Dinheiro no exterior

Dinheiro para viagem: que moeda levar? Quando usar cartões?

Não existe meio de pagamento perfeito no exterior. Todos tem prós e contras.

Levar dinheiro vivo faz você evitar os 6,38% de IOF (o imposto baixa para 1,1%). Mas tem que levar a moeda certa, senão você pode perder bem mais do que isso nas operações de câmbio.

Usar cartão pré-pago (tipo “travel money”) é bem mais seguro do que levar dinheiro vivo. Mas você paga 6,38% de IOF.

Tirar da carteira o cartão de crédito é cômodo, seguro e pode render milhas. Mas além dos 6,38% de IOF, você está sujeito à variação cambial: se o real desvalorizar entre o momento da compra e o momento do pagamento da fatura, você tem gastos extras.

Veja as peculiaridades de cada um dos meios de pagamento para montar o seu mix.

Dinheiro no exterior

Dinheiro Vivo

O IOF de 1,1% é cobrado no momento da compra da moeda.

Para países de moeda forte: leve a moeda do país

Compre dólar para viajar aos Estados Unidos, euro para a zona do euro e libra para o Reino Unido. Parece óbvio, mas com a desvalorização do real tem gente comprando dólar para levar para a Europa só porque está mais barato do que o euro, ou levando euro para o Reino Unido só porque está mais barato do que a libra.

É um erro: do mesmo jeito que o euro vale mais que o dólar no Brasil, também vale mais do que o dólar na Europa, na mesma proporção. Ao trocar o seu dólar por euro na casa de câmbio na Europa, você vai pagar a diferença que achou que estava economizando, e ainda vai perder mais uns 3 a 5% na operação cambial. (Já reparou como o câmbio tem sempre duas cotações, uma mais alta e outra mais baixa? Funciona assim: na hora que a gente compra, paga a cotação mais cara; quando vende, recebe pela cotação mais barata.)

Levar dólar para os Estados Unidos, euro para a zona do euro e libra para a Inglaterra apresenta duas vantagens insuperáveis: você compra no Brasil por uma cotação justa (é alta, mas, acredite, é o que vale) e durante a viagem pode usar o dinheiro diretamente no comércio, sem passar novamente por uma casa de câmbio.

Teoricamente, o mesmo raciocínio valeria para outras moedas fortes, como franco suíço, dólar canadense, dólar australiano, dólar neo-zelandês e yen japonês. Mas muitas dessas moedas são vendidas por uma cotação mais cara do que deveriam; normalmente valem mais a pena no cartão pré-pago do que como dinheiro vivo (provavelmente porque não há muito dinheiro em espécie dessas moedas em estoque por aqui).

Quer saber como determinar se a cotação é justa ou não? Veja a diferença entre as cotações de compra e venda. Se a diferença estiver entre as duas cotações estiver em torno de 10% (pode passar um pouco), a cotação está OK. Se a diferença entre as duas cotações estiver na faixa de 20%, então a moeda aqui está cara demais. Nesse caso, valerá a pena comprar dólar e trocar pela moeda local no país.

Para países de moeda fraca: leve dólar ou euro (ou use cartão!)

Com o dólar alto, muita gente passou a achar que é vantagem comprar peso argentino, peso chileno, peso uruguaio, peso mexicano, peso colombiano, nuevo sol peruano aqui no Brasil. É tudo tão baratinho, não? Custa centavos (o peso chileno custa milésimos de real!).

Ilusão, gente. TODAS (repetindo: TODAS) essas moedas estão supervalorizadas no nosso mercado. Se você for ver a diferença entre as cotações de compra e venda, dá 20%, 30%, chega a 40%! (O dólar e o euro mantêm uma diferença de 10% entre as cotações.) É um mau negócio. Até cotação de casa de câmbio de aeroporto, que normalmente é ruim, consegue ser mais vantajosa do que as cotações dessas moedas aqui no Brasil.

(Exceção à regra: em lugares de fronteira, a cotação da moeda do país vizinho fica vantajosa. Por exemplo: vale a pena comprar pesos argentinos em Foz do Iguaçu. Ou em lugares com colônia argentina, como Búzios e Bombinhas.)

