Guia de Manaus
Onde comer em Manaus
A comida amazonense é um complemento indispensável a qualquer viagem a Manaus. Os peixes amazônicos, o caldo tucupi, a farofa do Uarini e as frutas da floresta são as estrelas de uma mesa de sabor único. Conheça a cozinha local e veja também onde encontrar outras culinárias na nossa seleção de restaurantes onde comer em Manaus.
A Bóia recomenda
- Cozinha amazônica de chef:
Caxiri
Moquém do Banzeiro
Banzeiro - Churrasco amazônico:
Tambaqui de Banda - Japas manauaras:
Himawari (pratos quentes)
Shin Suzuran (sashimis e sushis) - Não volte pra casa sem provar:
Tacacá (vá ao Tacacá da Gisela)
Xis caboquinho (no café da manhã ou no Waku Sese)
Introdução à cozinha amazonense
Nenhum lugar do Brasil consome tanto peixe quanto a Amazônia. O bifinho do dia a dia, aqui, é um filé ou um naco de costela de algum dos peixes dos rios do Norte. Vá se acostumando com os nomes. Os dois mais carnudos — o tambaqui e o pirarucu — estão presentes na maioria dos cardápios. Tucunaré, matrinxã e jaraqui são menores, mas não menos saborosos.
Os peixes podem ser fritos, grelhados, assados ou ensopados em caldeirada. O pirarucu, porém, é tradicionalmente vendido seco, conservado no sal — vem daí seu apelido de ‘bacalhau da Amazônia’. Nas festas juninas, é servido o ‘pirarucu de casaca‘, desfiado e misturado a uma farofa úmida e adocicada (com ameixas ou passas).
Seu peixe amazônico ficará ainda mais exótico quando preparado ao tucupi — um poderoso caldo ácido e azedo derivado da maniva (mandioca-brava) e servido com jambu, uma folha com propriedades anestésicas. A dupla tucupi & jambu também forma a base da iguaria nº 1 da Amazônia, presente de São Gabriel da Cachoeira à ilha do Marajó: o tacacá (veja no quadro abaixo).
Os outros acompanhamentos da mesa amazonense são mais reconhecíveis. O baião-de-dois não traz surpresas para quem já tiver experimentado no Nordeste.
No lugar da farofa, o amazonense usa farinha, mesmo — só que mais grossa e crocante do que as de outras regiões. A mais valorizada é a farinha do Uarini, de bolinhas amarelinhas, que muitas vezes é hidratada e ganha consistência de couscous marroquino.
O trivial amazonense é completado pela banana-da-terra cozida, que aqui é chamada de banana pacovã.
Verduras e legumes são raros à mesa — mas em compensação, as frutas reinam. Uma delas, o tucumã (que é bem pouco doce) confere crocância ao ‘xis caboquinho‘, o sanduíche de queijo coalho que é a estrela do café regional amazonense. (Dica: peça a versão na tapioca, que fica muito melhor — o pão francês amazonense não é assim uma brastemp.)
Outras frutas são preparadas sob a forma de sucos, mousses e sorvetes. O cupuaçu, a fruta amazônica mais conhecida entre os forasteiros, parece estar na seção de sobremesas de todos os cardápios. Mas… aceita uma sugestão? Sempre que aparecer suco, mousse ou sorvete de bacuri, peça. É uma fruta deliciosa, docinha e sem retrogosto, e virtualmente impossível de encontrar fora da Amazônia.
Ah, sim: das frutas de sempre, não perca o abacaxi. Manaus produz o abacaxi mais doce do Brasil — não ficamos sabendo disso porque toda a produção é vendida localmente.
Finalmente, o açaí já deixou de ser um acompanhamento neutro e em temperatura natural para o peixe frito (como continua a ser no Pará), e é normalmente servido gelado e adoçado, como lanche ou sobremesa, como no resto do Brasil. A diferença está no acompanhamento: em vez de granola, o amazonense adiciona farinha grossa de tapioca.
Tacacá, a Amazônia numa cuia
Um meio-termo entre o misoshiro e o Santo Daime, o tacacá é a sopa que faz as vezes de chá das 5 na região Norte.
