Alô, hotéis: early check-in não é favor, é serviço

Ficha de opinião, Castro's Park Hotel

#VnVBrasilMais do que  ninguém, eu sei que não se deve contar com a entrada no quarto do hotel antes do horário de início da diária (14h na maioria dos hotéis, 15h nos Estados Unidos). Já escrevi sobre isso neste post: 10 certezas que um viajante não deve ter.

Em viagens noturnas internacionais, eu recomendo até mesmo que se pague a diária desde o dia anterior, para que, ao chegar às 7 ou 8 da manhã no hotel, você tenha 100% de garantia de subir imediatamente ao quarto e descansar da noite inglória no avião.

Estou inclusive preparando um texto especial para os hóspedes de resorts, que são os que enfrentam os maiores problemas, devido ao check-out e check-in de grandes grupos. Nesse texto, ainda não-publicado, vou recomendar que viajem devidamente equipados e preparados para curtir as instalações do hotel durante o dia antes de entrar no quarto; assim evitam se aborrecer e deixar que o mau humor inicial estrague a estada inteira. (Se você deixa se transtornar por problemas de check-in, tende a achar defeito em tudo e não consegue aproveitar a viagem.)

Pois bem: ironicamente, um misto disso tudo aconteceu comigo neste sábado, em Goiânia. Eu vinha da cidade de Goiás e precisava estar em Goiânia antes do meio-dia para pegar roupa que tinha deixado numa lavanderia. Para não dar chabu, peguei o primeiro ônibus direto, e cheguei ao hotel Castro, o cinco estrelas da cidade, pouco depois das 9 da manhã. Mesmo sabendo que não seria garantido, eu presumia que subir ao quarto seria fácil: num sábado, um hotel business de uma cidade business só estaria lotado se houvesse uma convenção ou um festão.

Cheguei, e a sorridente recepcionista esperou eu terminar de preencher a ficha de hóspede para dizer: “O horário de check-in do hotel é 14 horas”. Me preparei para pedir um jeitinho, quando ela continuou: “Mas por um pagamento de 50% da diária, o senhor pode fazer early check-in”.

CUMA? Não deixar o hóspede subir com o hotel tendo quartos disponíveis e limpos já é um insulto. COBRAR por isso é um assalto! Nunca, em 30 anos de viagem, algum hotel já teve a cara de pau de tentar me extorquir early check-in. (Cobrar por late check-out é comum; mas early check-in? Jamais visto.)

Mas não me exaltei. Disse um não, obrigado. Então ela regateou: “Bom… a gente pode fazer por 25%”.

Então aconteceu. O meu sangue FERVEU. E eu entrei naquele estado transtornado que eu tanto quero evitar no meu leitor hóspede de resort. Não, não fiz escândalo nem nada. Mas não consegui evitar que eu fosse tomado por um mau humor profundo e maligno. Tudo o que eu queria era sair dali correndo, mas a diária já estava pré-paga e eu precisava de todo modo visitar o hotel para o meu guia.

Respirei fundo, recusei e fui trabalhar ali no lobby, com a minha internet 3G. Mas o assunto early check-in (e a cara de pau de cobrar por ele) não saía da cabeça. Me lembrei de um amigo que trabalha em hotelaria, e a quem respeito muito, que me disse outro dia que é política de algumas redes não conceder early check-in nem quando há quartos disponíveis, para não acostumar o cliente (se ele ganha uma vez acha que vai ganhar sempre, e daí quando não ganhar a próxima vez fica com raiva do hotel).

Discordo. O hóspede esclarecido sabe que há situações em que o early check-in é possível, e situações em que não é. E para que o hóspede seja esclarecido, basta esclarecer ao hóspede.

O momento da chegada é o mais delicado de uma viagem. Uma má experiência pode comprometer toda a estada no hotel e a viagem inteira do cliente. Quando chegamos a um hotel, estamos chegando de um deslocamento que dificilmente terá sido agradável. Enquanto não vemos o quarto e não deixamos a nossa mala, é como se não tivéssemos chegado. Nesse momento, tudo o que um hotel puder fazer pelo cliente será mais do que bem-vindo. Mas se um hotel simplesmente se recusar a prestar a assistência que poderia dar (há claramente quartos disponíveis, mas a política de check-in é rígida), ganhará a antipatia imediata do hóspede. É o que eu chamo de early dislike. Reverter isso mais tarde vai sair muito mais caro.

Num hotel que se preze pelo bom serviço, existem três respostas possíveis ao hóspede que chega antes do horário do check-in:

1) – Nosso horário de check-in é às 14h, mas o senhor deu sorte, temos um quarto disponível e limpo, o senhor vai poder subir já.

2) – Nosso horário de check-in é às 14h, mas temos alguns quartos que estão sendo limpos neste momento; se o senhor quiser aguardar, acredito que em até xis minutos haverá um disponível.

