Texto e fotos | Lu Malheiros, enviada especial
Recapitulando: na véspera, o meu grupo se dividiu ante duas possibilidades do menu de passeios do Tierra Patagonia. Alguns optaram por passear de carro de manhã até a Lagoa Azul e fazer uma cavalgada à tarde. Outros resolveram enfrentar o desafio de fazer a caminhada, de dia inteiro, até a base das pedras que dão nome ao parque Torres del Paine.
Acordei ansiosa pensando se havia feito a escolha certa. Saímos às 10h, fizemos uma rápida parada na Lagoa Amarga para vermos os flamingos bem de longe e seguimos para o início da trilha, próxima ao Hotel Las Torres.
O que os guias falam é que a trilha é difícil, o tempo médio de caminhada (ida e volta) é de oito horas e a primeira parte é a pior.
Como esperado, a primeira parte da trilha foi ruim, uma subida longa e íngreme, quase sem pontos de descanso. Fiquei aliviada quando ela acabou e contente pelo pior ter ficado para trás.
Depois da subida, vem um caminho bastante ondulado -- com trechos ligeiramente assustadores para quem tem medo de altura - até se chegar ao Refúgio Chileno! Pausa para descansar, fazer um lanche (com a comida que o Felipe estava carregando) e ir ao último banheiro de verdade da região. Em 20 minutos estávamos de volta à trilha.
A seguir, trecho bonito de bosque, caminho “em degraus” e com um monte de lindas raízes para se tropeçar. (Ah! Mas, tudo bem, o pior já havia passado, lembra?)
Lá pelo meio do bosque, começamos a encontrar com o pessoal voltando das Torres. Eles passavam nos animando: “não desanimem” ou “coragem, a vista é linda”. Efeito psicológico nota dez! Trilha cheia de gente de todas as idades (em março e outubro o movimento nas trilhas é menor). Quase morro de inveja quando velhinhas inglesas cheias de gás passam por mim sem um sujinho na roupa!
De repente, o bosque acaba e só vejo um grande amontoado de pedras. (Peraí, o pior já não tinha passado? Aqui não tem trilha! Cadê o funicular?). Vendo a minha cara de ponto de interrogação, o Felipe nos avisa que vamos subir por uma trilha estreita no meio daquelas pedras mal empilhadas. Foi o pior momento para mim. Jurei que tomaria juízo, que uma senhora como eu já devia ter aprendido a avaliar melhor as situações em que se metia e que se torcesse o pé ali... (Calma, melhor não surtar). Soltei um “não acredito que tô aqui” e fui adiante. Não me lembro da última vez em que me concentrei tanto numa tarefa.
Pedi para Felipe ir na frente e imitava os movimentos dele com a maior precisão de que era capaz. Pedra, pé direito, pedra, pé esquerdo. Foi lento. Mas sobrevivi até a adolescentes que subiram a trilha correndo provocando uma pequena avalanche pelo caminho.
E, de repente, as Torres!
O pessoal estava certo, a vista é linda, o lago é maravilhoso, as Torres deslumbrantes, mas eu só consegui aproveitar a paisagem por uns 15 minutos! Depois, a única coisa que passava pela minha cabeça era voltar (ainda bem que anoitece tarde!).
Comi meu sanduíche de palmito - não gosto, mas estava com fome e tinha pedido pra o hotel preparar um “vegetariano” -- tirei as fotos de praxe para atestar que estive lá, mas, please, quero mais é voltar.
Apesar dos meus pés que me matavam e das bolhas nas mãos pelo uso dos bastões de caminhada, a volta foi melhor, pois já conhecia o caminho.
Não consegui fazer muitas fotos.
Eu e mais uma colega ficamos para trás. Outra, gentilmente, diminuiu o ritmo para nos acompanhar. Se não fosse pelo apoio delas e do Felipe, não sei se conseguiria.
Por fim, depois de 10h de caminhada – 5h30 para ir e 4h30 para voltar – estávamos de volta!
A chegada foi comemorada, sentada na van, comendo um bolinho de nozes que roubei do café da manhã e que jurei que só devoraria ao concluir a trilha. Na volta, falei o tempo todo que, ao chegar, ia precisar de uma Coca-Cola estupidamente gelada. E não é que o Felipe me esperava com uma!
O passeio para ver as Torres bem de pertinho valeu a pena, não só pelas Torres, mas pelo desafio em si. Por outro lado, no meu caso, a decisão de fazer a trilha não foi das mais sensatas: tenho mais de 40 anos, não faço atividade aeróbica há mais de um ano e, por fim, tenho hérnia de disco lombar (controlada com Pilates). Contaram a favor o fato de eu gostar de caminhar, o de ter feito um check-up cardiológico completo há alguns meses (tudo OK), o de estar usando botas e roupas adequadas, e, fundamental, ter feito a trilha com um guia experiente e com colegas que me apoiaram na caminhada.
Resumindo, se você pretende fazer essa trilha deve se preparar antes. Consulte seu médico, treine, amacie bem as botas. Assim, você aproveitará melhor o caminho que é deslumbrante!
Viagem a convite do Tierra Patagonia.
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