Kenoa quer dizer uau
Confesso que eu estava com o maior pé atrás com o Kenoa. Eu normalmente fico com um pé atrás quando anunciam algum hotel superluxo; os releases costumam ser bem mais grandiosos do que a realidade. Neste caso, eu tinha ainda mais motivos para desconfiar. Já tinha visto as fotos do site: todas em plano fechado, o que para mim significava que 1) ou o lugar não estava pronto, e/ou 2) os espaços eram diminutos. Achava também a localização meio suspeita — não conseguia enxergar um hotel de luxo na superconstruída praia de Barra de São Miguel, e ainda por cima num trecho da praia que eu sabia estar fora da área protegida por recifes.
Pois bem.
Entrei pelo portão do hotel — que fica no fim de uma rua sem saída e não tem placa na porta — e meus temores pareciam se confirmar. O estacionamento era apertado. O prédio terminava quase rente ao muro. Já comecei a prever uma claustrofobiazinha básica.
A impressão melhorou um pouco no check-in, a bordo de uma mimosa de maracujá com canela (tão surpreendente quanto gostosa). Perguntaram o meu gosto musical e o que eu gostaria de ter na adega do meu apartamento. Gostei.
Fomos em direção ao quarto. E então…
Uau.
E uau.
E mais um pouquinho de uau.
Mais tarde o Pedro Marques, o jovem português que é o mentor e o sócio-administrador do hotel, me explicaria que as fotos do site estão em close porque, na sua concepção, o Kenoa não é um hotel para ser revelado, mas para ser descoberto. Por que esses portugueses finos são tão tímidos? A Ana Catarina do Tauana, de Corumbau, também não mostra o hotel inteiro no site. Tudo bem. Revelo eu
O Kenoa está e não está na Barra de São Miguel. O hotel se situa no último lote da praia onde é permitido construir. Ao lado começa uma área de proteção ambiental que vai até a Praia do Francês. O ponto da praia é pouquíssimo freqüentado; sem a proteção dos recifes, as águas são traiçoeiras, e por isso não há muvuca por ali. O único movimento é o de gente caminhando pela areia, e só na maré baixa. Em nenhum momento você se sente na Barra propriamente dita. Meu GPS interno me dizia que a minha localização era De Frente Para Um Incrível Mar Azul-Esverdeado que eu não cansava de olhar.
Ocupando um terreno onde previamente havia outras casas, o Kenoa se aproveita de um zoneamento urbano, que permite que seus apartamentos da frente e suas piscinas fiquem debruçados sobre o mar (na mesma linha das demais casas da praia). Em qualquer praia deserta isso não seria possível — nem aceitável. Por conta disso, o Kenoa tem as piscinas com bordas infinitas mais perfeitas que eu já vi no Brasil.
O hotel compensa essa, digamos, permissividade topográfica com uma postura ecoambiental exemplar. A construção e a operação seguem a cartilha mais radical de sustentabilidade que você possa encontrar por aí. As paredes são feitas de argamassa sem acabamento — para não usar tinta. Todas as madeiras são certificadas ou de demolição (há muitos dormentes de ferrovia que fazem as vezes de vigas). Os (poucos) ferros que há já são pré-enferrujados. Os guardanapos e toalhas de linho não são passados a ferro — são postos à mesa charmosamente amarfanhados. A água das piscinas dos bangalôs é marinha. Não se usa plástico em lugar nenhum nem embalagens individuais de papel. (O adoçante vem à mesa num lindo conta-gotas usado em laboratório de química.) Peças rústicas de vários continentes — muita coisa vinda da África — misturam-se pelos ambientes, sem que você consiga identificar a origem (poderiam muito bem ser daqui).
Tudo isso seria muito aborrecido — caso não resultasse tão bonito. O fato é que a história que existe por trás de cada peça do mobiliário ou de cada detalhe de construção apenas torna mais interessante aquilo que, à primeira vista, já era de impressionar. (Anote o nome do arquiteto: é o alagoano Osvaldo Tenório.)
Os doze bangalôs da frente têm bom tamanho, entre 60 e 80 metros quadrados, aproveitados com inteligência. São compridos e estreitos, divididos em volumes — banheiro, quarto, sala, deck. Um muro alto torna os decks realmente privativos; há uma porta com chave que dá acesso direto à praia.
As piscininhas são aquecidas (por energia solar), de modo que dá para usar de noite (se eu fosse você, vinha na lua cheia).
Há apartamentos menores, de 48 metros quadrados, que ainda não foram inaugurados. Ficam num predinho de dois andares anexo ao prédio principal. A vista é lateral — ou seja: para a área de proteção ambiental e para o mar desimpedido até o Francês. Ao contrário do que acontece no Nannai, quem ficar no apartamento do Kenoa não vai sofrer com a visão da piscina privativa do bangalô alheio.
