Glasgow: o charme insuspeito da maior cidade da Escócia
Saltei do táxi na North Frederick Street. Uma porta de vidro com um Z impresso indicava o meu hotel. Entrei, e dei de cara com um balcão de cafeteria, uma pequena cozinha nos fundos e mesas ao redor. Pensei ter entrado por alguma porta lateral direto no restaurante, e perguntei onde poderia fazer o check-in. “Aqui mesmo!” disse um simpático atendente, enquanto pedia os dados da minha reserva.
O The Z Hotel é um hotel enxuto, de quartos compactos, com um charme industrial discreto que não força a barra para ser hotel-boutique. A equipe é simpática e, como cortesia, são servidos vinhos e petiscos num happy hour generoso que vai de 17h às 20h.
Existem outros hotéis Z em Londres e em Liverpool, mas em Glasgow a proposta da rede se encaixa com perfeição. Porque assim é Glasgow: uma cidade grande que não força a barra para parecer bacana, com um centro turístico compacto, e com um povo que não poderia ser mais acolhedor.
Glasgow não tem a melhor das reputações, e não por acaso. Com o declínio da indústria naval em meados do século passado, viveu décadas difíceis de desemprego e aumento de violência. Mas, se você já escutou comentários pouco entusiasmados sobre a cidade, provavelmente não vieram de pessoas que estiveram lá nos últimos anos. Glasgow é, hoje, um pólo cultural interessantíssimo, com a vantagem de caber direitinho em 3 dias de passeio.
Veja a seguir 5 boas razões para incluir Glasgow no seu roteiro pelo Reino Unido:
1 | Um centro vivo
O centro de Glasgow, e o bairro adjacente Merchant City, são o pedaço mais fascinante de cidade. É uma área bacana de se hospedar, porque tem uma dinâmica diferente dos centros de outras cidades grandes. Cheguei em Glasgow em um domingo, e encontrei por ali gente passeando nas ruas, lojas funcionando, e restaurantes e bares abertos, inclusive à noite. É um centrão que não existe apenas no horário do expediente.
No centro de Glasgow ficam as principais ruas de compras da cidade: Buchanan, a mais grã-fina, e Argyle e Sauchiehall, as mais populares. Não se pode resistir a paquerar as vitrines, se estão lado a lado em longos trechos exclusivos para pedestres.
Na Buchanan Street, as lojas ocupam prédios vitorianos monumentais e lindíssimos. Se a verba para as compras for curta, e a tentação, muito grande, e só olhar para cima e o passeio continuará valendo a pena
Em Merchant City, os antigos armazéns de tabaco, algodão e açúcar, antes abandonados e hoje convertidos ou vizinhos a bares, prédios de apartamentos e galerias, são um grande exemplo da recuperação da cidade.
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2 | O charmoso West End
O West End é o bairro por onde você vai gostar de andar sem compromisso, parando em um café ou em um bar simpático para tomar qualquer coisinha enquanto espia o vai-e-vem da rua.
Tem uma atmosfera mais jovem (a Universidade de Glasgow fica por ali), com lojas de marcas independentes ou descoladas ao longo da movimentada Byres Road.
O West End é um lugar adorável para alugar um apartamento e brincar de levar uma vidinha de bairro. Procure seu apê pelas imediações da Byres Road, entre as transversais Grosvenor Lane e University Place. Fileiras e mais fileiras de townhouses robustas formam interessantes desenhos rua acima, e fora da via principal o clima do bairro é de total tranqüilidade.
Quem estiver hospedado fora do bairro vai ter motivos para visitar o West End ao menos duas vezes. Pela manhã ou pela tarde, para aproveitar as atrações culturais e o comércio de rua. E, noite adentro, para curtir a bucólica Ashton Lane e seus barzinhos.
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3 | Um circuito cultural sui generis
O circuito de arte mais tradicional de Glasgow inclui o museu Kelvingrove (Argyle St., tel. 141/276-9599), o museu The Burrell Collection (Pollok Country Park, 2060, tel. 141/287-2550), e até mesmo o GoMA (Royal Exchange Square, tel. 141/287-3050), galeria de arte moderna. Qualquer um que cumpra este circuito, e dê também uma espiada no Riverside Museum (100 Pointhouse Rd., tel. 141/287-2720, estará muito bem servido de artes, obrigado. Mas Glasgow também tem pequenos centros culturais que valem a visita.
Em Merchant City, se você estiver distraído pode até passar direto pelo Trongate 103 (tel. 141/276-8380): a entrada do centro cultural (não por acaso, na rua Trongate, número 103) é discretíssima se comparada ao prédio colossal em que funciona (um ex-armazém, como é característico do bairro). O Trongate 103 é a casa permanente do Sharmanka Kinetic Theatre, o teatro cinético do escultor russo Eduard Bersudsky.
É um espetáculo melancólico e ao mesmo tempo bem-humorado. Os protagonistas são esculturas feitas de partes de máquinas de costura, ventiladores, sinos e outros achados, combinados com objetos de madeira esculpidos pelo próprio artista e até 10 motores independentes por peça.
