O bonito caminho ao Atacama
Você já conhece o Silvio e a esposa dele, Simone, de outras viagens, como a de Portugal, ou a da Califórnia, ambas incrivelmente esmiuçadas e gentilmente divididas com todo mundo aqui no Viaje na Viagem. Desta vez, porém, o casal decidiu ficar aqui na América do Sul mesmo, aproveitando 13 noites em um passeio muito especial atravessando de Salta, no noroeste argentino, a San Pedro de Atacama, no Chile -- duas regiões com muito em comum, e que valem a pena ser exploradas na mesma viagem. Da cidade deles a Salta o trajeto foi de avião, mas dali foram 2.100km pelas estradas argentinas e chilenas.
Pegue uma carona com eles:
Texto e fotos | Silvio Carlos Cury
Transporte
Alugamos um carro mais “robusto” em Salta devido aos relatos de outros viajantes sobre as condições das estradas. Mas podemos informar que carros menores podem fazer o trajeto sem qualquer inconveniente. É importante avisar a locadora, na reserva, que você pretende fazer a travessia para o Chile (haverá um custo adicional que, no nosso caso, foi de US$ 192). A empresa deve providenciar antecipadamente a documentação (“cruce”) e, para isso, você precisará ter em mãos o localizador da reserva e uma cópia digital de um documento de identificação.
Salta
Centro histórico de Salta
Ao todo, ficamos 4 noites em Salta, primeiro hospedados no bom Design Suítes Salta, na Praça Belgrano, próximo ao centro histórico. Não há estacionamento e o hotel mantém um convênio por R$ 40/dia. Em nossa segunda passagem pela cidade, voltando do Atacama, ficamos no Delvino Boutique Hotel, a 900m do centro histórico e muito bom, apesar de não possuir estacionamento ou convênio.
Come-se muito bem em Salta. Recomendo, para carnes, o Restaurante Viejo Jack II (Av. Reyes Catolicos, 1465 – tel. 54/ 387-422-8476), o Solar del Convento (Caseros, 444, tel. 54/387-421-5124, próximo à Praça 9 de Julio), o Osadia (anexo ao hotel Design Suítes) e o Restaurante Don Salvador (anexo ao Hotel Almeria). Vale experimentar também as empanadas nos restaurantes da El Palacio Galerias, na Praça 9 de Julio.
A principal atração da cidade de Salta, capital da província do mesmo nome, a leste da Cordilheira dos Andes, é seu centro histórico, principalmente o entorno da Praça 9 de Julio, com suas igrejas e o Museu de Arqueologia de Alta Montaña (Bartolomé Mitre 77 – tel. 54 387 437-0591), relacionado à história da civilização inca. Quem já visitou Cusco não vai ficar impressionado. A cidade pode servir de base para tours de um dia a Salinas Grandes, Cafayate, Cachi, Quebrada de Humauaca e San Antonio de los Cobres. Para cada tour reserve um dia. Duas noites são suficientes para quem pretende conhecer esses locais de carro.
Cachi
Cuesta del Obispo
Seguimos de carro para o Sul em direção a Cafayate passando pela Cuesta del Obispo pela RP (ruta provincial) 33. Foram 168 km, sendo um bom trecho de estrada de cascalho (ripio), mas em bom estado de conservação. É um lindo passeio, com paisagens deslumbrantes.
No pitoresco povoado de Cachi, procure o restaurante El Zapallo (Benjamín Zorrilla, tel. 54/387-154-569-585), do lado direito da praça para quem está chegando na cidade, se quiser um delicioso cabrito na parilla e não se importar com a aparência do local.
Parece que o tempo não passa para os habitantes da cidade.
Cafayate
Simone e Silvio na vinícola Piattelli
De Cachi a Cafayate são mais 160 km via RN 40, toda de cascalho, em sua maior parte em bom estado de conservação, uma viagem cheia de lindas paisagens. Ali ficamos por duas noites no Villa Vicuña Wine, bem localizado, próximo à principal praça da cidade. Chamou a nossa atenção o toque familiar na decoração: nos sentimos em casa, sem que houvesse descuido nos serviços prestados. Não há estacionamento, o carro fica estacionado em frente ao hotel.
Para comer, recomendamos o Piattelli Winery (Cafayate Valley, Ruta 2, tel. 54/9386-840-5491) pela qualidade da comida, boa carta de vinhos e paisagem. Há outras opções, bem recomendadas, mas que não provamos, como La Estancia de Cafayate (RN 40, tel. 54/387-422-3146) e La Carreta de Don Olegário (Av. Gral Guemes Sur, 20, tel. 54/386-842-1004, na praça central).