Assim como acontece com o acarajé na Bahia, os ingredientes do tacacá são mantidos em panelas separadas e combinados só na hora de servir.
Para começar, a cuia recebe uma concha de tucupi, um caldo fermentado da maniva (mandioca-brava), de sabor complexo, a um só tempo ácido e azedo. Não há nada parecido no repertório culinário brasileiro — é um gosto único, estranho ao primeiro gole, mas viciante quando você se acostuma. (Se você gosta da sopa tailandesa tom yum goong, está pronto para apreciar a beleza do tacacá.)
Em seguida é acrescentada a goma, outro subproduto da mandioca. Ela deve ser dissolvida no caldo, para dar consistência à sopa.
O terceiro componente indispensável do tacacá é o jambu, uma folha com aparência inocente de agrião, mas que dá uma leve dormência na língua (e às vezes um rápido tremelico no lábio).
Para terminar, o tacacá recebe alguns camarõezinhos, que incrementam o sabor e podem elevar o caldo à categoria refeição.
Não se usa colher para tomar o tacacá! Você recebe um palitinho para espetar os camarões (ajuda também a dissolver a goma) e bebe o caldo direto da cuia.
E antes que você relute em tomar algo quente no calorão da Amazônia, saiba que os efeitos são positivos: com o organismo aquecido você sente menos o calor.
Onde tomar tacacá?
Se você estiver hospedado no centro histórico ou visitar o Teatro Amazonas à tarde (ou assistir a um espetáculo à noite), é fácil. O Tacacá da Gisela fica em frente ao Teatro Amazonas e abre diariamente entre 16h e 22h.
Mala de bordo nas medidas certas
Cozinha amazônica de chef
Nos restaurantes mais sofisticados de Manaus, a cozinha regional é preparada com leveza — e pratos clássicos de outras culinárias ganham interferências do terroir amazonense.
Caxiri
Meu restaurante favorito em Manaus é o Caxiri, que funciona no segundo andar de um casarão centenário, ao lado do Teatro Amazonas. O charme do ambiente e a vista para o teatro já bastariam para pôr o Caxiri em qualquer lista de restaurantes imperdíveis em Manaus. Mas a cozinha da paulistana Debora Shnornik (que tem no currículo 5 anos como sous-chef de Paola Carrosella no Arturito) é inventiva na medida, com pratos sempre muito bem-resolvidos.
No cardápio, carpaccio de pesto de jambu; costela de tambaqui com aïoli de tucumã; linguine com ragu de pato no tucupi; arroz de tacacá com camarão; hamburger de tambaqui no pão de açaí. De sobremesa, recomendo o copinho de banana com doce de leite caseiro de cumaru, iogurte e farofa doce. O almoço durante a semana tem menu executivo com preço convidativo.
Banzeiro
Aberto em 2009, o Banzeiro foi primeiro restaurante a dar ares contemporâneos à cozinha amazonense. Desde então, é o restaurante nº 1 de Manaus — e o catarinense Felipe Schaedler, o chef mais celebrado da cidade. O Banzeiro funciona numa casa adaptada para restaurante em Nossa Senhora das Graças, muito perto dos hotéis de Adrianópolis.
O cardápio é bastante extenso, e agrada tanto a quem tem paladar curioso (matrinxã recheada com farinha do Uarini; tambaqui com flor de sal e arroz negro; moqueca de pirarucu defumado ao leite de coco; risoto de pato no tucupi; formiga saúva com espuma de mandioquinha), quanto a seu companheiro de mesa avesso a regionalismos (filé acebolado ou au poivre; peixe à belle meunière).
Moquém do Banzeiro
O Moquém do Banzeiro é o irmão mais novo do Banzeiro: abriu em 2016. Na comparação com o Banzeiro, o Moquém tem uma pegada mais rústica e um astral mais descontraído, sem tantos engravatados fechando negócio. A carta é mais sucinta e, para o meu gosto, mais estimulante que a da matriz: banda de tambaqui com baião de dois, farofa de ovo e tartare de banana pacovã; filé de tambaqui na folha de bananeira com macaxeira rösti; pirarucu empanado com pérolas de tapioca; suflê de cupuaçu com calda de brigadeiro.
