Esta semana a revista americana Condé Nast Traveler anunciou sua Hot List 2010, com uma seleção de 134 novos hotéis ao redor do planeta. O Brasil emplacou três novidades: o Uxuá Casa Hotel, uma coleção de casas no Quadrado de Trancoso; o Tivoli Mofarrej, de São Paulo, segunda incursão dos portugueses do grupo Tivoli ao Brasil (a primeira foi na Praia do Forte), desta vez repaginando um hotel de luxo a uma quadra da avenida Paulista; e o Hotel das Cataratas, de Foz do Iguaçu, em sua mais nova encarnação, agora sob a administração do grupo Orient-Express. Em dezembro do ano passado eu fui a Foz a convite do Hotel das Cataratas e me impressionei com o que vi -- ainda mais à luz do que eu conhecia da vida passada do hotel, quando pertencia à rede Tropical, da Varig. O texto abaixo (atualizado agorinha) foi originalmente publicado na minha coluna Turista Profissional, que sai todas as terças no suplemento Viagem & Aventura do Estadão.
Espreguiçadeiras de plástico na piscina. Mesas de plástico ao lado da churrasqueira. Cortinas de plástico rosa e paredes azul-turquesa no banheiro. Colchões antigos. Ar condicionado barulhento. Assim era o Hotel Tropical das Cataratas na primeira vez em que me hospedei por ali, em maio de 2005.
O serviço era atencioso e simpático, as diárias não pesavam no bolso, mas o hotel claramente não estava à altura do lugar onde fica: dentro do Parque Nacional do Iguaçu, a poucos passos das cataratas.
Caducada a concessão anterior, por pouco o hotel não escapou de fechar para sempre. Havia um movimento em Foz do Iguaçu para que o prédio se tornasse um museu ou centro de visitantes.
A nova licitação foi adiante e, em maio de 2007, o hotel foi cedido por vinte anos para o grupo Orient Express -- o mesmo que opera o mitológico trem de luxo e também é dono, no Brasil, do Copacabana Palace.
A reforma começou em seguida -- mas o hotel nunca chegou a ser desativado. Toda a equipe recebeu uma segunda chance e os hóspedes tiveram o (duvidoso) privilégio de ver o hotel ser transformado à sua frente; durante alguns meses, isso significou não poder freqüentar a piscina.
Que, a propósito, ficou assim:
Em outubro, ainda sem o spa e a recepção concluídos (um inverno inesperadamente chuvoso atrasou as obras), o grupo Orient Express hasteou sua bandeira. Renascia o Hotel das Cataratas.
Para quem conheceu o hotel na fase decadente, é fácil ver onde estão sendo gastos os US$ 57 milhões da reforma. Os apartamentos eram assim, segundo o meu arquivo implacável:
Ficaram assim:
Todos foram reconstruídos internamente para abrigar banheiros mais confortáveis. Os azulejos parecem que estão ali desde antes do hotel existir, mas foram desenhados especialmente para a reforma.
A área das piscinas não destoa mais do conjunto do hotel -- assim como as alas mais novas, que ganharam detalhes para parecerem contemporâneas da porção original do prédio. E tudo está ficando muito mais classudo do que jamais foi.
É um belíssimo trabalho -- de certa maneira, até mais bem-sucedido do que o realizado pelo grupo no Copacabana Palace. Enquanto no Copa é difícil trazer de volta o glamour de um Rio que não existe mais, no Hotel das Cataratas o Orient-Express pôde inventar um padrão que nunca houve por ali.
Não se trata de um luxo desmedido -- não é assim que se faz um hotel no meio da selva (ou, vá lá, de um parque nacional). Mas o Hotel das Cataratas é elegante na medida: o suficiente para nos lembrar o tempo todo o privilégio que é estar hospedado de frente para as Cataratas do Iguaçu. Substitua as cataratas por Pirâmides ou Taj Mahal e o efeito seria exatamente o mesmo.
As primeiras quedas podem ser avistadas da Suíte Cataratas ou da varanda do bar do térreo. Melhor do que a vista, porém, é ter acesso aos mirantes a qualquer momento. Antes do parque abrir, por exemplo: caminhar até a Garganta do Diabo, sem a companhia das multidões, é possivelmente a atividade física mais bonita que você vai ter oportunidade de fazer na vida. Se não quiser ser tão saudável, aproveite na volta o champanhe do bufê do café da manhã.
O restaurante ao lado da piscina funciona no sistema de buffet -- à noite, com churrasco. O restaurante principal só foi inaugurado no início deste ano, com conceito e o cardápio assinados por Russo, o pupilo dileto de Laurent Suaudeau, que se esmerou em criar receitas que aproveitem o potencial dos peixes de rio da região, como o surubim e o pacu. (Infelizmente Russo sofreu um ataque cardíaco no início de abril e veio a falecer.)
Além da reforma do hotel, o grupo vai investir US$ 7 milhões no parque - uma das primeiras obras será enterrar toda a fiação aparente. Parte da verba está sendo investida no Projeto Carnívoros do Iguaçu, que espalhou câmeras pela mata para identificar os hábitos de onças pintadas, pumas e outras espécies que habitam o parque.
As tarifas camaradíssimas de soft-opening já se foram, mas as diárias começam em razoáveis US$ 360, com café da manhã. Comer no hotel, porém, não custa pouco -- o buffet da noite sai R$ 90 por pessoa. Ainda assim, acho que é um hotel para pôr na lista das extravagâncias a fazer enquanto o real esteja valorizado (e antes dos holofotes se voltarem para o Brasil por conta da Copa 2014).
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