3) – Nosso horário de check-in é às 14h, adoraríamos poder acomodá-lo antes disso, mas infelizmente há muitas saídas e chegadas simultâneas, e pode demorar bastante até um quarto estar limpo e disponível. O senhor vai querer mesmo esperar?

Pronto. Para administrar as alternativas 2) e 3) não é preciso mexer no sistema nem nada. A tecnologia é simples e pode ser aprendida num estágio numa pizzaria qualquer domingo à noite. O nome técnico é “fila de espera”.

Como eu já disse, ter quartos disponíveis e não se esforçar para acomodar o cliente é negligência. Porque se o quarto está pronto o early check-in não custa nada ao hotel.

Cobrar pelo early check-in, então, é mesquinhez. Ao tentar me cobrar uma diária de 12 horas para ocupar um quarto por quatro horas, o hotel estava:

1) me vendendo uma mercadoria vencida — a diária de ontem, que não teria mais como ser vendida;

ou

2) me vendendo de novo uma mercadoria que já tinha sido vendida — o quarto que foi ocupado, pago, desocupado e limpo a tempo de gerar uma diária e meia arrancada ao primeiro incauto.

Mas o hotel não conseguiu apenas não me vender essa meia diária. Ao me propor esse negócio tacanho, o hotel acabou não me vendendo absolutamente nenhum extra. Porque me recusei a abrir o frigobar, a experimentar a famosa feijoada do sábado, a tomar drinks na piscina (ops, esse não teria dado para fazer de todo jeito, porque a piscina está fechada em manutenção). Preferi tomar água da torneira a ter algum rescaldo a pagar na saída.

Estava feliz da vida no check-out (ficar no hotel estava me fazendo mal). Mas quando a outra recepcionista fez a inocente pergunta, “Gostou da estadia?”, eu quase surtei. Por uma bobagem: uma proposta indecorosa no check-in que me cegou para todas as qualidades que o hotel deve ter, e vai prejudicar para sempre o meu juízo sobre o lugar.

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209 comentários

Em um hotel econômico isso seria o bastante para me deixar chocada, e nunca mais voltar. Como pode acontecer em um “5 estrelas”???

Olha Samira, eu também sou turismologo e posso afirmar que o principal problema do turismo brasileiro é a falta de cortesia. De qualquer maneira, a burocratização em excesso já torna o Brasil um pais difícil para negócios, nas devemos deixar que aconteça o mesmo com o turismo. Das duas uma: ou precisamos estudar mais ou viajar mais, para nao falarmos tanta besteira.

    É preciso viajar mais. Acredito que parte das muitas coisas sem noção que acontecem no mercado do turismo brasileiro (preços, péssimo atendimento, vocação para a exploração e deslealdade, desconhecimento de outros idiomas, má formação e amadorismo dos profissionais etc.) se devem à falta de parâmetro. Como as pessoas (tanto as que consomem o produto como as que o vendem) viajam pouco, elas não têm parâmetro nem referência do que é bom ou ruim.

    Pelo lado de quem vende o produto, isso termina gerando péssimos atendimentos e preços irreais. Na visão restrita e obtusa de quem presta o serviço, ele só está fazendo o que todo mundo faz (atender de qualquer jeito, cobrar o que quer, explorar etc.).

    Já pelo lado de quem consome o produto, o fato de não viajar muito impede que o viajante/cliente se conscientize de seu valor, impede que ele aprenda que deve procurar mais e melhor pelo seu dinheiro (criação de um mercado mais exigente sem a contrapartida do aumento de preços já elevados).

    Essas experiências dificilmente um curso consegue ensinar. É preciso viajar, ser bem tratado (para ver como mesmo em hotéis simples ou restaurantes não caros dá para ser bem atendido), ser mal tratado (para isso não precisa sair do Brasil), ser explorado (de uma primeira vez, aprendendo para as próximas), passar por perrengues e ser (ou não) auxiliado pelos profissionais locais na resolução do problema e assim ir adquirindo a vivência necessária a saber o que é e o que não é uma experiência correta e bem sucedida e, a partir dessa aquisição de parâmetros, de referências, ter-se melhores prestadores de serviços e viajantes/consumidores mais esclarecidos.

    Mas gente, ela conheceu 25 cidades em 6 países, mais de 15 hotéis!! Precisa de mais mesmo??

    Aff.

    Que tal um pacote de 15 dias incluindo 15 cidades? Imagina poder dormir uma noite em cada hotel! Seria o máximo para a pesquisa dela!

O tema em debate é bastante pertinente, sim. O tratamento dado ao hóspede, no momento de sua chegada ao hotel, é essencial à avaliação que ele faz de sua estada. Cito o que aconteceu conosco, recentemente, em Nova York. Chegamos às 11h 30 e, mesmo com uma recepção movimentada, fomos de imediato para o quarto em um check in rápido. Conseguimos, também, um late check out. Dentre outras coisas, claro, isto pesou, favoravelmente, no comentário que inseri no Tripadvisor.

