Senão (minha crônica no Divirta-se do Estadão)

Se sim?!?!?

Preciso escolher melhor minhas causas. Deixar de perder tempo esbravejando contra o fim do trema, a perseguição sórdida ao hífen e o extermínio dos acentos queridos. De nada adianta insistir em apontar o ridículo de transformar “risco de vida” em “risco de morte”. Ou protestar porque “ao contrário” agora se escreve “diferentemente”.

Tudo o que porventura tiver sido incorporado pelos revisores de jornais, revistas e editoras já é causa perdida. Essa gente não sossegará enquanto não destituir a própria Gisele Bündchen de seu trema de nascença e conseguir fazer com que “pois sim” e “pois não” passem a significar exatamente o contrário do que sempre significaram.


Enquanto neuróticos como eu se distraem vociferando contra essas barbaridades, mais um monstro se forma nas profundezas dos discos rígidos dos computadores. E como um vírus, vai se alastrando por emails, torpedos e mensagens instantâneas. A primeira vez que li, achei apenas feio. Da segunda vez, estranhei a coincidência de mau gosto. Na terceira, pensei em acionar o anti-spam.

Refiro-me ao abominável “se sim”. Não conhece? Dou um exemplo.

“Você vai viajar para a praia na Páscoa? Se sim, vai na quarta ou na quinta?”

Uma pergunta como essa só merece uma resposta: “Como assim, SE SIM?????”.

O que houve com a velha e boa repetição do verbo? Por exemplo: “se viajar, vai na quarta ou na quinta”? Tudo bem, eu sei que um elegante “caso você viaje” talvez seja pedir demais. Também entendo que, hoje em dia, quanto menos caracteres, melhor. Mas – SE SIM???? Me economize.

O pior é que, a essa altura, eu já recebi “se sins” de pessoas queridas e chegadas. Gente que eu convidaria para jantar e para quem mandaria flores no aniversário. Sei que não fazem por mal. Foram contaminadas, mais ou menos como a gente não resiste a um meme no Twitter.

Só que memes do Twitter (bordões que se disseminam e que normalmente contêm erros básicos de gramática; não vou escrever nenhum aqui porque a revisão corrige) são divertidos. E “se sim” — perdão, amigos — é de chorar.

Você já usou “se sim”? Caso tenha usado, pode reconsiderar? Senão, já viu.

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45 comentários

Acho que eu vivo no mesmo mundo paralelo da Sylvia, da Anna, da Camila…. não uso, nunca vi e não usaria o “se sim”… eca!!
e même???? nao sei também….
Ah! só pra esclarecer, não tenho 100 anos… hahhaaha… mas acho que no mínimo temos que cuidar de nosso português.
Por fim, me solidarizo com o Riq pq tb implico muito com essas pequenas coisas… deve ser doença! hehehe… bjos!

E o que dizer da praga infernal do “por conta”, que exterminou os bons e velhos por causa, porque…

    O “por causa” não foi exterminado pelo “por conta”; foi exterminado pelo “por causa que”. Sempre que ouço alguém falar “por causa que” eu pergunto: “Não é mais fácil falar simplesmente ‘por causa’ ou simplesmente ‘porque’?”

O pior é que, daqui a pouco, o “se sim” virará “sessim”!!!! senão&sessim pode ser nome de dupla sertaneja!

    “Sessim” juntar-se-ia ao “concerteza”! Existem outros, certamente, mas não consigo me lembrar de nenhum.

SE sim, se sim não. Traduzindo SErgipe Sim, se sim como muleta não.
Mas Riq é sempre assim não sei onde são gestadas palavras e expressões que de repente contaminam o falar. Quem diabos inventou o então que agora pontua o início de cada frase de 11 em cada dez entrevistados em rádio e TV e se espraia no falar de todos? E a teima em traduzir official como oficial mesmo que se refira a um polícial, ou a qualquer funcionário público?
E tem mais aquelas palavras e expressões que surgem do nada e passam a ser empregada para qualquer coisa e viram um modismo, como a moribunda a nível de, ou enquanto (Riq enquanto blogueiro, escreveu…). Agora não há simpósio, seminário, congresso que eu vá que não tenha alguém que use retrofit ou devolutiva. O retrofit é uma maneira pedante, que inicou na engenharia e arquitetura, de dizer que vai fazer uma renovação, customização e substitui o upgrade, e já fvirou até verbo, retrofitar. Já a devolutiva, começou se empregando para justificar um novo encontro para discutir o que já foi discutido, sobre a justificativa de dar um retorno (feedback) e agora para tudo se faz devolutiva, por exemplo você faz uma ConVnVenção em Dubai e depois faz uma devolutiva da ConVnVenção em Dubai, mesmo que esta devolutiva seja realizada em outro lugar.
E nem vou mencionar outra vez da mistura e promiscuidade do onde e aonde.

    O então é de matar!! e eu achando que era implicância minha… O se sim/se não nunca vi nem ouvi, assim como devolutiva/retrofit, já bastam os gerúndios, praga infinita!!

Péssimo esse “se sim” e vai pegar. Seus parentes “quem gostaria”, “disponiblizar”, o gerúndio e outros já fazem parte das nossas vidas. Será que pega mesmo? Se sim logo estaremos todos lendo isso todos os dias!

Ah, e enfim entendi o que raios significa “meme”! Obrigada! Agora resta saber se fala même ou mími.

    Olá, Mariana “de Toledo”! Já ouvi falarem dos dois jeitos! Mas “même” é mais comum!

    Não sabia que a Bóia era entendida de assustos não-viajandísticos :mrgreen: Que sabida!

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