Cada escultura faz um pequeno show, sem qualquer interferência humana, combinando seus movimentos com música, luzes e sombras. Eu assisti à versão reduzida do espetáculo, de 45 minutos. Foi o suficiente, mas fiquei com vontade de ver a apresentação inteira, que leva 1 hora e 10 minutos. (As sessões acontecem em horários fixos; consulte e reserve pelo site.)
Uma passadinha no simpático Café Cossachok (10 King St., tel. 141/553-0733), que serve pratos típicos russos e fica no térreo do centro cultural, faz desse um programa redondinho.
No West End, a antiga igreja da paróquia de Kelvinside deu lugar ao Òran Mór (Byres Rd., tel. 141/357-6200), um versátil centro de artes e entretenimento. Uma vez em Glasgow, você pode escolher ao que assistir por lá: espetáculos de comédia, bandas ao vivo, ou alguma peça do projeto A Play, A Pie and A Pint, que não é nada menos do que sensacional.
Funciona assim: a cada semana, uma nova peça entra em cartaz na hora do almoço. O seu ingresso dá direito a assistir ao espetáculo (a play), comer uma torta salgada (a pie) e tomar um chopp (a pint). Você busca os comes e bebes num balcão e senta na platéia em mesas coletivas, dispostas ao redor do palco.
É um programa bárbaro. As peças são curtinhas, com duração de uma hora. O lugar é incrível. E o público comparece em peso. Os valores variam de acordo com o dia na semana; é mais barato ir na quarta-feira (10 libras), e mais caro ir no sábado (14 libras) — preços camaradas o suficiente para arriscar a compreensão de um texto em inglês com sotaque da Escócia. Domingo é o único dia da semana em que não há apresentação.
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4 | Noites animadas
Não é preciso estar na cidade em uma sexta ou em um sábado para aproveitar a noite em Glasgow. Bares e restaurantes bacanas estão abertos todos os dias. No aconchegante Ubiquitous Chip, na Ashton Lane (nº 12, tel. 141/334-5007), West End, casaizinhos aproveitavam a segunda-feira para namorar. No Gin71 (71 Renfield St., tel. 141/353-2959), no centro da cidade, nem parecia domingo à noite quando ocupamos uma das últimas mesas do salão.
Aliás, o Gin71 é um barato: de dia, um salão de chá fofíssimo. De noite, um bar. E eu, que só conhecia Tanqueray, Bombay Sapphire e olhe lá, jamais desconfiaria que o “71” no nome do bar poderia ser uma menção ao número de rótulos da bebida à disposição na casa. E pior que é. A diversão é eleger um favorito entre gins “cítricos”, “robustos” ou até mesmo “aventureiros”, e testar combinações com tônicas variadas e ingredientes como gengibre, capim-limão e pepino.
Merchant City é um dos principais pólos da vida noturna em Glasgow. Tem bares elegantes, pubs descontraídos e concentra a maior parte das casas LGBT da cidade, como o Delmonicas (68 Virginia St., tel. 141/552-4803). O guia online Design My Night é um bom ponto de partida para pesquisar qual é a boa durante a sua viagem.
Gosta de música? Então aproveite sua estadia para assistir a um show ou a um concerto. Belle and Sebastian, Franz Ferdinand e Jesus and Mary Chain são alguns dos filhos ilustres da cidade, que tem uma das casas de show mais aclamadas do Reino Unido — a diminuta King Tut’s Wah Wah Hut (272a Saint Vincent St., tel. 141/221-5279), que já recebeu Oasis, Blur, The Strokes e Placebo em um espaço onde não cabem mais do que 300 espectadores.
Também vale a pena dar uma olhada na programação do Old Fruitmarket (Candleriggs, tel. 141/353-8000), que, como o nome entrega, funciona em um antigo mercado restaurado.
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5 | A herança de Mackintosh
Estar em Glasgow é, eventualmente, cruzar com alguma obra de Charles Rennie Mackintosh, o mais festejado arquiteto escocês, que viveu entre o fim do século XIX e início do século XX e é um símbolo da art nouveau no país. Há muito o que ver: peças de mobiliário suas estão no Kelvingrove (Argyle St., tel. 141/276-9599); uma reconstrução de sua residência foi feita no The Hunterian (University Ave., tel. 141/330-4221); seu simpático salão de chá Willow Tea Room tem dois endereços no centro da cidade, entre outras muitas obras (conheça todas aqui).
Do edifício aos talheres, o Willow Tea Room da Sauchiehall Street (nº 217, tel. 141/332-0521) foi totalmente desenhado por Mackintosh, à época. Hoje, rememora o seu design em souvenirs e em uma exposição de maquetes, e nos salões restaurados à semelhança daqueles de 1903. Dá para fazer uma pequena viagem no tempo.
