Horas entre vôos: Paris

Tenho algumas horas entre vôos. Devo passear pela cidade?

Horas entre vôos: Paris

É a pergunta mais chata da internet. Tá bom: é a pergunta mais chata que fazem aqui no blog. Parece que todo mundo que tem um intervalo de algumas horas entre vôos precisa entrar na caixa de comentários e pedir um roteiro personalizado para 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 ou 10 horas em 50 cidades do mundo que se prestam para conexões internacionais.

Note que o roteiro de 3 horas não serviria para quem vai ficar 9 horas, e vice-versa. E a estratégia que a gente pode recomendar a quem tem uma conexão em Amsterdã não bate em nada com a estratégia que a gente pode recomendar a quem tem uma conexão em Nova York.

Como o blog já tem um post que fala do assunto (este aqui, de 2012), pela nossa política de resposta a perguntas já não selecionamos mais essas perguntas para responder. Ainda assim, a freqüência incomoda: não passa um dia que não apareça alguém pedindo um roteirinho do que fazer em seis horas em Roma, três horas em Miami ou oito horas em Bogotá.

Por isso decidi escrever um novo post e caprichar na indexação, na esperança de que o Google ofereça esse texto antes do próximo pedir para a gente parar tudo e desenhar um itinerário de cinco horas em Zurique.

Ué, mas você não é um super-entusiasta dos pit-stops de trem?

Sim, sou. No caso do trem, eu estimulo o leitor a criar um intervalo de algumas horas entre dois trechos de trem, para esticar as pernas e dar um rolê numa cidade bacana.

Só que existe uma grande diferença entre um intervalo de horas entre trens e um intervalo de horas entre vôos. O trem deixa você no centro da cidade: o guarda-volumes não é difícil de achar nem de usar, e você inicia o seu passeio no momento em que pisa fora da estação.

As cidades onde recomendo que o pit-stop de trem seja feito têm algumas características em comum: são de porte médio, têm atrações bastante específicas e fáceis de serem conferidas, e talvez não entrassem no itinerário se o pernoite fosse necessário. Recomendo esses pit-stops em Bruxelas entre Amsterdã e Paris; em Dresden entre Berlim e Praga; em Zaragoza entre Madri e Barcelona; em Córdoba entre Madri e Sevilha; em Verona entre Milão e Veneza; na Filadélfia entre Nova York e Washington; em Colonia del Sacramento entre Montevidéu e Buenos Aires.

Em todas essas cidades, sair da estação e voltar à estação é fácil; os procedimentos de reembarque (com exceção em Colonia, no Uruguai) não requerem se reapresentar com grande antecedência. Você realmente passeia — sem fazer uma corrida contra o tempo.

Infelizmente, quando se trata de um intervalo de horas entre vôos, tudo conspira para que o seu passeio não seja tão bem-sucedido assim.

Intervalo de horas entre vôos: calibre a expectativa

A imensa maioria das pessoas vê no intervalo de horas entre vôos uma grande oportunidade de ‘conhecer’ uma cidade espetacular.

O problema inicial está no fato de que essas cidades onde as conexões são feitas normalmente são grandes e não se revelam num rolezinho rápido. Não é porque você tem quatro horas em Milão, cinco horas em Santiago ou oito horas em Londres que você vai conseguir dar a cidade por vista. Se você não ‘conhece’ a cidade, vai continuar não ‘conhecendo’.

O segundo problema está no fato de que não existe trajeto mais caro, chato e estressante que o trajeto entre aeroporto e cidade, nas duas direções. Ao inventar de sair do aeroporto para passear numa cidade, você se impõe quatro trajetos entre aeroporto e cidade num mesmo dia. Você já sai do aeroporto com a contagem regressiva rolando: precisa estar de volta pelo menos uma hora e meia antes da partida do vôo seguinte. Será que a condução de volta não vai falhar?

Um terceiro problema mora no fato de muita gente não se dar conta de que não vai conseguir passear carregando a bagagem de mão com que embarcou no primeiro vôo. A maioria dos aeroportos têm algum tipo de guarda-volumes, mas chegar até o maldito guichê nunca é muito simples. Você vai perder tempo para achar, perder tempo para deixar a mala, perder tempo para voltar ao guichê e perder tempo para retirar a bagagem. Considerando o tamanho dos aeroportos atuais, esses procedimentos bobos comem, somados, até uma hora do seu tempo líquido para passear.

Conforme-se com isso:

  • Sair do aeroporto não serve para ‘conhecer a cidade’
  • Sair do aerporto serve apenas para não ficar mofando no aeroporto

Vai sair mesmo? Veja o que fazer

Caso você queira mesmo aproveitar as suas horas entre vôos para passear na cidade, pense em algo simples e divertido. Não é o momento de ticar todos os monumentos/museus/cartões postais. Provavelmente a melhor decisão seja não entrar em nenhum lugar que tenha fila ou exija reserva prévia.

