Porto

Bóia, sua resposta acima me faz refletir sobre uma infeliz verdade universal criada por blogs de viagem (pelo menos a maioria) que viagem boa, legal, proveitosa e que vale a pena é a viagem lenta, visitando cada igreja (por mais que após a terceira, com raríssimas exceções, todas sejam praticamente iguais), lendo a descrição de cada obra em não sei quantos museus, e por aí vai. Tem gente que diz que o mínimo de tempo para visitar o Louvre é um dia inteiro, que o ideal são dois dias. Por favor né, boa parte da tarde já ta bom, e haja paciência.
Com base nessa falsa verdade (normalmente aplicada às viagens à Europa), as pessoas que curtem viagens mais aceleradas, que curtem fincar bandeiras em várias cidades (isso é quase um crime), que não tem necessidade de descansar longamente (costumo dizer que eu não admito descansar durante o dia em euro ou em libra) e que não tem muito interesse em museus e atrações repetitivas, são absolutamente desprezadas, criminalizadas, neste tão interessante mundo virtual de viagens. Suas dúvidas muitas vezes são ignoradas (não foi o caso na dúvida acima, apesar da critica ao estilo da viagem). Qual o problema de querer conhecer boa parte de Portugal continental, Compostela e a Ilha da Madeira em 20 dias? 20 dias é uma eternidade! Portugal é um excelente país para ser visitado de carro. Creio que com exceção do Porto e de Lisboa (4 dias pra cada é muito, ok), todo o resto dá pra conhecer em menos de um dia inteiro, em muitos dias, se planejando bem, dá para conhecer com certa tranqüilidade mais de uma cidade.
Eu sou uma dessas pessoas, e por vezes tive dificuldades para encontrar ajuda com minhas dúvidas. Só para situar quem chegou até aqui neste texto e dar base ao que digo, nos últimos 5 anos eu já fui uma dezena de vezes à Europa (todas turistando), já fiz viagens lentas, viagens aceleradas e outras muito aceleradas. Posso garantir, as que eu menos curti foram as lentas, disparado. A sensação de não estar aproveitando ao máximo é angustiante. Eu até curto ver a cidade passar, contanto que sentado em um bar e com uma cerveja na mão, mas prefiro passar pela cidade, ver a arquitetura e experimentar a culinária local. Gosto muito de ver as cidades enquanto dirijo. Museu pra mim funciona assim: vejo quais são as obras mais conhecidas, traço um roteiro racional entre elas e no caminho vou vendo todas as outras, somente parando se algo realmente me interessar. Igreja, só pago se for famosa, de graça só uma passadinha para ver que ela é igual às outras 450 que já visitei (claro que de vez em quando me surpreendo). Viver como um local, eu dispenso, local eu sou onde eu moro, e vivo assim o ano todo, no resto do mundo eu quero é viver como turista.
Recentemente uma criatura de um blog sobre a Espanha (parece ser uma pessoa que cuida de vários blogs) praticamente se recusou a responder minha dúvida, me dizendo, entre outras coisas que eu não tinha perguntado, que eles tentam transmitir uma visão das viagens onde as pessoas priorizem a qualidade sobre a quantidade. Eu não estava interessado em saber como ele acha ser a melhor forma de viajar. Eu sei como é a melhor forma de viajar, pelo menos para mim.
Eu vou para a Europa para conhecer novos lugares, normalmente meu tempo é curto e minha curiosidade gigante, além disso, não estou muito interessado em relaxar ou descansar, quando quero isso vou para o Caribe.
Ao refletir sobre este assunto lembrei o relato do Ricardo Freire no post de 10 anos do Blog, quando conta os motivos da existência da Bóia, mencionando um conselho do Nick.
Isso tudo é para dizer que cada pessoa tem um estilo, e não é pq ela tem um ritmo mais acelerado de viajem, provavelmente até de vida, e por ir contra o que os blogueiros entendem como ideal, que elas não devem ser ajudadas com carinho e especialmente sem maiores criticas, veladas ou explicitas.