Em 2014, um incêndio atingiu a obra-prima de Mackintosh em Glasgow: o edifício original da Glasgow School of Art (167 Renfrew St., tel. 141/353-4500), que está em processo de restauração. Uma maquete no edifício em frente, que é a nova sede da universidade, dá uma idéia da grandiosidade e da beleza da construção original.
Mesmo com o prédio interditado, os estudantes da Glasgow School of Art têm promovido seus bem-avaliados passeios guiados pela cidade, em que falam sobre Mackintosh e art nouveau, e também sobre outras influências e características da arquitetura de Glasgow.
E aí? Bora pra Glasgow?
Mariana viajou a convite do VisitBritain.
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Comentários
Gostaria mto de conhecer Glasgow
Vindo das Highlands, depois de passar por Edimburgo, pode ser uma boa retornar ao Brasil de Glasgow? Pretendo viajar em junho e estou definindo se chego por Londres e retorno por Galsgow. Está me parecendo um roteiro mais econômico e melhor do ponto de vista logístico do que retornar a Londres ou a Edimburgo para voltar ao Brasil.
Olá, Perla! Glasgow é uma porta de entrada ou saída melhor do que Edimburgo, por ter mais ligações com capitais da Europa servidas por voos diretos ao Brasil.
Ola, Bóia e Ricardo. Considerando que tenho 4 noites na Escócia em agosto para conhecer Glasgow e Edimburgo e quero montar uma base só, olhei os preços da hospedagem. Em Glasgow é metade do valor de Edimburgo para mesma categoria/qualidade de localização. Acha relevante para a viagem dormir em Edimburgo ou não perco nada fazendo 2 bate- voltas a partir de Glasgow.
Obrigada,
Izabella Zava.
Olá, Izabella! Espero que você tenha computado os gastos com transporte no seu cálculo. Mas veja: o post é simpático com Glasgow mas a cidade não chega ao dedinho do pé de Edimburgo.
Obrigada, Boia. Mesmo com custo de transporte sairia 400 libras a menos, mas realmente vou ficar em Edimburgo então. É porque me assustei muito com preço de hospedagem em Edimburgo. Mais caro que Paris e Barcelona. Não sei se está rolando sobrepreço pela reabertura, mas fazer o quê…
(Respondi a mim mesma porque não achei botão pra te responder)
Ola, Izabella! Será que você não está viajando bem na época do festival de verão? Dê uma olhadinha na modalidade “hospedagem em quarto” no Airbnb – ficar nuam casa com anfitrião de repente traz menos incômodo do que ficar fora da cidade.
Obrigada! Era isso mesmo! A diária caiu em torno de 100 libras por dia! Vou remarcar minhas férias uma semana pra frente! rs
Boia! Voltei pra agradecer. Você foi fundamental nessa viagem. Graças a você eu adiei por causa do festival e me hospedei em Edimburgo. Agradeço muito porque eu fiz 1 bate-volta a Glasgow e sinceramente achei uma perda de tempo turisticamente falando. O Sharmanka até foi legal, mas não vale o deslocamento. Achei mais inusitado do que bom. E mesmo achando bom não valeria ir até Glasgow por isso apenas. Honestamente não curti Glasgow. Ela não chega mesmo ao dedinho do pé de Edimburgo. Essa sim, eu me apaixonei.
Depois de morar e cair de amores por Edimburgo, Glasgow não me cativou, mas depois deste post deu até vontade de dar mais uma chance para a cidade.
Gostei do seu olhar! Eu fui há muitos anos, os anos cinzas, e ainda assim passei por ruas bonitinhas a caminho da Universidade e concordo que as pessoas são o melhor de Glasgow!
Estive em Glassgow, saindo de Edimburgo, mas não amei a cidade. Glassgow é bem industrial, e achei bem menos charmosa do que Edimburgo. Considerando o custo alto das cidades e dos trens no reino unido, acho que tem outras cidades mais interessantes para serem colocadas num roteiro. Achei bem bacana o passeio até o Lago Ness, conhecendo alguns vilarejos no norte da Escócia.
Socorro que saudade T_T. Morei 4 meses em Glasgow e caramba, que cidade incrível e surpreendente, e o slogan da cidade faz todo o sentido. People Make Glasgow.
Estive duas vezes em Glasgow e amei a cidade! Povo alegre e acolhedor, hotéis aconchegantes, museus surpreendentes, não vou continuar…vá e veja de perto! Eu vou voltar, com certeza!
É uma cidade que normalmente não é incluída nos roteiros de viagem ao Reino Unido, o que acho lamentável. Povo acolhedor, bela arquitetura e uma das Catedrais mais sensacionais que eu já visitei(e não foram poucas heim!).
Estive em Glasgow 2 vezes, recentemente e a cidade me surpreendeu. E ainda pretendo voltar. Povo realmente acolhedor, o centro é maravilhoso, e há muito o que ver e fazer. Morando em Edimburgo é uma bate e volta fantástico. Cada vez gosto mais da Escócia!
Estou visitando pela primeira vez, e estou adorando tudo aqui.