A cidade é agradável para passear e visitar algumas vinícolas. O Museu de la Vida y Vino (Calle Güemes Sur esq. Fermín Perdiguero) e a Vinícola Piattelli (a 5 km do centro), assim como seu restaurante, são imperdíveis. No centro estão a Bodega Domingo Hermanos, no Patios de Cafayate Hotel & Wine Spa (tel. 54/387-439-2121) e a Nani (Silvio Chavarria, 151, tel. 54/386-842-1527), que também serve almoço. As duas oferecem visitas guiadas e valem para quem aprecia vinhos.
San Antonio de los Cobres
Garganta do Diabo; Silvio na frente da sinalização; Anfiteatro
Voltamos a Salta e, de lá, seguimos a San Antonio de los Cobres via RN 51. Foram 168 km, a maior parte do trajeto em estrada pavimentada em bom estado. A tranquila viagem rendeu muitas paradas para fotos das lindas paisagens. Três arquiteturas geológicas chamam a atenção: Ventana, Anfiteatro e Garganta do Diabo. Infelizmente, elas não estão bem sinalizadas.
San Antonio de los Cobres é uma cidadela cuja atividade econômica está relacionada à extração de minérios. Gostaríamos de ter conhecido o Viaducto la Polvorilla, aquele que aparece nas fotos do Tren a las Nubes, mas devido a uma forte chuva no dia anterior, a estrada de acesso estava muito ruim e resolvemos não arriscar. Ficamos apenas uma noite ali, hospedados no El Portal de Los Andes (Las Vicuñitas, s/n- tel. 54/387-490-9282), o único e bastante simples hotel da cidade, com acomodações limpas e bom atendimento.
Paso de Sico
Paso de Sico
Atenção: o Google Maps não está atualizado. Saindo de San Antonio de los Cobres continue pela RN 51 até a fronteira. Distraído saí da RN 51 e peguei a RN 27 por 40 km e tive de voltar.
No caminho entre San Antonio de los Cobres e San Pedro do Atacama está Paso de Sico (via RN 51 / Chile 23).
Águas Calientes
A escolha do percurso se deu após muita pesquisa. Enchendo o tanque em los Cobres você terá gasolina, com sobra, para chegar a Atacama, mas não há nenhum suporte no trajeto, com exceção de poucas moradias de pastores, distantes da estrada. Você raramente cruzará com um carro ou caminhão e a estrada, até 100 km de Atacama, é de cascalho compactado e de boa qualidade, exceto em pequenos trechos. As bonitas paisagens podem justificar esta rota, assim como a visita a Aguas Calientes e às Lagunas Altiplánicas (entrada paga em pesos chilenos) que ficam no trajeto, aproximadamente 120 km antes de Atacama. Após conhecer o Paso de Jama, acreditamos que vale a pena ir e voltar a Atacama por ele.
San Pedro de Atacama
O onipresente vulcão Licancabur
Passamos 3 noites na cidade, no Hotel Pascual Andino, bem localizado e com instalações muito confortáveis (ainda que não haja telefone nem frigobar no apartamento), além de estacionamento gratuito. Somente aceita o pagamento em dólares americanos. O dejejum era variado e saboroso, mas o hotel não apresentou uma relação custo-benefício adequada. Em San Pedro do Atacama os preços estão acima da média.
Seu lugar no deserto
Provamos e aprovamos dois restaurantes: Café Adobe (Caracoles, 211, tel. 56/558-51-132), com música ao vivo a partir das 21h30) e Las Delicias de Carmen (Gustavo Le Paige, 370, tel. 56/908-95-673), mais simples e barato. Sugiro, sempre, pedir um prato e verificar se a quantidade não serve duas pessoas.
Passeio às lagoas da região
San Pedro de Atacama é uma comuna da província de El Loa, localizada na região de Antofagasta, situada a 2.400 metros acima do nível do mar. A cidade consiste em uma rua principal, a Caracoles, e suas transversais, onde todos os turistas se concentram ao entardecer, na volta dos passeios. Ali você encontra restaurantes, comércio e as agências de turismo.
Fizemos dois passeios. Todos saem cedo, os percursos são longos -- em média 400 km -- e a duração é de aproximadamente nove horas. Servem desjejum e almoço (incluídos no preço). Fomos ao Salar de Tara + Monjes de la Pacana e Aguas Calientes + Lagunas Altiplanicas. São diferentes e muito bonitos. Vale conferir. Nossa agência foi a Maxim Experience. Bom atendimento e confiável. Obtivemos um desconto de 10%.