Se você vai para país de moeda fraca, leve dólar ou euro. Do mesmo jeito que dólar e euro valem muito aqui, valem muito também no Peru, no México, na Hungria, na Turquia, na República Tcheca, na África do Sul. Mesmo fazendo duas operações de câmbio (para comprar o dólar ou o euro aqui, e vender no país da viagem), você ainda perde menos dinheiro do que se comprar a moeda fraca aqui.

Quando precisar trocar seu dinheiro, evite as casas de câmbio de aeroportos e próximas a atrações turísticas: essas oferecem as piores cotações. Nos fins de semana também a cotação baixa; troque o estritamente necessário. Na Europa, descubra as agências de banco que têm setor de câmbio; elas oferecem cotações mais vantajosas que as casas de câmbio.

Mas se você não quer esquentar a cabeça e perder tempo de suas férias fazendo cálculos e procurando casas de câmbio com cotações justas, use cartão de crédito. Garanto para você que, na média, por oferecer sempre uma cotação justa, a qualquer hora do dia e em qualquer dia da semana, o cartão pode fazer você perder menos dinheiro do que a troca em casas de câmbio.

Não leve reais. Você vai fugir do dólar alto mas vai encontrar uma baixa cotação do real em praticamente todo lugar, com exceção desses três do próximo tópico (e olhe lá).

Leve reais somente para Buenos Aires, Santiago e Uruguai

O real é pouco valorizado fora do Brasil. Ao levar reais pensando em economizar 6,38% de IOF e driblar a alta do dólar, você pode acabar vendendo sua moeda com um prejuízo de 10 ou 12%, muito maior do que o imposto que quis evitar.

Os únicos lugares onde o real encontra cotação razoável são o Uruguai (Montevidéu, Punta del Este e Colonia del Sacramento), a cidade de Buenos Aires e a cidade de Santiago. Para outros destinos da Argentina ou do Chile, leve dólares.

Cartão Pré-Pago /Travel Money

O IOF de 6,38% é cobrado da carga ou recarga de moeda. A cotação que vale é a do momento da compra. Não há tarifas para gastos no comércio. Há tarifas para saque em caixa eletrônico (US$ 2,50 por operação, mais as taxas do uso do equipamento, que variam de rede para rede). O cartão pode ser recarregado à distância, por internet banking (em dias úteis, durante o horário de funcionamento do mercado de câmbio no Brasil.)

Faça o cartão na moeda do país

O melhor desempenho do cartão pré-pago é quando a moeda carregada no cartão é corrente no país que você vai visitar. Se o seu cartão pré-pago for carregado com dólar, você não perderá nada ao fazer gastos em dólar nos Estados Unidos. Se o seu cartão pré-pago for carregado com euro, você não perderá nada ao fazer gastos em euro na zona do euro.

Mas se você usar seu cartão pré-pago carregado com dólar num país onde a moeda é o euro, você vai perder de 3 a 5% de conversão cambial. Exatamente como se você pegasse dólares vivos e fosse trocar por euros vivos numa casa de câmbio.

Além do dólar, do euro e da libra esterlina, existem cartões pré-pagos carregáveis em dólar canadense, dólar australiano, dólar neo-zelandês, franco suíço e yen japonês, que podem ser boas alternativas para quem vai viajar para esses países. Se a diferença de cotação de compra e venda estiver próxima, ou ligeiramente acima, de 10%, o cartão vale a pena. Se a diferença estiver em torno de 20%, você vai perder menos se levar cartão em dólar.

País de moeda fraca: tanto faz dólar ou euro

Em país de moeda fraca, é indiferente levar cartão pré-pago em dólar ou em euro. As duas moedas conservam cotações justas no mundo inteiro.

Todos os gastos e saques, porém, ocasionarão uma nova operação cambial, na qual você vai perder de 3 a 5%, como se levasse o dólar ou o euro numa casa de câmbio para trocar pela moeda local. A diferença com relação ao dinheiro vivo é que a cotação será a mesma em qualquer lugar, sem risco de ser engambelado por uma casa de câmbio espertinha, e sem variação entre dia da semana e fim de semana.