Querendo ficar na fileira do gargarejo mas ter uma frente mais larga de praia, cacife a Villa Kenoa, uma suíte dupla de 120 metros quadrados.
O restaurante tem cardápio — e visitas regulares de supervisão — de César Santos, da Oficina do Sabor de Olinda. Pedro propôs-lhe o desafio de fazer cozinha nordestina na cataplana, a panela ovalada portuguesa feita de cobre. A cataplana que provei — de frutos do mar com leite de coco — estava divina. A versão de César para o arroz-de-pato (guarnecido com chips de bacon) tampouco era de se devolver à cozinha O atendimento ainda está um pouco verde, mas a simpatia da juventude alagoana ajuda a relevar qualquer deslize.
E quando você pensa que já viu tudo, tem o spa. Zen no último. Você passa pela porta e no ato seus olhos, ouvidos e nariz começam a ser massageados pelo ambiente.
Quando eu quero elogiar um pousada charmosa, eu normalmente digo que ela parece sempre pronta para uma sessão de fotos da Elle Décor. Pois para elogiar o Kenoa, vou ter que dizer que o hotel parece ter aberto já pronto para entrar num livro internacional da Taschen.
É um hotel que estaria completamente à vontade em José Ignacio, o enclave eco-rústico-chique de Punta del Este. Mas que fica ainda mais gostoso à beira do mar de Alagoas.
O restaurante e o spa são abertos ao público. Os pratos individuais ficam em torno de R$ 45; as cataplanas, para duas pessoas, vão a pouco mais de R$ 90. As massagens começam em R$ 80 e chegam a R$ 230.
Se você vier visitar, esteja preparado para não querer sair. Então prepare-se, porque aí a conta começa em R$ 1.550 (R$ 1.240 na baixa) se você fizer questão de piscina privativa. (Nos apartamentos do anexo, com ofurô na varanda, as diárias vão a R$ 1.040 na alta e R$ 830 na baixa.) Fora de feriados, a estada minima é de uma noite. Alguém aí falou em… lua de mel?
Confesso que eu estava com o maior pé atrás. Eu normalmente fico com um pé atrás quando anunciam algum hotel superluxo; os releases costumam ser bem mais grandiosos do que a realidade. Neste caso, eu tinha ainda mais motivos para desconfiar. Já tinha visto as fotos do site: todas em plano fechado, o que para mim significava que 1) ou o lugar não estava pronto, e/ou 2) os espaços eram diminutos. Achava também a localização meio suspeita — não conseguia enxergar um hotel de luxo na superconstruída praia de Barra de São Miguel, e ainda por cima num trecho da praia que eu sabia estar fora da área protegida por recifes.
Pois bem.
Entrei pelo portão do hotel — que fica no fim de uma rua sem saída e não tem placa na porta — e meus temores pareciam se confirmar. O estacionamento era apertado. O prédio terminava quase rente ao muro. Já comecei a prever uma claustrofobiazinha básica.
A impressão melhorou um pouco no check-in, a bordo de uma mimosa de maracujá com canela (tão surpreendente quanto gostosa). Perguntaram o meu gosto musical e o que eu gostaria de ter na adega do meu apartamento. Gostei.
Fomos em direção ao quarto. E então…
Uau.
E uau.
E mais um pouquinho de uau.
Mais tarde o Pedro Marques, o jovem português que é o mentor e o sócio-administrador do hotel, me explicaria que o raciocínio por trás das fotos em close no site era o de que o Kenoa não é um hotel para ser revelado, mas para ser descoberto. Por que esses portugueses finos são tão tímidos? A Ana Catarina do Tauana, de Corumbau, também não mostra o hotel inteiro no site. Tudo bem. Revelo eu
O Kenoa está e não está na Barra de São Miguel. O hotel se situa no último lote da praia onde é permitido construir. Ao lado começa uma área de proteção ambiental que vai até a Praia do Francês. O ponto da praia é pouquíssimo freqüentado; sem a proteção dos recifes, as águas são traiçoeiras, e por isso não há muvuca por ali. O único movimento é o de gente caminhando pela areia, e só na maré baixa. Em nenhum momento você se sente na Barra propriamente dita. Meu GPS interno me dizia que a minha localização era De Frente Para Um Incrível Mar Azul-Esverdeado que eu não cansava de olhar.
Ocupando um terreno onde previamente havia outras casas, o Kenoa se aproveita de um zoneamento urbano, que permite que seus apartamentos da frente e suas piscinas fiquem debruçados sobre o mar (na mesma linha das demais casas da praia). Em qualquer praia deserta isso não seria possível — nem aceitável. Por conta disso, o Kenoa tem as piscinas com bordas infinitas mais perfeitas que eu já vi no Brasil.
