Lares Adventure, dia 3: vida rural e um passeio de bike pelo Vale Sagrado 1

Lares Adventure, dia 3: vida rural e um passeio de bike pelo Vale Sagrado

Huacahuasi

O terceiro dia da travessia Lares Adventure nos traria de volta ao Vale Sagrado. Mas os viajantes podiam optar por três caminhos diferentes.

Os mais dispostos fariam uma longa caminhada de 6 horas do lodge de Huacahuasi (altitude: 3.835 m) até Patacancha (altitude: 3.848 m), onde a Mountain Lodges of Peru está construindo o terceiro lodge da rota. No caminho, passariam por duas lagoas de altitude. De Patacancha, seguiriam de van a Ollantaytambo, onde encontrariam o resto do grupo.

Quem se animasse a fazer uma atividade física mais lúdica poderia descer de van até logo depois de Calca (altitude: 2.930 m), já no Vale Sagrado, onde continuaria por uma expedição de 14 km de bicicleta até Urubamba; depois do almoço, seguiria de van a Ollantaytambo (altitude: 2.830 m).

E os que quisessem se ater ao tour estritamente cultural passariam no novíssimo Museu Inkariy, em Calca, que faz um inventário (interativo) de todas as culturas andinas do Peru, encontrando depois o povo da bicicleta em Urubamba.

As três atividades tiveram quórum 🙂

    Diário de Lares
    Dia 3

Como tínhamos feito no segundo dia, logo depois do café demos uma volta pelo vilarejo do lodge. Só que Huacahuasi, isolada na montanha, se revelou bem mais interessante que Lamay.

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No caminho do hotel até o miolinho da vila, as crianças corriam para fora das casas, excitadas pela visita dos forasteiros mas bastante tímidas quando percebiam alguma câmera apontada.

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Um grupo de garotas permaneceu recostado na cerca enquanto Johann (o guia de ascendência quêchua, como o nome indica, haha) nos contava sobre os costumes que ainda regem os relacionamentos na montanha. Rapazes e moças se conhecem durante as festas de Carnaval. Aos rapazes é permitido se declarar a uma moça. Caso se interesse, a moça vai voltar para casa e tecer um pano para o cortejador. Quando ela presenteia o rapaz com o tecido, inicia-se o namoro. Mas para que as coisas se tornem mais sérias, é preciso que as famílias aprovem. A família da moça vai avaliar as qualidades de agricultor do rapaz. A família do rapaz vai julgar o talento têxtil e, o mais importante de tudo, a capacidade da moça em descascar batatas com perfeição (é sério). Se os dois passarem nesse vestibular familiar, terão dois anos para coabitar e se conhecer intimamente; o sexo é permitido, desde que haja precauções contraceptivas (além da tabelinha, o povo da montanha usa folha de arruda como pílula do dia seguinte). Caso resolvam casar, será para o resto da vida: “la cárcel es menos vergonzoza que el divorcio”, assegurou Johann. Então tá.

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A todas essas eu olhava para a montanha e confabulava com meus zíperes sobre o status do Facebook retórico das moças que pastoreavam ovelhas na encosta. Estariam comprometidas?

De bicicleta pelo Vale Sagrado

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Os que não seguem a pé pela montanha voltam pela estrada, pelo mesmo caminho que tinham subido no dia anterior. Tivemos sorte que a paisagem estava diferente: na véspera, a névoa escondia o que o sol agora escancarava.

Eram umas 10h30 quando chegamos ao ponto em que nos esperavam as bicicletas da Sacred Wheels, especializada em circuitos de bike pelo Vale Sagrado, com diferentes graus de dificuldade. O que faríamos hoje era classificado como fácil. Acredito que seja, para quem está habituado a andar de bicicleta 😀

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Depois de sermos apresentados às bicicletas — mountain bikes adaptadas com bancos mais largos — saímos por uma espécie de ciclovia ao longo do rio Urubamba (o mesmo que segue até Aguas Calientes e Machu Picchu).

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O trecho à beira-rio não é longo, e logo a trilha embrenha por vias estreitas de zona urbana. Lá pelas tantas atravessamos a estrada e… começam as subidas. Amigxs, eu tentei. Mas o que para um mountain biker experiente é um aclivezinho para mim é um ladeirão (a 3.800 m de altitude). De modo que eu, minha magrela e meus pulmões optamos por transpor as subidinhas a pé.