Dinheiro no exterior

Saque da Conta Corrente em Caixa Automático

O IOF de 6,38% é cobrado a cada saque; a cotação que vale é a do momento do saque.

Essa costumava ser a minha forma preferida de obter dinheiro no exterior. Basta habilitar a função saque internacional antes de viajar, e dá para tirar moeda local em caixa automático aonde você for.

Porque “costumava” ser a minha forma preferida? Porque ultimamente as tarifas de saque e de uso do equipamento inflacionaram demais. Isso, combinado com o baixo limite de operação de muitas redes, faz com que a cotação final acabe bastante desvantajosa.

É uma opção que vale a pena quando você não paga tarifa de saque ou de uso de equipamento no exterior (alguns bancos internacionais oferecem isso a clientes de contas premium), ou quando consegue sacar acima de US$ 300 de cada vez.

Se você conseguir sacar 250 euros ou 300 dólares (ou o equivalente a isso em países de moeda fraca), vai fazer um bom negócio. Menos do que isso, sacar moeda local no caixa automático será apenas um luxo (e um luxo caro).

Dinheiro no exterior

Cartão de Crédito

O IOF de 6,38% é cobrado a cada gasto. A cotação que vale é a do momento do pagamento da fatura.

Por estimular o descontrole de gastos, o cartão de crédito já é normalmente tido como o vilão das viagens. Em situação de instabilidade cambial (ou terremoto cambial, como estamos vivendo em 2015), então, o cartão de crédito vira o pária dos meios de pagamento no exterior.

Mas veja bem. Um dia — um dia — teremos novamente uma moeda estável. E quando esse dia voltar, saiba que o cartão de crédito não é esse bicho-papão todo, não.

A comodidade e a segurança que o cartão de crédito proporciona, na minha opinião, supervalem os 6,38% de IOF. E ainda rendem milhas, que ajudam a compensar a diferença.

A exceção uruguaia

No Uruguai o cartão de crédito barateia a ida a restaurantes: pagamentos em cartão internacional têm direito a 18,5% de desconto do IVA – o que compensa largamente o IOF e o risco de desvalorização. A mamata começou há três anos e tem validade garantida até pelo menos 30 de outubro de 2017.

Leve o seu cartão, mesmo se não for usar

Ainda que usar cartão de crédito não esteja nos seus planos, não esqueça de levar na carteira, devidamente desbloqueado para uso no exterior.

Primeiro, porque um cartão de crédito no bolso é o melhor plano B para qualquer emergência.

E depois, porque um cartão de crédito internacional é indispensável em todas as operações que exijam caução (ou “bloqueio”, no jargão do meio). Você não vai conseguir alugar carro sem um cartão, e alguns hotéis também vão fazer um bloqueio preventivo para cobrir diárias e extras.

Sem cartão de crédito você tampouco conseguirá comprar ingressos e tours antecipadamente online.

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    680 comentários

    Olá, seria interessante uma atualização incluindo agora a possibilidade de Conta Global (Internacional) dos Bancos digitais BS2 e C6Bank. Não cobram tarifas (exceto para saque) e permitem transferência imediata da conta nacional para a internacional cobrando dolar comercial, spread (2%) e IOF de 1,1% apenas, sendo equivalente a um cartão pré-pago com IOF mais baixo. E eles emitem um cartão internacional pré-pago da bandeira mastercard que pode ser usado no mundo inteiro.

      Estou justamente procurando informações sobre estas contas globais. Há algum post recente?

      Olá, Juliana! Estamos estudando o asssunto. Um post sairá breve.

    Olá, pessoal! Tudo bem? Em junho, vou viajar para os seguintes países: Inglaterra, Bélgica, Rep. Tcheca, Áustria e Polônia. Penso em levar uma quantia em espécie, mas estou em dúvida quanto ao restante, levando em consideração o nosso atual cenário econômico. Vocês indicam cartão de crédito ou VTM? Vcs sabem se o Itaú Travel Money vale a pena? Obrigado, abraços e parabéns pelo conteúdo.