Fica numa galeria que liga uma torre de escritórios ao Manauara Shopping.
- Moquém do Banzeiro | Galeria Cristal, Rua Humberto Calderaro, 455, Adrianópolis | Tel (92) 3342-2042 | Instagram
Cozinha amazônica tradicional
Tacacá da Gisela
Ir à Paris dos trópicos e não experimentar um tacacá é como ir à Paris de verdade e não comer uma crêpe de barraquinha de rua. O lugar mais fácil e seguro para ser apresentado ao caldo primordial amazônico é o Tacacá da Gisela, que fica no canto esquerdo de quem olha para o Teatro Amazonas. Funciona diariamente das 16h às 22h. Clique para ler sobre o tacacá.
- Tacacá da Gisela | Largo Sâo Sebastião, s/n, Centro | Tel (92) 8801-4901 | Instagram
Tambaqui de Banda
Originário do bairro Parque Dez, o Tambaqui de Banda faz sucesso entre os forasteiros na sua filial do Largo São Sebastião, junto ao Teatro Amazonas. A fórmula é certeiríssima: grelhar uma metade (banda) de tambaqui e servir com acompanhamentos regionais. Simples, saudável e perfeito para quem quer ser apresentado ao sabor do tambaqui. As bandas são oferecidas em vários tamanhos, servindo de uma a 4 pessoas.
Choupana
Sabe aquele restaurante tradicionalzão com cardápio quilométrico onde as famílias tradicionalzonas vão aos domingos e em situações comemorativas, e levam os amigos de fora que vêm visitar? Em Manaus este restaurante é o Choupana. Instalado numa grande… choupana, o Choupana oferece praticamente um catálogo de cozinha regional amazônica (incluindo um bem-feito pato ao tucupi), em porções que servem até 3 pessoas. (Recentemente, porém, introduziu uma seção de pratos individuais.) Com a modernização da cena gastronômica da cidade, perdeu um pouco do apelo. Mas se você está hospedado em Adrianópolis e vai jantar com mais duas pessoas que possam dividir o prato com você, é uma opção a considerar.
WakuSese
O consumo de açaí em Manaus não é ortodoxo como em Belém, onde é servido em temperatura ambiente acompanhando peixe frito. O manauara já adotou o açaí gelado e adoçado, como lanche ou sobremesa. O açaí de grife da cidade é o do WakuSese, onde é servido com vários acompanhamentos — o mais típico é a farinha grossa de tapioca. O Waku Sese também tem pratos leves (tapiocas, xis caboquinho) e pratos regionais individuais (um pouco caros para uma quase-lanchonete).
- WakuSese | Rua Rio Purus, 260, N. Srª das Graças (filial no Manauara Shopping e quiosque no Shopping Ponta Negra) | Tel (92) 3584-4643 | Instagram
Peixarias
As peixarias estão para Manaus assim como as churrascarias para Porto Alegre. Espalhadas pela cidade, garantem peixes frescos e bem preparados. Veja as melhores peixarias onde comer em Manaus:
Se você faz questão de um lugar mais arrumadinho, vá à Amazônico Peixaria Regional.
Caso esteja disposto a uma experiência antropológica em busca do máximo de cor local, arrisque algo mais roots. Aí vão duas sugestões.
O Canto da Peixada tem luz branca e um altar para João Paulo II, que traçou ali uma caldeirada; abre para almoço e jantar — domingo, só almoço.
Num promontório sobre o rio no pitoresco bairro de São Raimundo, a Peixaria do Jokka Loureiro é um autêntico pé-sujo — um lugar que Anthony Bourdain teria adorado descobrir. Faz apenas peixe frito (peça o jaraqui) e só abre para almoço, das 11h às 15h (fecha domingo). Vá de táxi, e leve dinheiro vivo: o Jokka não aceita cartão.
