São Paulo é uma cidade tão cosmopolita, que a gente muitas vezes esquece de procurar o Brasil que existe dentro dela. Pois neste fim de semana eu resolvi aproveitar a passadinha da carioca Mariana "de Toledo", a.k.a. Merél, para mostrar que isso aqui, ô ô, é um pouquinho de Brasil, iaiá...
A primeira parada do dia foi em Vila Medeiros, um bairro da Zona Norte que foi posto no mapa dos moradores de outros quadrantes da cidade por um jovem chef: Rodrigo Oliveira, do Mocotó. (A Alexandra Forbes fala dele, do restaurante e do sucesso do lugar com os grandes chefs espanhóis que vieram visitar São Paulo.)
Depois de estudar gastronomia, o rapaz resolveu assumir o bar do pai, um pernambucano do sertão radicado havia três décadas em São Paulo. Manteve o nome e a especialidade (mocotó), mas reinterpretou as receitas (e a apresentação dos pratos) à luz da alta gastronomia. Resultado: da noite para o dia, virou o dodói da imprensa de gastronomia paulistana. Finalmente a cidade tinha seu equivalente aos grandes pés-sujos do subúrbio do Rio, a uma distância do centro que já dava para caracterizar como subúrbio de São Paulo. E o que é melhor: era um pé-sujo bastante limpinho...
Com bastante atraso (como se alguém estivesse esperando que eu me manifestasse, quá quá), devo dizer que saí de lá com a certeza de que não é só hype, não: o lugar é bacana de verdade.
Os pratos são leves e saborosos -- e baratíssimos. Quase todos vêm em quatro tamanhos (mini, pequeno, médio e grande), sendo que a porção "grande" nunca é mais do que R$ 15. O negócio é vir de turma, pedir todos os petiscos e acompanhamentos que der, e um prato principal de carne para rachar. (No sábado tem uma costelinha desossada de porco com molho de mel de engenho que vou-te contar...)
A gente chegou às 15 pras duas, quando já tinha fila mas ainda estava confortável esperar no bar. Escolha uma caipirinha/roska (jabuticaba? caju?) ou um alguns dos drinks de cachaça (a Garapa Louca tem caldo de cana, suco de limão e outras mumunhas mais) e mande ver nos quadradinhos de tapioca com queijo de coalho e molho agridoce.
De repente apareceu um garçom oferecendo escondidinhos de carne de panela, e a gente precisou aceitar. Quando chegou a dobradinha (com a finesse de quem nasceu bucho, mas se educou e virou tripe), nossa mesa já estava pronta.
Ainda pedimos a mocofava (o signature dish do chef), mais um sarapatelzinho (o garçom perguntou se a gente sabia mesmo o que estava pedindo -- yes, we do: miúdos de porco), baião-de-dois (sequinho), um escondidinho de queijo de cabra e legumes (pro Nick, que tem problemas com quase todas as coisas arroladas até agora) e a tal costelinha.
Tomamos muitas Original e arrematamos com um festival de doces caseiros -- que podem vir sozinhos (como esse de jaca) ou em seleções de quatro (feitas pelo freguês).
Teve também um pudim de tapioca e, cortesia do Rodrigo, sorvete de rapadura. Com café e gorjeta, essa orgia gastronômica deu menos de 50 pilas por pessoa.
Mas a minha teoria é que não é apenas a qualidade da cozinha que fez o sucesso do Mocotó. Sem o Google Maps este restaurante continuaria no completo anonimato
Brincadeirinha: nem é tão difícil de chegar assim. Basta pegar a avenida Zaki Narchi (a primeira avenidona passando a rodoviária do Tietê na avenida Cruzeiro do Sul), passar pela antiga penitenciária do Carandiru (que virou parque; estará à sua esquerda) e seguir as placas para a Av. Conceição.
Uma vez na Conceição, siga toda vida até aparecer uma rua Rev. Israel Vieira Ferreira (a placa grande dirá apenas "Israel") e então suba até a Av. N. Sra. do Loreto, que aparecerá à sua direita. Pronto, chegou.
Às quatro da tarde, espantamos a moleza e fomos para o segundo round de brazuquice explícita do sábado. Do subúrbio direto para o Centrão.
Ali, na esquina da Praça Roosevelt com a av. Consolação (mas do lado oposto ao dos teatros), todo sábado acontece um sambão comandado pelo pessoal do Samba da Vela, de Santo Amaro.
Quem me apresentou o lugar foi a Flavia, nossa LadyRasta, que bate ponto todo sábado e se movimenta com desenvoltura por lá. Na definição dela: "Não parece aquele lugar que sempre tem na novela das oito em que os ricos e os pobres se encontram?" (Leia mais aqui.)
Mais do que isso, é um lugar inacreditável de se encontrar em São Paulo, e tão perto de casa.
O que nossa convidada Merél achou de tudo isso? "Puxa, até que enfim alguém me tirou da Augusta!"
Então já sabe. Quando você ficar em São Paulo no fim de semana e quiser dar um pulinho no Brasil, o roteirinho taí.
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