Reserva Nacional de Los Flamencos
Monjes de la Pacana
Salar de Tara
Tilcara
Hora de partir em direção à Tilcara (Argentina) pelo Paso de Jama. Viagem agradável e linda. A aduana Chile – Argentina é unificada e bastante movimentada, ao contrário do que ocorreu em Paso de Sico. Mas não importa, o que estava por vir compensaria a demora nos trâmites. Não se preocupe com o combustível ou alimentação. Após a aduana existe uma “estación de servicio” com boa infra-estrutura (combustível, lanches e hotel). Mais adiante há outra parada muito boa, chamada Pastos Chicos. Esta foi a parte das estradas que mais nos agradou. Salinas Grandes, Caracol e Cuesta del Lipán são simplesmente fantásticos. Purmamarca também merece uma parada.
Paso de Jama, na fronteira entre Chile e Argentina
Ficamos uma noite em Tilcara. Por que escolhemos essa localidade para pernoitar? Não sei. Poderia ter sido Humahuaca ou Uruya. A cidade não tem atrativos e ficamos na pousada La Casona, a pior relação custo-benefício da nossa viagem. Para comer, fomos ao Yacón (Rivadivia, 222 – tel. 54/388-495-5611) e gostamos.
Simone e a imensidão de Salinas Grandes
Purmamarca, já em Jujuy, na Argentina
As curvas da Cuesta del Lipán, na RN 52 argentina
Dali voltamos a Salta e partimos, de avião, para Buenos Aires (onde ficamos no Mine Hotel, bem localizado em Palermo Soho e perto de restaurantes excelentes, como Il Matterello (Martín Rodríguez, 517, tel. 54/11-4307-0529), para os amantes de massas.
Somos apaixonados pela capital argentina. Estivemos por lá umas dez vezes: cada visita com uma surpresa agradável. Reconheço que está decadente, principalmente quando faço comparações com as visitas anteriores. Como eram somente duas noites, aproveitamos para assistir um show de tango (Tango Rojo, no Hotel Faena), fazer uma visita guiada ao Teatro Colón e conhecer alguns restaurantes.
O que eu faria diferente:
- Com a experiência adquirida, faria algumas mudanças no roteiro:
- Ficaria somente duas noites em Salta (capital) e mais uma noite em San Pedro do Atacama. Não reservaria um dia para ir a Jujuy e arredores (Lago de Yuni e Thermas de Reyes) -- o acesso é horrível e não há nenhuma atração.
- Iria e voltaria a San Pedro do Atacama pelo Paso de Jama, não passando pelo Paso de Sico.
- Trocaria Tilcara por Humahuaca para pernoitar.
Dicas práticas:
- No Chile, o posto de combustível é conhecido como “gasolinera” e na Argentina “estación de servicio”.
- Na Argentina e no Chile sempre trafegue com os faróis acesos (luz baixa). Eles dão muita importância a este fato. Atenção para a sinalização, principalmente no Chile. Quando se deparar com placas com os dizeres “Precaución” e “Máxima Precaución” acredite e reduza a velocidade para 60 km/h. No cascalho NÃO ultrapasse a velocidade de 80 km/h.
- Leve um “spray” reparador de pneus, para que pequenos furos não resultem em necessidade de troca imediata.
- Não viaje para esta região no período de chuvas (segunda quinzena de novembro até o início do mês de março). As estradas, em alguns pontos, ficam alagadas devido à água que desce das cordilheiras. Como não há pontes, elas atravessam as estradas como pequenos rios.
- Caso decida ir por Paso de Sico, os trâmites aduaneiros deverão ser finalizados na entrada da cidade de San Pedro do Atacama. No retorno, caso opte pelo Paso de Jama, todo os trâmites serão realizados na fronteira Chile/Argentina. Por Paso de Sico as aduanas encerram o expediente às 20h.
Obrigado por mais um relato excepcional, Silvio!
As viagens do leitor
Leia mais:
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- Dicas do Atacama no Viaje na Viagem
- 12 dicas do Atacama: o essencial para planejar a sua viagem
- San Francisco, Bekerley e Vale do Silício com o Silvio
- De San Francisco a L.A., via Yosemite e Lake Tahoe (a viagem do Silvio)
- Portugal com o Silvio: Alentejo, Algarve e Serra da Estrela
- Portugal com o Silvio: Douro, Minho e Gerês
- Portugal com o Silvio: Porto, Coimbra, Sintra e Lisboa
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