      Olá, Daniel! Em situação de perpectiva de alta, o indicado é ir comprando aos poucos. Você pode comprar num cartão pré-pago em euros, tipo Travel Money.

    Oi, Ricardo! Com a disparada do dólar e do euro esse mês, continua valendo essa dica sobre levar qlq um deles para países com moeda fraca? Tô indo pra República Tcheca, Polônia e Hungria e tô pensando em levar dolar.

      Olá, Monique! Quem responde é A Bóia. Qualquer uma das duas. Ou cartão pré-pago. A conversão, mesmo com o IOF que você paga ao carregar a moeda, deve ser melhor do que as das casas de câmbio de rua, que são todas salafrárias.

    A partir de março/20 passa a valer a cotação do dia da compra para todos os cartões (Circular bacen 3918). também vale a pena mencionar que alguns bancos cobram spread altos para a conversão de moeda (Itaú, Santander e Nubank por exemplo) enquanto outros praticam cotação muito próxima do dólar comercial (Sicredi, Caixa). Por vezes o cartão acaba ficando mais barato se considerar que nas casas de câmbio praticam a cotação turismo.

    O Itaú passou a oferecer a modalidade de “carga” da moeda estrangeira diretamente no cartão múltiplo, como uma terceira funcionalidade a parte dos tradicionais débito e crédito. Pelo que entendi, sempre que você fizer uma compra no exterior o valor será debitado deste novo saldo e, caso ele seja liquidado, o consumo passaria ao limite do crédito. Há vantagem nessa forma de pagamento frente aos VTMs? Não consegui entender muito bem como é realizada a tarifação e câmbio, o cálculos são realizados a cada movimentação ou apenas no momento da carga.

      Olá, Leandro! Certamente o banco usa nesse modo “carregamento” o mesmo câmbio que usa na carga de cartão pré-pago.

    Estou em viagem e prefiro usar o cartão de crédito. Mas minha dúvida é se devo passar a despesa na máquina e real ou euro?
    Obrigado

      Olá, Bruno! Em alguns estabelecimentos vão fazer essa pergunta porque as máquinas oferecem essa possibilidade. Mas a lei brasileira não permite que se faça gastos em reais no exterior, então se você optar por cobrança em reais a compra não vai ser aprovada e você vai achar que é por falta de limite (mas é o sistema não está autorizado a aprovar). Escolha sempre a moeda local.

      O único lugar onde você pode escolher pagar em reais e a despesa vai ser aprovada é nos free-shops em território brasileiro.

    Desculpe a ignorância mas eu entendi as vantagens de levar moeda forte para país de moeda fraca em dinheiro vivo, entendi que o cartão de crédito é um bom plano B, mas e em questões de levar o travelmoney em dólar para a Colombia? Também poderei sacar em pesos e passar como cartão de débito, é isso? Estou um pouco confusa de como ele funcionaria.

      Olá, Anna Laura! A gente menciona dinheiro vivo apenas porque esta é a modalidade preferida pela maioria das pessoas. É uma mentalidade muito difícil de mudar.

      Nossa recomendação é levar cartão pré-pago (travel money) em dólar + fazer saques em pesos direto da sua conta corrente pelo valor máximo de 600.000 pesos nos bancos indicados no texto.

    Descobri que tenho dolares muito velhos em casa – carinhas pequenas – as casas de câmbio de Petrópolis não aceitam trocar. O que vc sugere? Vou para a Espanha em março. Será que consigo usar lá?

      Olá, Teresa! Todas as notas de dólar, por mais antigas que sejam, mantêm seu valor. Por haver boatos de que não valeriam, há casas de câmbio que não aceitam, por receio de compradores não aceitarem. Se você não conseguir trocar na Espanha, guarde para quando for aos Estados Unidos.

    Vou pra Londres e Paris em Março/2020. Tô em dúvida do que fazer em termos de levar $.

      Olá, Fernando! A moeda no Reino Unido é a libra. A moeda na França é o euro. Cartões de crédito funcionam nos dois países.

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