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Chegamos à pracinha da igreja de Urubamba uma hora e meia (acho) depois da saída. A piada do momento é que a parada servia para pedir à Virgem que não houvesse mais subidas até o fim do passeio.

Aproveitei para registrar o intenso trânsito de tuk-tuks — que, a propósito, não são tuk-tuks: são mototáxis (vamos divulgar para ver se os mototáxis brazucas ficam assim…).

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A maioria do grupo chegou ao ponto final, no charmoso hotel Kuychi Rumi, com o fôlego intacto. Não era o meu caso, mas o resto de mim chegou inteiro, e era o que importava. Enquanto passava uma rodada de pisco sauer, a Mari Campos, que tinha feito o tour cultural, contava, ainda fresquita e perfumada, da belezinha que é o museu de Calca.

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O almoço (delicioso) teve uma variedade de batatas e tubérculos de entrada, frango (supertemperado) na brasa, salada de quinua e tortinha de sobremesa. Pra ser perfeito, só faltava eu ter lembrado de ter posto as havaianas na mochilinha do dia para me livrar das meias grossas que tinha posto no frio da manhã.

Chegando em Ollantaytambo

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Nos tempos incas (e antes disso), tambos eram povoados que serviam de pouso para os transportadores de alimentos entre Cusco e outras regiões do império. Ollantaytambo é o único tambo que continua povoado; as casas da área central aproveitam construções originais incas e pré-incas.

Ollantaytambo

A área religiosa do tambo — onde está o Templo do Sol, posicionado estrategicamente para receber o primeiro raio de sol do solstício de inverno — costuma ser visitada ao fim de um passeio que começa de manhã em Pisaq. Chegamos no meio da tarde, mas não fomos às ruínas: visitaríamos de manhã cedo. A tarde serviu para uma primeira caminhada pelo miolo mais antigo — e para me apaixonar pelo lugar.

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Ollantaytambo

Compacta, animada e com pouca influência colonial, Ollantaytambo me pareceu um lugar indispensável para passar pelo menos uma noite antes de subir a Machu Picchu (já falei que o trem sai dali? Pois sai).

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Pena que não tive forças para sair do hotel depois do jantar. Precisando de um sonífero? Duas horas de mountain bike resolvem!

Ricardo Freire viajou a convite da Mountain Lodges of Peru.

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7 comentários

hahaha quando eu já vi a foto da galera da bike e já ia perguntar pela Mari, ela aparece no texto toda fresquita e perfumada 😀

Adorei esses passeios. Achei tudo muito lindo! Não sei quando volto ao Peru, queria ganhar na megasena e resolver meu top10 de viagens de uma vez… mas pra isso eu teria que pelo menos jogar na megasena, né….

Já se vão 10 anos que estive no Peru em uma viagem super atribulada, essas fotos me deixaram morrendo de vontade de voltar.

E Riq, o texto do dia 3 tá o melhor de todos!!!

hahaha adorei os pensamentos sobre o Facebook retórico das pastorinhas 😆 😆 Essa manhã foi tão simples e gostosa que dá saudades (sem falar do quórum basicamente privê da ida ao mercado e museu 😛 )

Adorei esse dia 3! Eu ia querer muito te acompanhar, inclusive empurrando a bike ladeira acima. Mas… acho que ia com a Mari! 😉

    hahaha meu joelho estropeado serviu de desculpa por muitos dias 😛 (mas, sério, o passeio ao museu e ao mercado local foi mesmo muito, muito legal)

Dia 3 tá lindo…meu preferido so far! interessante o caso das batatas ( seria o caso de uma saudação? rs )

Riq,

Também achei Ollanta uma gracinha e sempre indico passar uma noite por ali antes de tomar o trem a MP.

Que passeio legal, Ricardo! Fui para o Peru no ano passado e, fora o deslumbre óbvio com Macchu Pichu e as ruínas incas, fiquei apaixonada pelas paisagens do Vale Sagrado! Voltei pensando que o vale por si só, com suas montanhas nevadas e campos de plantações, seria um ótimo destino de ecoturismo para fins de semana prolongados. O que seria bem mais fácil se houvesse um voo direto do Brasil para Cusco… Vamos fazer pressão nas companhias áreas? Ah, e parabéns pelo passeio de bicicleta. Naquela altitude, deve ter sido difícil até empurrar a bendita ladeira acima…

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