Praia do Atins
Oito anos se passaram desde que vim aos Lençóis Maranhenses. Muita coisa mudou. O que mudou menos foi Santo Amaro: com exceção do calçamento do miolinho da vila, tudo está mais ou menos do mesmo jeito que encontrei em 2005. Barreirinhas está mais bem-apessoada: a beira-rio ganhou um deck civilizadinho, o centro da cidade está limpo e o turismo, muito organizado; a cidade parece mais próspera do que há oito anos.
Atins
As mudanças mais interessantes, a meu ver, aconteceram em Atins. Visualmente, o lugarejo mudou muito pouco. Mas da minha última viagem para cá, Atins pegou a rebarba da rebarba da onda do kitesurf dessa costa norte do Nordeste. O kite é a melhor coisa que pode acontecer a um vilarejo de praia. Junto com as pranchas a vela aparecem pousadas charmosas e restaurantes de gringos, de olho em turistas que permanecem mais tempo do que nós outros, os sem-vela, que ficamos no pula-pula do pinga-pinga e mal paramos quietos.
Pousada Cajueiro Atins / Pousada Maresia
Venha na temporada das lagoas cheias (julho e agosto) e você também terá motivos para ficar mais tempo. Há lagoas a 40 minutos de caminhada (não é preciso gastar os tubos com jipe), a praia é deliciosa (mas você vai precisar levar água e víveres, porque não tem serviço de bordo) e as pousadas oferecem mais charme e conforto do que as de Santo Amaro.
Urucum
No meu segundo dia na cidade, marquei um passeio de jipe até uma lagoa que ainda estivesse bonita (ainda tem duas: a da Capivara e a Tropical), com pit stop na volta no Restaurante da Luzia.
Eu tinha escrito sobre a Luzia na Época, em 2005 (leia aqui). Desde então ela já tinha me mandado vários recados pelos leitores. Depois daquela crônica, a Luzia voltou a constar do Guia 4 Rodas (de onde nunca devia ter saído). A última visita de celebridade que se abalou até lá por minha causa foi a da nossa presidenta Silvia Oliveira, que relatou tudo aqui.
Eu tava nervoso. Será que a Luzia ia me reconhecer? Eu não avisei nada ao Del, da Pousada Cajueiro, que guiaria o passeio. Só disse que fazia questão de ir na Luzia -- e não no irmão, que abriu um restaurante ao lado, pilotado pela cunhada da Luzia, que se desentendeu com ela e levou a receita. "Ah, mas eu levo sempre na Luzia mesmo", me garantiu o Del. Ah, bom.
Restaurante da Luzia
Passamos no restaurante (que agora se escreve com "u" mesmo; em 2005 era restalrante com "l") e entramos pra encomendar. Apareceu a Luzia. Eu perguntei: "Lembra de mim?"
E ela:
- Ricardo?
E me abraçou forte. Ô, Luzia!
O restaurante cresceu e agora tem também três quartos, que recebem andarilhos que vão cruzar o parque dos Lençóis a pé, com guia. O cardápio também se alongou; o meu camarão da Luzia é o "camarão grelhado da casa". Em 2013, custava 25 reais a porção para uma pessoa, com arroz, feijão de corda e salada de tomate. Continua barato, gente. A fama não subiu à cabeça da Luzia.
Conversamos um pouquinho sobre a vida, ela disse que eu não envelheci nada (mentira, Luzia! Tô acabadão; você é que continua igualzinha), mas já estava na hora de eu seguir até as dunas, senão perdia o passeio.
Como foi o passeio? Foi assim:
Na volta, nada de Luzia no salão. O entardecer virou o horário nobre do restaurante: os jipes voltam do pôr do sol trazendo os clientes que encomendaram camarão na ida.
Cinco minutos depois de sentado, aparece a iguaria: uma porção supercaprichada (com duas ou três vezes a quantidade normal...) do melhor camarão que já provei.
E quer saber? Continuam tão deliciosos quanto eu me lembrava. Tenros, mas sem perder a consistência. e com um tempero delicioso (e secreto).
Já estava saindo quando lembrei que não tinha tirado uma foto com a Luzia. Fui atrás dela na cozinha, e ela estava aperreada com vários pratos saindo ao mesmo tempo. Não queria tirar foto daquele jeito -- então foi soltar e molhar os cabelos.
Na saída, trocamos beijinhos. E ela me fez prometer que não ia demorar tanto tempo pra voltar de novo.
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