Fraldão (minha crônica de hoje no Guia do Estadão)

No bloco Fogo na Cueca, no Bairro Peixoto

Ipanema, Rio, 10 da manhã da segunda-feira de carnaval. Por toda a avenida beira-mar ainda se vêem vestígios da passagem do Simpatia é Quase Amor, o megabloco que saiu na véspera. Deu no jornal que o carnaval de rua do Rio já tem mais foliões que o de Salvador. Eu acrescentaria que os blocos maiores estão ficando quase tão grandes quanto o Galo da Madrugada, do Recife – aquele que está no Guinness como o maior da Terra.

Entre os detritos de carnaval dos quais os banhistas precisam desviar estão três ou quatro bolsões de banheiros químicos instalados no calçadão. Fedem tanto que provocam ânsia ao coitado que passe a um metro de distância. A fedentina capturada durante a noite agora cozinha sob o sol, transformando-se numa bomba de gás paralisante sabor xixi. É doloroso imaginar que aquilo tenha sido produzido por pessoas ordeiras, que usaram o banheiro em vez de se aliviar na sarjeta. Aquele xixi é um xixi bem-comportado, um xixi igual ao seu e ao meu – não é que nem o xixi maloqueiro dos que acham que parede é penico. Você passa por ali e promete nunca mais fazer xixi na vida.

Só pode ser essa a função dos banheiros: estimular o nosso corpo a uma mutação genética que leve à sublimação do xixi. A continuar assim, daqui a um ou dois milhões de anos nasceremos com bexigas químicas, cujo odor certamente vai precisar ser disfarçado com perfume francês químico também.

Enquanto isso não acontece, o folião no carnaval do Rio de Janeiro precisa escolher entre o inferno do banheiro químico ou o xilindró. A mesma prefeitura que vendeu o carnaval de rua a uma marca de cerveja decretou a caça impiedosa a todos os que consumirem o produto do patrocinador e não conseguirem enfrentar a barra pesadíssima dos banheiros químicos. “Prendem os mijões e deixam os ladrões à solta”, como vi reclamarem no Twitter. O tiro saiu pela culatra: o carnaval de 2010 criou uma geração com trauma irreversível de banheiro químico.

É que, junto com o tal do Choque de Ordem, a prefeitura do Rio esqueceu de implantar um Choque de Higiene. Olha só, seu prefeito: tão obrigatório quanto instalar banheiros químicos é dotar cada bolsão com uma equipe de limpeza de plantão que passe 24 horas deixando as instalações próprias para uso do eleitor.

Ou isso, ou ano que vem aproveitem para vender o co-patrocínio do carnaval de rua a alguma marca de fraldas geriátricas.

26 comentários

De nada adianta ter o banheiro e não ter a manutenção! O cheiro fica insuportável. Coitado de quem bebe cerveja! (que é altamente diurético).

O carnarval do Rio era excelente há uns anos atrás. Já morando em SP, ano passado levei amigos paulistas para curtir o carnaval carioca e já estava infernal. Os grandes blocos pareciam procissão, vc só conseguia escutar algum sinal de samba muito longe. O único bloco grande que conseguimos curtir foi o Cordão do Boi-Ta-Tá, que deixou de ser bloco pra fazer um mega baile no Paço Imperial.

A Prefeitura do Rio bem que poderia ter uma aulinha sobre banheiros químicos com o pessoal que organiza os shows no Estádio do Morumbi, em São Paulo.
Estive no show do AC/DC no ano passado e fiquei encantada com a limpeza, organização e higiene dos banheiros químicos disponibilizados ao público do gramado. Cada unidade tinha luz, cheirinho de desinfetante, papel higiênico e – pasmem! – um dispenser com álcool gel!!!
As excelentes condições dos banheiros químicos do Morumbi perduraram desde a abertura dos portões até o término do show, pois uma equipe de limpeza fazia constante manutenção nos mesmos.
Nota 10!

É o verdadeiro ruim com, pior sem.
Carnaval, Reveillon, deixam no ar literalmente um cheiro de pós festa.
Difícil mesmo deve ser para os visinhos dos banheiros.

É doloroso, mas eles podem ter uma idéia muito pior: obrigar todo mundo a usar sondas uretrais (*AI!*)

A geração com trauma de banheiro químico nasceu não só no Rio, mas em toda cidade com um carnaval de rua que o valha. Passei o feriado em Diamantina, cidade com uma das maiores festas de carnavais de Minas, e era a mesma coisa: banheiros químicos nojentos e prisão e multa de 100 reais para quem se aventurasse por algum dos “becos do xixi”.

No último dia, um taxista me disse que demorava mais ou menos um mês pro cheiro acabar completamente. Tive dó dos moradores…

Abraços!

Na segunda-feira de carnaval pela manhã, ainda cedo, sai do Leblon e a minha intenção era caminhar pela orla até o Arpoador. Impossível! A fedentina de xixi cozinhando era insuportável mesmo, Riq. Que horror! Mas a melhor mesmo vi no jornal de ontem, e não quis acreditar. O Fraldão, destinado ao público masculino, disponível também na urla. Voce vê o fulano fazendo o seu xixi de costas protegido por uma porta, um tipo de mini-saia. Se a moda pega!

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