Pior é quando o hotel PROMETE um early check-in e não cumpre. No meu caso, reservei um hotel da rede Bittar em Brasília e avisei que chegaria por volta das 9h. O check-in era às 12h. Solicitei check-in antecipado e foi confirmado por e-mail. Quando cheguei, disseram que não havia apartamentos vagos e tive que esperar quase duas horas até ir para o quarto! Pergunta se eu voltei/voltaria a um hotel da rede…

Check-in e check-out são pontos cruciais em minhas avaliações de hotéis/pousadas.
Sempre comparo horários quando pesquiso, pois nunca se sabe a condição de vôos e passagens que encontraremos.
Como outros colegas, entendo perfeitamente quando não há disponibilidade, mas a flexibilidade conta pontos em minha avaliação tb.
É uma oportunidade para iníciar um bom relacionamento com o cliente, ofertar um quarto que já está pronto. (qualquer turismólogo que se preze deveria aprender sobre isso)
Parabéns ao Hotel Castro, que com seu desserviço ajudou a criar este post.

Fiquei com peninha da última recepcionista que perguntou se gostou da estadia. Lei de Murphy! 🙂
Absurdo o acontecido! Nunca tinha ouvido falar disso!

Olha, por mais surreal que pareça, já aconteceu comigo:
Cheguei ao hotel às 19 hs e meu checkin era, sei lá, às 14. A recepcionista me pediu o cartão de credito e eu achei estranho. Estava morta, vinha de um voo com conexões, quase 15 hs do Rio até Londres…. Perguntei pra que, já que o hotel estava 100% pago, ao que recebi como resposta: “a Sra. E
esta atrasada para o checkin e cobramos multa por isso de (acho, já nao lembro) 20 libras a hora.”
Fiquei em estado de choque, no mínimo! Falei que nunca rinha visto isso, meu quarto estava pago, era como se eu estivesse lá, que diferença faria a nao ser por mim, que já estava morta, estressada e vindo de um voo atrasado e que eu nao tinha o mínimo controle sobre isso… Enfim. Estava tão cansada que paguei, subi, e fiquei sim, com mta raiva (inclusive de mim, pois isso estava nas “regras” e eu nao li, logo eu, uma mala que lê cada coisinha hahah)
Dois dias depois fomos embora, o hotel era sim agradável, mas…. Nao voltaria nem recomendaria…. 🙁 mas na saída a recepcionista disse que iria extornar pois isso nao traria nenhum problema ao hotel (obviamente) e ela gostaria que nao ficássemos chateados com a situação.

Bom, recuperei o dinheiro, até gostei do hotel, mad continuo achando super hiper meeeega esquisito me culpar por atrasar a chegada….. Oo

    Absurdo!

    que tal divulgar o nome desses hotéis, hein! nada como um boca a boca…

    Foi no Hoxton – aquele mesmo dos bafafás com as *promoções* de 1 libra (que acabam em menos de 1 segundo)….

Riq, que coisa mais sem noção.
Um pena que os hotéis que cobram por early check-in não alcancem o quanto estão perdendo dos seus clientes…
Sei não, mas se essa sua Trip fosse uma maratona (e é quase), acho que Goiânia ficaria (para mim) como um das fortes concorrentes a ter uma excelente colocação, mas tropeçou desde a largada… Uma pena 🙁

Isso é exemplo de hotel 5 estrelas (aliás, a hotelaria top de Goiânia sofre com a falta de competição e renovação, são os mesmos nomes de 5 ou 6 anos atrás) se comportando como se fosse um todo automático hotel low-cost com rotinas programadas (que certamente não iria fazer negociata de balcão).

Eu até entenderia, sem concordar necessariamente, com a postura de algum hotel que decida não permitir, sob qualquer circunstância, o check-in antecipado, se ofereça para guardar malas e ponto final. Mas barganhar com cliente na recepção desse jeito é coisa típica de pousadeiro ganancioso no reveillón.

Mas vamos falar de horário de check-in de forma geral…
Aliás, está para surgir, acho, uma rede de hoteis que antecipe em algumas horas tanto o check-out como o check-in, ou que dê essa opção a clientes. Em destinos de negócio (como Goiânia, São Paulo, Brasília), ninguém sai do hotel meio-dia exceto se tiver vôo no começo da tarde.

Na minha mdoestíssima opinião, seria melhor introduzir algum sistema que permitisse a um certo número x de hóspedes reservarem quartos com check-in as 10h e check-out, digamos, as 9h. Mesmo que seja um número pequeno como 30% dos quartos. Seria ótimo para quem tem um dia cheio de atividades fora do hotel depois seja do check out ou do check in. Em áreas turísticas, poderiam fazer o contrário – check-in e check-out mais tarde. Lugares no espírito descolado-despojado podem até oferecer guarda-malas modernos(os).

No fim das contas, qualquer das medidas (adiar ou antecipar a janela dos serviços de arrumação, camareira e limpeza) não afeta muito a forma de operaçao de um hotel.

N?o sei quem foi mais sem noç?o: o hotel ou a Samira….
Riq, respira fundo, ooouuuummmmmm

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