Para entender o Jalapão

No quesito férias na natureza, o Jalapão é a última bolacha do pacote. Até a virada do milênio, os únicos forasteiros que se aventuravam por ali eram jipeiros. O turismo mais comercial começou apenas em 2001, quando a Korubo montou seu acampamento e adaptou um caminhão para transportar grupos.

O número de visitantes, porém, ainda é muito pequeno e não altera em nada a densidade demográfica da região. Não há hotéis — só umas poucas pousadas num ou noutro vilarejo. Apesar de muito falado, o Jalapão é pouco explicado. Aqui vai minha contribuição.

Cachoeira do Formiga, Jalapão

Como é (e como não é) o Jalapão?

Muita gente imagina o Jalapão como uma filial dos Lençóis Maranhenses onde as lagoas e dunas são emolduradas por paredões tipo Chapada Diamantina; um vasto território virgem, sem estradas definidas, desbravado por veículos off-road.

Não é bem assim :mrgreen:

Aquele cenário de duna + lagoa + paredão de chapada existe, sim, mas num lugar específico: a Serra do Espírito Santo. Não é uma topografia que se repita em outros pontos.

Tampouco o Jalapão é um “deserto”: a região combina paisagens de cerrado com campos gerais. Escondidos no território estão rios (com prainhas e corredeiras), veredas (belíssimos oásis de vegetação densa em torno de nascentes), cachoeiras e fervedouros (poços com areia finíssima em suspensão que impede que você afunde).

Ah, sim: e as estradas são arenosas e mal sinalizadas, mas existem, e é por elas que se trafega.

Onde fica e como se chega?

O Jalapão ocupa uma área de 34 mil km² (para comparar: Sergipe tem 22 mil km²) no centro-leste do Tocantins, fazendo fronteira com Bahia, Piauí e Maranhão. A principal porta de entrada da região é a cidadezinha de Ponte Alta do Tocantins, que está a 190 km da capital, Palmas, por estrada asfaltada. Dali em diante, só estradas de terra. Itinerários circulares usam a cidade de Novo Acordo, a 110 km de Palmas (também por asfalto) para entrar ou sair. A maior quantidade de atrativos está em torno do povoado de Mateiros, a 160 km de Ponte Alta (ou 240 km de Novo Acordo). Os povoados de Ponte Alta e São Félix do Tocantins (a 90 km de Mateiros e 150 km de Novo Acordo) também servem como base para visitar outros atrativos.

Caminhão da Korubo

Como se percorre o Jalapão?

O solo arenoso — fofo na seca, lamacento na estação chuvosa — torna a viagem recomendável apenas para veículos com tração 4×4. O caminhão da Korubo no qual viajei rodava a 30 km/h. É provável que jipes andem mais rápido, mas acredito que não muito.

Indo com seu jipão por conta própria, você pode pernoitar em Ponte Alta, Mateiros e São Félix do Tocantins, contratando guias localmente ou usando os mapas fornecidos pelas pousadas. (Veja aqui o relato do Edison, que vai virar post, sobre como ir ao Jalapão com carro próprio sem passar por Palmas.)

Os tours organizados oferecem três jeitos distintos de explorar a região.

A pioneira Korubo hospeda seus passageiros por quatro noites num (superconfortável) acampamento permanente (ou safari camp) à beira do rio Novo, 60 km antes de Mateiros (ou 100 km depois de Ponte Alta). Os deslocamentos são feitos num caminhão transformado em ônibus, inspirado em overlands africanos, com um deck de observação em cima da cabine. O itinerário entra e sai por Ponte Alta. A vereda Suçuapara é visitada no dia da vinda de Palmas; a Cachoeira da Velha (combinada com sua prainha) é visitada no dia da volta. Nos três dias inteiros de permanência no safari camp são feitos bate-voltas à Duna do Jalapão (ao entardecer); ao Fervedouro, à Cachoeira do Formiga e ao mercado de capim-dourado de Mateiros (um tour de dia inteiro); e ao Mirante da Serra do Espírito Santo (um trekking ao amanhecer). Fiz essa viagem (com a parte terrestre a convite da Korubo) e na seqüência vou postar o relato completo. O mesmo roteiro também é vendido pela Freeway.

A NorteTur faz o itinerário circular, com duração de 3 a 6 dias, usando jipes Ford Amazon ou Toyota Land Cruiser. O roteiro de 4 dias entra por Novo Acordo; no caminho de ida há uma parada na Praia do Borges e outra na Pedra da Catedral, com pernoite em pousada em São Félix do Tocantins. No segundo dia visita-se a Cachoeira do Formiga, o Fervedouro, o povoado de Mumbuca (a comunidade que se dedica ao artesanato de capim-dourado) e a Duna do Jalapão ao entardecer, voltando um pouco na estrada para pernoitar em pousada em Mateiros. O terceiro dia começa com o trekking ao Mirante do Espírito Santo no amanhecer e continua até a Cachoeira da Velha (com sua prainha), com pernoite em pousada em Ponte Alta do Tocantins. No último dia vai-se à vereda Suçuapara e ao Morro da Pedra Furada, voltando a Palmas.

