntuosas construções neoclássicas.

As entradas públicas para a praia são raras e espaçadas — e dificilmente têm lugares para estacionar nas redondezas.  Mas pelo menos são sinalizadas:

Placa de passagem pública para praiaPassagem pública para praia

O mar é calmíssimo, mas tanto a areia e a água me pareceram menos claras do que eu esperava. A sensação é a das praias de Ilhabela voltadas para o continente — com menos gente, claro.

Praia vizinha ao hotel Colony Club

Gostei de Mullins Beach, uma praia com serviço de bordo entre Holetown e Speightstown. Almocei por ali — um peixe frito com arroz e molho cajun.

Mullins Beach

Mullins restaurantPeixe cajun

Na volta pra casa, fui conferir um bar de praia imediatamente ao sul de Bridgetown, o Boatyard. O lugar cobra consumação mínima (você paga 20 dólares barbadianos/US$ 10) de entrada e pode usar para beber ou alugar cadeira de praia. É muito freqüentado pelo pessoal que aporta em cruzeiro.

The Boatyard, Barbados

Já passava das 3 da tarde quando entrei. E não é que… ei, a praia é LINDA! Areia branca, água transparente. Aí sim: este é o tipo de praia que me tira do Brasil.

Praia do Boatyard, Barbados

The Boatyard, Barbados

(Ali pertinho fica o Hilton, oferecido nos pacotes; ainda não fui conferir a praia, mas fiquei com esperança de ser a melhor entre os hotéis das operadoras.)

Resumo das primeiras impressões: achei que no quesito praia Barbados é a menos interessante de todas as ilhas oferecidas com vôos diretos do Brasil. Mas a terra de Rihanna pode ser um destino interessante para quem é menos obcecado com praia do que eu. Vou dedicar a segunda metade da minha estada a fazer todos os passeios do menu. E estou gostando do climão geral — Barbados me parece uma espécie de Jamaica light : compacto, seguro, mas com uma personalidade mezzo britânica, mezzo rastafári.

Continuem ligados…


75 comentários

Ola Ricardo,

So mais uma pergunta, é necessário visto em Barbados?

Muito Obrigada/Vivi

    Não. É bom ter vacina contra febre amarela, porque podem implicar com você na chegada.

Ola Ricardo

Parabéns pela reportagem de Barbados. Estou indo para lá em Agosto e reservei o Hotel Sandy Lane. Você conheceu?
É necessário alugar carro em Barbados?

Muito Obrigada/Vivi

Riq,
Faz tempo que acompanho suas dicas de viagem, seja no blog ou nas dicas da Band News, de manhã cedo. A última delas (Vem Comigo do Breno), me levou a Los Roques (que paraíso !!!!). Agora estou aqui te pedindo uma dica. Estou planejando viajar em janeiro ao Caribe, no inverno… sei que por lá o tempo é sempre bom. Mas já passei um carnaval em San Andres, onde a noite tinha que usar casaco. Gostaria de dicas de lugar para essa época do ano (sua recomendação pessoal).
Escutei você falando que iria a Barbados, mas pelo post acima, parece não ter sido nada e outro mundo.
Estarei com meus filhos, e curto muito poder fazer coisas a pé, com hotel do tipo pé na areia, com muito sol, descanso e uma estrutura minima. Aguardo suas dicas para me decidir. Obrigada !!

Olá Ricardo. Sou publicitária e estou em Barbados também fazendo a coberura deste voo inaugural (Brasil – Barbados) do dia 26/6. Seria bom nos encontrarmos. Gostaria até de entender melhor estes seus transtornos na saída de SP. Pelo que entendi estávamos no mesmo voo!! Estou com alguns jornalistas no Hilton Hotel (acho que é perto de onde vc está). Amanhã vamos fazer o paseio de submarino…não quer ir junto? Let me know!

    Eu só voltei com o vôo inaugural. Cheguei por Miami uma semana antes. Bom passeio pra vocês!

Definitivamente a melhor época do ano para visitar Barbados é durante o Carnaval deles, mais conhecido como Crop Over. Estive lá o ano passado e tive a oportunidade de desfilar num bloco pelas ruas de Barbados durante o Grand Kadooment no dia 3.8.2009.

Muito parecido com uma micareta brasileira, porém distinto pelos ritmos calypso e soca e pelas centenas de visitantes da Inglaterra e de outras ilhas do Caribe como Trinidad & Tobago, Jamaica, St. Lucia… Muito rhum punch também !!!

Recomendo uma visita aos seguintes sites a quem estiver interessado:
http://www.barbados.org/cropover.htm
http://www.barbadoscropoverfestival.com/
http://www.kadooment.com/crop_over_festival.asp

As noites no Harbour Lights são incríveis nessa época do ano ( https://www.harbourlightsbarbados.com ) e foi lá na frente do Harbour Lights que eu comi um dos melhores hot dog da minha vida !!! Relish, mustard, pepper sauce, chips…

Bom, fica aqui a dica. Barbados não é apenas praias de areais brancas e águas cristalinas, tem sim sua cultura caribenha e pode interessar aos brasileiros mais curiosos. Se não fosse por motivo de trabalho, eu já estaria com as passagens da Gol compradas para o próximo Carnaval na ilha!

Boa viagem

Fernando Camargo

P.S.: Sim, nadar com as tartarugas em Barbados também é priceless!

Até achei bonitas as praias de areias amareladas e água calminha razoavelmente cristaliana, e Crane Beach é linda para olhar, mas definitivamente não o suficiente para me tirar do Brasil, até aqui perto tem coisa melhor em Arraial do Cabo (exceto pela temperatura da água, claro). E qual o nome da última praia, a melhor?

Ufa! salvo pelo iphone! E tambem fiquei mucho interessada nessa personalidade mezzo britânica, mezzo rastafári de Barbados. Tô ligada 😉

Olá Ricardo,
Achei bem interessante suas dicas. Estou indo para Barbados no dia 10 de julho com a familia (marido e 2 filhos). Ainda não reservei hotel. Saberia me dar umas dicas sobre onde seria melhor ficar (principalemnte por estar com crianças) e que não seja muito caro?

abs

Oi Riq, tem lugar para fazer snorkel?

    Nas praias da costa oeste, sem dúvida. E há muitos passeios de barco a lugares de mergulho e snorkel.

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