Na maioria das vezes, a melhor decisão é caminhar pelo centro histórico ou pelo bairro mais interessante e fazer uma refeição casual (ou tomar um negocinho, afinal férias são pra isso). Você estica as pernas, se livra do ar viciado do aeroporto e absorve a energia da cidade, sem se preocupar com um roteirinho que só vai deixar essa parada mais estressante do que já é.

Escolha pelo perrengue menor

Imagine-se fazendo todos os passos da escala: imigração, guarda-volumes, táxi/trem/metrô ao centro, passeio, táxi/trem/metrô ao aerporto, guarda-volumes, novo procedimento de embarque. Atribua tempos pessimistas para cada uma dessas fases (1 hora de imigração, meia hora para achar o guarda-volumes, uma hora para ir à cidade, uma hora para voltar da cidade, meia hora para passar de volta no guarda-volumes, 1 hora de antecedência para o reembarque) e veja se sobra tempo líquido suficiente para que essa esticada de pernas seja realmente válida.

O que eu faria? Na imensa maioria dos casos, eu vasculharia a área de trânsito do aeroporto em busca de uma tomada (de preferência num bar/restaurante), compraria um desses pacotes de várias horas de acesso à internet (se custar 30 dólares, vai ser mais barato do que uma perna do deslocamento ao centro da cidade), pesquisaria tudo o que estivesse precisando para a próxima etapa da viagem ou ficaria pendurado nas redes sociais… Garçom! Um chopinho, por favor?

Leia mais:

131 comentários

Com certeza isso é algo muito interessante, mas é bem verdade. Não tem como criar um roteiro universal pra todos os tipos de conexão. Muita gente me pergunta sobre Istambul, se vale a pena sair do aeroporto durante 3 horas “só pra tirar umas fotos”. Muita gente não leva em consideração que terão que passar pela imigração duas vezes, pegar transporte, enfrentar trânsito e tudo isso. Sempre vão com sede demais ao pote, sem pensar se nele tem água ou água sanitária. 😀

Ricardo
Tive conexão de 10 horas no Panamá ( de Sampa a LA) ,contratei a Dóris e sua irmã, antecipadamente, e conheci o Canal, o Centro Velho, a cidade moderna, enfim, conheci o Panamá, sem sofrer e sem correria. Ela nos pegou às 6 da manhã e nos devolveu às 16.
Mesmo passeio , no mesmo percurso, com parada de 10 horas na Cidade do México.
Contratamos uma Van no aeroporto e rodamos pela cidade , pontos turísticos, por 10 horas.
Conseguimos até ir conhecer as Pirâmides Sol e Lua.
Acredito que cada caso realmente é um caso. Cada rota é uma rota. E , com um bom guia é um bom carro se consiga sim viajar na viagem
Abraços Ricardo
Sou sua fã

Perfeito. Escolhi uma conexão de 12h em Paris. Um sufoco para achar o guarda-volumes, outro para a casa de câmbio (encontrei moeda polonesa esquecida no bolso da calça). Comprei passagem de trem, o bilhete não funcionou, peguei fila para troca. As estações eram má sinalizadas (sei andar muito bem de metrô e trem). Cheguei na Torre Eiffel perto do horário agendado (comprei com horas de diferença entre a chegada e a visita). Passei por outros monumentos me deslocando de metrô (Arco do Triunfo, Champs Elysee e Louvre). Para voltar para o aeroporto, peguei o trem linha B sentido norte, mas tinham ramais, não sabia, peguei o errado. Percebi que estava na periferia, voltei para a estação Gare du Nord para poder pegar o trem direto para o aeroporto, já em cima da hora. Cheguei no aeroporto quase fechando o guarda-volumes com a minha bagagem de mão. Com o que eu tinha comprado no duty free no primeiro aeroporto (chocolate e bolacha), passava o número de peças para embarcar, disseram que eu saí da área de embarque, tive que despachar, mas já tinha despachado duas peças, mas a Air France despachou sem cobrar porque o peso não passava. Chegando em São Paulo, vi que tinham tentado abrir a minha mala, rasgaram o plástico do embrulho (não foi acidental, cortaram todas as camadas) e descosturaram a lateral, a mala ficou muito tempo no aeroporto. Foi um caos. Não faço mais isso.

Agora em julho saí de dois aeroportos em uma conexão, mas tive cerca de 7 horas de intervalo em cada voo. No Panamá, saí para visitar um shopping próximo à cidade. As vans na porta do aeroporto te levam de graça até lá. A outra foi em Bogotá. Peguei um táxi turistico no aeroporto e fiz um role de 3 horas prla cidade, concentrando a visita ao bairro da Candelaria com visita rápida ao Museu de Botero. Em ambos os casos, três horas antes de voo já estava de volta ao aeroporto. Gostei da experiência.

