Síndrome de Senac (minha crônica no Divirta-se do Estadão)

Serhs, Natal

Qual é a categoria profissional mais eficiente do Brasil? Não tem pra ninguém: são os garçons de café da manhã de hotel.

Sim, eu sei que os garçons de café da manhã de hotel são os mesmos que estão no almoço e, às vezes, no jantar. Acontece que eles perdem a eficiência lá pelo meio da manhã. Acho que gastam toda a eficiência no café. No almoço e no jantar eles fingem que não te vêem. Mas no café da manhã são uns aviões.

A culpa deve ser do Senac. Os estudantes de garçom aprendem que nenhum prato, talher ou xícara do café da manhã pode permanecer sujo por mais de cinco segundos sobre a mesa do hóspede. O conceito de sujeira é rígido. Migalha é sujeira. Café pela metade na xícara é sujeira. O pedacinho de bolo que você deixou para o final é sujeira.

Garçom de café da manhã de hotel opera no sistema tolerância zero. Resultado: você vai ao buffet para se servir de algo mais e quando volta – cadê o seu lugar? O garçom passou, implacável, e levou xícara, prato, talheres. The Flash! Caso você demore quarenta e cinco segundos a mais na fila da tapioca, vai ter uma outra família acampando na sua mesa. (Já cansou de acontecer comigo.)

Se você estiver sozinho, não há maneira de evitar. A não ser que você tenha suficiente sangue frio para deixar o iPhone ou o Ray-Ban sobre a mesa marcando lugar. Quem estiver em dupla pode agir em equipe. Vai, se serve você, que eu fico aqui vigiando a sua xícara. Quando você voltar, vou eu. No almoço a gente conversa com calma.

Encontrei um hotel, o Serhs de Natal, que inventou um paliativo contra a supereficiência dos garçons de café da manhã. Foi criado um cartão com um lado verde e outro vermelho, tipo os de churrascaria rodízio. No lado vermelho está escrito ocupada/taken/ocuppato/occupée/Besetzt, para que na volta você não encontre uma outra pessoa/person/persona/personne/Person no seu lugar. O problema é que o cartão não impede que o garçom/waiter/cameriere/garçon/Ober desapareça com a melhor metade da sua fatia de queijo branco.

Mas o pior é voltar ao quarto e ver aquele aviso de “vamos economizar água, reaproveite a sua toalha!”. Hmpf. Tudo o que a gente economiza de Comfort, os garçons gastam em Limpol.


37 comentários

Riq
Na edição derivada de árvores houve algo que poderíamos chamar de “Cup Cakes 2, o retorno”: a crõnica saiu em nome do André Laurentino. Não há revisores no Estadão ?

    Hehe, pelo jeito só estão preocupados em tirar os meus tremas e chapeuzinhos. É a vingança da classe! Falo tanto mal deles que eles vêm e créu! :mrgreen:

Adoro café da manhã. É minha refeição predileta. Adoro sentar, ler o jornal, enquanto tomo um yogurt com cereais. Depois, um croissant com queijo e um café. Depois, mais um cafezinho com mais um pedacinho de queijo. Mais um café. Fico desesperada com esse estilo SENAC de ser de alguns hotéis. Perco todo o tesão.

Copiei a frase final pra colar no comentário e dizer que achei genial, mas pelo caminho vi que foi unanimidade. Então junto-me aos bons:
“Tudo o que a gente economiza de Comfort, os garçons gastam em Limpol.” é mesmo um final apoteótico para um texto pra lá de bom!

Levaram, certa vez, minha pílula diária, que me controla a pressão.
Bons tempos aqueles em que o chaveiro parecia um tacape. Ficava em cima da mesa, número do quarto virado para cima.

haha! Mega verdadeiro!
Eu sou da turma da Merel – sempre levo uma revista e deixo na mesa, quando estou sozinha. Acompanhada, é o esquema de revezamento.

Meu, a sua sutileza ao perceber os fatos mais corriqueiros só não é melhor do que a sua capacidade de trasnformar tudo em palavras, ou melhor dizendo, em caracteres.

Mais uma vez, fantástico, com um final mais que apoteótico.

Já passei muita raiva também e uma vez já fui atrás de um garçom para recuperar um pedaço de torta de morango que eu
estava guardando como “grand finale” do café da manhã. Eu tinha arrematado o ultimo pedaço da torta na mesa do buffet e não podia deixar ele levar aquele tesouro…

uma vez aconteceu comigo : me servi de um pouco de café preto.Não achei necessidade de trocar a xicara e voltei ao buffet pra me servir de mais café agora com leite, nesta ida o garçom, sem falar nada, pegou no pires e puxou minha xicara, eu puxei ela de volta, ele puxou-a novamente, eu puxei ela de volta, e ficou nesta briga até que eu falar :”vou me servir de mais café” . Ai ele cedeu, mas com uma cara frustada.

O meu marido avisa sempre aos garçons para não recolher os talheres e a xícara que ele não terminou ainda. Isso no Brasil e no exterior. Em hotéis e resorts. Genial a crônica, um retrato!!!

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