Cozinha contemporânea
Fitz Carraldo
Ocupando o segundo andar do casarão centenário do hotel Villa Amazônia, o Fitz Carraldo é um dos restaurantes mais elegantes de Manaus. Consegue combinar, num cardápio enxuto, pratos clássicos (bife ancho com pão de alho), regionais inventivos (moqueca vegana de banana pacovã) e fusion (tagliata de filé com couscous de farinha do Uarini). De sobremesa, cheesecake de cupuaçu.
- Fitz | Rua 10 de Julho, 315, Centro | Tel (92) 3347-7832 | Site
Barollo
O badalado Barollo tem carta de drinks (e de vinhos) caprichada. O destaque do cardápio é a carne wagyu, oferecida em cortes argentinos — bife de chorizo ou de ancho. Espere encontrar ingredientes da moda (risoto negro de polvo) e uma ou outra incursão nos sabores regionais (paella com peixes amazônicos). Nas noites do fim de semana costuma ter jazz-rock ao vivo.
Cozinha japonesa
Talvez você não saiba, mas o Amazonas (e o Pará) têm colônias japonesas antigas, bem-estabelecidas. Há pelo menos dois restaurantes japoneses super tradicionais onde comer em Manaus, daqueles em que o cream cheese não está no cardápio.
Himawari
Na região do Teatro Amazonas, o Himawari é particularmente forte nas preparações quentes — com udons, ramens e receitas tradicionais de família.
Shin Suzuran
Em Vieiralves, o Shin Suzuran é o lugar para experimentar os peixes oceânicos mais frescos da cidade, com preços proporcionais à qualidade da matéria-prima. Também prepara sashimi e sushi de peixes amazônicos, para quem quer matar essa curiosidade.
Umê
Dos japas moderninhos, o Umê é o que tem maiores pretensões, com boa carta de drinks e também cardápio de pratos quentes não-japoneses.
- Umê | Rua Humberto Calderaro, 455 (Galeria Cristal, anexa ao Manauara Shopping) | Tel (92) 98107-4370 | Instagram
Cozinha portuguesa
Calçada Alta
O tradicional Calçada Alta tem boa comida portuguesa, preços em conta e ambiente de botequim. E fica pertinho dos hotéis da região do Teatro Amazonas. De 3ª a sábado não fecha entre o almoço e jantar de 3ª a sábado, mas fecha cedo (22h). Na 2ª só abre para almoço, e domingo está fechado.
Alentejo
Em Vieiralves, o Alentejo tem ambiente sofisticado e várias versões de bacalhau — todas a preços bastante salgados.
Cozinha italiana
Casa do Mario
Surpresa: Manaus tem um restaurante italiano que prepara massas al dente — algo raro no Norte-Nordeste: a Casa do Mario. Explica-se: o dono é italiano. A maioria dos pratos dá para dividir.
Bares
Bar do Armando
Azulejos brancos, luz fria, mesas de plástico: tudo o que deporia contra um bar convencional acaba se tornando qualidade num boteco com carisma. O Bar do Armando é assim. Ícone do centro histórico — fica no próprio Largo de São Sebastião, ao lado do Teatro Amazonas –, é freqüentado por boêmios de carteirinha e turistas de passagem. A cerveja é de garrafa (600 ml), e o petisco-chefe da casa é um sanduíche de pernil. Costuma ter roda de samba nas noites de sábado.
Cachaçaria do Dedé
Misto de empório e bar, a Cachaçaria do Dedé é o neobotequim com sotaque amazonense. A loja original fica no Parque Dez; há filiais nos shoppings Manauara, Ponta Negra e Amazonas.
- Cachaçaria do Dedé | Av. Mario Ypiranga, 1300 (Manauara Shopping) | Tel (92) 3236-6642 | Site
- Cachaçaria do Dedé | Av. Coronel Teixeira, 5705 (Shopping Ponta Negra) | Tel (92) 3185-9318 | Site
Salomé Bar
Vieiralves tem muitos botecos. O mais interessante talvez seja o Salomé Bar, franquia de uma rede original de Sorocaba. Bem decorado e bem iluminado, tem bons petiscos e cervejas artesanais. A trilha sonora (como em praticamente todo o bairro) é o sertanejo.