Acabei de fazer uma visita rápida a Londres durante as minhas 8 horas de escala. Fui com o meu filho de quatro anos. Na imigração nos recomendaram desisitir, mas já tinha tudo planejado.Fiz um planejamento minucioso que não deu muito certo, mas não me aŕrependo nenhum segundo de ter optado sair do aeroporto. Fizemos um circuito Peter Pan e ele amou tudo o que pode ver na cidade. Com uma escala tão longa e em cidades bem organizadas é um desperdício ficar dentro do aeroporto.

Muito esclarecedor esse post, além de me dar um maior suporte para convencer as pessoas com quem irei para Munich em Dez/2016 em ficarmos quietos no Barajas.
Aproveitarei as 06:00 de espera para colocar minha leitura em dia.

Olá Ricardo! Primeiro, quero dizer que acompanho sempre o viajem na viagem e montei o roteiro para a tão sonhada ida à Itália. Sobre sair do aeroporto, minha pergunta foge um pouquinho do tema de sair para conhecer a cidade (mas não encontrei um tópico específico). Acontece que comprei as passagens com milhas e tenho uma conexão com troca de aeroporto em Buenos Aires (Aeroparque – Ezeiza). Tenho apenas 3 horas para esse deslocamento, que pretendo fazer de táxi. Só me dei conta disso quando recebi o bilhete de embarque essa semana. Estou pensando até em comprar uma passagem antes para Buenos Aires. Qual a sua sugestão/opinião como viajante experiente? Mais uma vez obrigada e parabéns pela página!

    Olá, Vanessa! Quem responde é a Bóia. Se os vôos forem vinculados na mesma passagem e você não embarcar no segundo, perde a reserva e tem que rewmitir a passagem com multa e diferença tarifária. Vocè pode tentar reemitir a passagem agora, com um vôo inicial diferente. Use o atendimento telefônico; você vai precisar da intervenção de humanos.

    Infelizmente criou-se no Brasil uma mentalidade de que economizar o máximo possível na passagem é a condição essencial para viajar. Nem sempre a economia compensa o perrengue.

    Olá, estimados integrantes do VnV! Antes de tudo obrigada por todas as preciosas dicas. Sou fiel seguidora. Já até ganhei um “troféu” com uma pergunta sobre a Áustria! Faz uns anos… Tenho um vôo com conexão em Florianópolis pousamos ás 22:30h e saímos às 6h. Reservei um hotel (Iate Hotel) que confirmei ser 12 minutos do Aeroporto. Viajo com 2 crianças. Queria por favor sua opinião pra saber se é a melhor opção nesse caso… E se saindo ás 4:30 do hotel seria um bom horário…

    Olá, Ludmila! Se não precisar despachar bagagem, 4h30 está bem – mas reserve esse táxi com a recepção para garantir.

KKKKKKK dei risada quando falou em Zurich – é exatamente essa a minha dúvida….mas como vou ter uma conexão de 10 (DEZ) horas, vou me permitir um passeio sim…se por um acaso tiver dicas….hahaha

Sempre vale reforçar que esse site é fantástico e aprendo muito lendo os comentários (além do post, claro!).

Concordo 100% por total experiência pessoal. Às vezes (ou sempre?) a gente tem mesmo que quebrar a cara p/ se tocar que não vale a pena. Quase perdi meu voo Lisboa>Paris por conta da maldita Torre de Belém e dos pastéis (maravilhosos, claro). O que ganhei em troca? Por conta da pressa esqueci meu celular (c/ tudo da minha vida nele) no raio x e passei 20 dias viajando s/ ele, sendo que era novo, havia comprado há uma semana. A sorte da vida? Era uma viagem c/ a minha mãe p/ comemorar nossos aniversários (Outubro de 2015, Paris e Amsterdam c/ conexões de 6h entre os voos em Lisboa), portanto tudo que eu fiz de roteiro joguei no Drive e compartilhei c/ ela. A Polícia Federal portuguesa e competente guardou meu celular e sua necessaire (c/ 95 euros dentro!) e ao final da viagem recuperei o bendito aparelho. Mas nunca me esqueço de correr feito louca naquele aeroporto e nunca mais na vida saio de um aeroporto a não ser que tenha pernoite no local hahahaha.

    Luiza, como o Ricardo falou,para sair do aeroporto tudo precisa ser muito bem planejado. 6 horas é muito pouco, pois você chega já praticamente tendo que voltar. Você precisa descontar 5 horas pelo menos para os deslocamentos e filas. O que sobrar é o tempo que pode aproveitar. Mas quando se tem tempo é uma delicia a sensação de escapadinha do aeroporto. Mas não dá para querer conhecer a cidade! Eu já fiz isso em NY, com 6 horas (foi corrido, mas divertido) e com 8 horas em Londres.

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