O hotel compensa essa, digamos, permissividade topográfica com uma postura ecoambiental exemplar. A construção e a operação seguem a cartilha mais radical de sustentabilidade que você possa encontrar por aí. As paredes são feitas de argamassa sem acabamento — para não usar tinta. Todas as madeiras são certificadas ou de demolição (há muitos dormentes de ferrovia que fazem as vezes de vigas). Os (poucos) ferros que há já são pré-enferrujados. Os guardanapos e toalhas de linho não são passados a ferro — são postos à mesa charmosamente amarfanhados. A água das piscinas dos bangalôs é marinha. Não se usa plástico em lugar nenhum nem embalagens individuais de papel. (O adoçante vem à mesa num lindo conta-gotas usado em laboratório de química.) Peças rústicas de vários continentes — muita coisa vinda da África — misturam-se pelos ambientes, sem que você consiga identificar a origem (poderiam muito bem ser daqui).
Tudo isso seria muito aborrecido — caso não resultasse tão bonito. O fato é que a história que existe por trás de cada peça do mobiliário ou de cada detalhe de construção apenas torna mais interessante aquilo que, à primeira vista, já era de impressionar. (Anote o nome do arquiteto: é o alagoano Osvaldo Tenório.)
Os doze bangalôs da frente têm bom tamanho, entre 60 e 80 metros quadrados, aproveitados com inteligência. São compridos e estreitos, divididos em volumes — banheiro, quarto, sala, deck. Um muro alto torna os decks realmente privativos; há uma porta com chave que dá acesso direto à praia.
As piscininhas são aquecidas (por energia solar), de modo que dá para usar de noite (se eu fosse você, vinha na lua cheia). Querendo mais frente de praia, cacife a Villa Kenoa, uma suíte dupla, com 120 metros quadrados.
(Há apartamentos menores, de 48 metros quadrados, que ainda não foram inaugurados. Ficam num predinho de dois andares anexo ao prédio principal. A vista é lateral — ou seja: para a área de proteção ambiental e para o mar desimpedido até o Francês. Ao contrário do que acontece no Nannai, quem ficar no apartamento do Kenoa não vai sofrer com a visão da piscina privativa do bangalô alheio.)
O restaurante tem cardápio — e visitas regulares de supervisão — de César Santos, da Oficina do Sabor de Olinda. Pedro propôs-lhe o desafio de fazer cozinha nordestina na cataplana, a panela ovalada portuguesa feita de cobre. A cataplana que provei — de frutos do mar com leite de coco — estava divina. A versão de César para o arroz-de-pato (guarnecido com chips de bacon) tampouco era de se devolver à cozinha O atendimento ainda está um pouco verde, mas a simpatia da juventude alagoana ajuda a relevar qualquer deslize.
E quando você pensa que já viu tudo, tem o spa. Zen no último. Você passa pela porta e no ato seus olhos, ouvidos e nariz começam a ser massageados pelo ambiente.
Quando eu quero elogiar um pousada charmosa, eu normalmente digo que ela parece sempre pronta para uma sessão de fotos da Elle Décor. Pois para elogiar o Kenoa, vou ter que dizer que o hotel parece ter aberto já pronto para entrar num livro internacional da Taschen.
É um hotel que estaria completamente à vontade em José Ignacio, o enclave eco-rústico-chique de Punta del Este. Mas que fica ainda mais gostoso à beira do mar de Alagoas.
O restaurante e o spa são abertos ao público. Os pratos individuais ficam em torno de R$ 45; as cataplanas, para duas pessoas, vão a pouco mais de R$ 90. As massagens começam em R$ 80 e chegam a R$ 230.
Se você vier visitar, esteja preparado para não querer sair. Então prepare-se, porque aí a conta começa em R$ 1.550 (R$ 1.240 na baixa) se você fizer questão de piscina privativa. (Nos apartamentos do anexo, com ofurô na varanda, as diárias vão a R$ 1.040 na alta e R$ 830 na baixa.) Fora de feriados, a estada mínima é de uma noite. Alguém aí falou em… lua de mel?
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133 comentários
O lugar é tão singularmente paradisíaco que postei no twitter: “Kenoa, um bom lugar para se escrever uma monografia jurídica: https://bit.ly/6eKSTm. Se o mar deixar, é claro (risos).”
Concordo com o Léo: Mar de Alagoas é mar de Alagoas!
E agora, com esse “uber” hotel, nem se fala!
Lista de desejos UAU, UAU, UAU!!!!!
UAU UAU AQUI TAMBÉM. já começamos a fazer planos!
UAU!
Q show! Mar de Alagoas é mar de Alagoas, não adianta…
Fantastique!
Eita!
É UAU mesmo!
Uau, que lindo, eu tambem quero… Agora só falta eu poder cacifar essa maravilha de lugar. Um dia eu chego lá 🙂
Que beleza, hein.
Tô besta!! Vixessanta…
Nossa Riq! Lindo mesmo! Bem q o Nick tinha dito que era fantastico! 🙂 Esse tbem vai p Wish List!
Fiquei falando “nossa senhora” a cada foto…