A Venturas tem o roteiro mais longo — e aventureiro. São 6 dias, incluindo 3 dias de rafting pelo rio Novo e pernoites em diferentes acampamentos ao longo do percurso. Os deslocamentos por terra são feitos no Mamute, um caminhão adaptado. A entrada é por Novo Acordo; no primeiro dia visita-se a Serra do Gorgulho. O segundo dia é passado entre São Félix do Tocantins, a Cachoeira do Formiga e o povoado de Mumbuca (produtor do capim-dourado). No terceiro dia visita-se o Fervedouro, o povoado de Mateiros e a Duna do Jalapão ao entardecer. Nos três dias seguintes você faz um rafting pelo Rio Novo, com dois pernoites em acampamentos à beira-rio; o trajeto termina na Cachoeira da Velha, de onde o grupo volta a Palmas via Ponte Alta do Tocantins.

Capim-dourado

Quando ir ao Jalapão?

Ao contrário do que eu imaginava, o Jalapão é visitável o ano inteiro. Entre maio e setembro quase não chove e o céu estará azulzíssimo (pelo menos até as queimadas do Cerrado começarem, em meados de setembro). Para ver o capim-dourado em seu estado dourado, visite em setembro. Durante a época seca os dias são quentes (quanto mais perto de setembro, mais quente) e as noites, frescas.

Na época chuvosa faz menos calor de dia, mas em compensação de noite não esfria.

Leve em conta que os grupos são pequenos e, em feriados e nas férias, lotam com antecedência.

Cachoeira da Velha

O que levar?

Repelente, boné, óculos de sol, dinheiro vivo e talão de cheque. Pra lá de Ponte Alta do Tocantins, o celular serve apenas para tirar fotos. (Mas em Mateiros tem sinal da Vivo.)

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    226 comentários

    Pretendo ir ao Jalapão na segunda quinzena de janeiro/2024.
    Como moro em Salvador a ideia é ir de carro direto até Mateiros.
    Como meu carros não é 4×4, a ideia é deixar o carro em Mateiros e contratar expedição lá.
    Pergunta: Existe expedições/passeios saindo de retornando de Mateiros?

      Olá, Eduardo! Nos comentários deste post há indicações recentes de agências feitas por leitores. Procure essas agências e veja se consegue se encaixar em algum circuito.

    Boa noite! Gostaria de saber se pra ir para o Parque do Jalapão, precisa agendar ou reservar alguma coisa com antecedência como guia turístico ou ingressos para entrar no parque???

      Olá, Douglas! Tem que organizar a viagem com uma agência. Atualmente a visita se faz por circuitos, hospedando-se em pousadas em diferentes lugares. Muitos atrativos têm, sim, vagas limitadas. Não vale a pena ir por conta própria.

    Olá. O mês de fevereiro início de março é uma boa época pra passear lá e aproveitar os máximo dos passeios?

      Olá, Bruna! Aparentemente não há época ruim para o Jalapão. Mas em fevereiro você ainda pode pegar alguma chuva.

    Olá gente, gostaria de deixar aqui meu depoimento em relação a minha viagem que fiz recentemente ao Jalapão. Pesquisando por aqui, optei em contratar a agência Praia Rica Expedições. Fomos em um casal no começo de novembro e optamos em realizar a expedição de forma privativa, pagamos um custo a mais por isso mas com toda certeza o investimento valeu a pena. Eles fazem o que chamam de contrafluxo (entramos por São Felix ao invés de Ponte Alta como a maior parte das operadoras) e com isso tivemos exclusividade na maior parte dos atrativos e não enfrentamos filas. Apesar das chuvas que pegamos, nosso guia João a todo momento monitorava a situação dos fervedourodos e sugeria alternativas caso o chuva atrapalhasse a programação. As chuvas caem mas param em pouco tempo. Não tivemos problemas em relação ao tempo apesar de ser época das águas no Tocantins. Passamos também por lugares poucos conhecidos e muito bonitos. Optamos em fazer algumas trilhas e subimos á Serra do Espírito Santo para ver o nascer do sol. Sem dúvida uma das melhores parte do passeio. Com toda certeza indico a agência.

    Olá, Bóia!! Estou querendo ir ao Jalapão na 2° quinzena de janeiro. Nesta época chove muito por lá?

      Estou pretendo ir ao Jalapao em junho. Voo até Palmas. Consigo transferir até o local onde ficar sem reserva? Qual melhor lugar para ficar? E os passeios consigo fechar estando no local?

      Olá, Luciana! O Jalapão é muito concorrido e tem hospedagem limitada. É loucura viajar sem um roteiro agendado com agência local.

    Oi!
    Estamos pensando em ir na semana de 1º de maio. Nosso medo é que a água ainda esteja turva nos fervedouros, pois pegaremos os últimos dias de abril e o início de maio. Por favor, o que me aconselha? Acha arriscado ou já costuma estar mais seco?

    Boa tarde. Parabéns pelo trabalho. Gostaria de saber sobre as condições de acessibilidade nos passeios.
    É necessário estar muito bem preparado fisicamente para aguentar um dia inteiro de passeio? Muitas pequenas caminhadas e subidas/descidas?

      Olá, Sylverio! A maior exigência dos passeios do Jalapão é encarar as estradas. Praticamente não há passeios de caminhadas, é muito quente.

    Olá Boia
    Estou planejando uma viagem ao Jalapão. Como moro em Natal e fica distante do Tocantins, gostaria de aproveitar a viagem e incluir outras atrações turísticas da região no roteiro. Você tem alguma sugestão de roteiros?

    Atenção: Os comentários são moderados. Relatos e opiniões serão publicados se aprovados. Perguntas serão selecionadas para publicação e resposta. Entenda os critérios clicando aqui.

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