Lares Adventure, dia 4: Ollantaytambo ‘vip’ e luxo no trem a Aguas Calientes
No quarto dia do circuito Lares Adventure, deixaríamos o Vale Sagrado para começar a última parte da travessia a Machu Picchu.
Teríamos ainda uma manhã em Ollantaytambo (diga: Oian-tai-tambo) antes de pegar o trem. Duas horas seriam devotadas a explorar o parque arqueológico. Antes disso, porém, podíamos escolher entre dois passeios: encarar uma trilha de 45 minutos até o alto da montanha, para contemplar o santuário do ponto mais fotogênico, ou simplesmente fazer o tour guiado pelo centrinho do pueblo.
Novamente o grupo se dividiu meio a meio. Eu, como (quase) sempre, fiquei com a atividade sedent…, digo, cultural.
Diário de Lares
Dia 4
Quem tivesse escolhido subir a montanha saía às 7h30. Nós, os sedent…, digo, os culturais, tinhamos mais 15 minutos para escolher o look of the day com as roupas que ainda estavam limpas 🙂
Oi, Ollanta
Eu sabia que Cusco era incrível, mas nunca imaginei que fosse gostar tanto de Ollantaytambo (altitude: 2.830 m). Compacta e fotogênica, a cidadezinha não apenas está ao pé de um dos mais importantes sítios religiosos incas, como continua dando uso à zona residencial do antigo tambo.
O coração da vila preserva o traçado original de ruelas estreitas, cortadas por quatro vias principais que são servidas por dutos de água canalizada do alto da montanha. Para dar uma espiada no que existe por trás dos muros, Andrés, o guia, nos levou até um ponto no miolinho do bairro onde um clã deixa a porta aberta dos seus domínios (como isca para vender artesanato).
Lá dentro, as casas dispostas ao redor do pátio mostram como os andinos organizavam suas moradias no tempo dos incas. Pode-se xeretar também dentro das casas, onde todos os ambientes ocupam o mesmo vão, sem divisórias. Batata, milho, carne e peixe seco são armazenados no que seria o sótão; cuys são criados dentro de casa, como gatinhos (só que um dia vão parar no forno). Imagens e crucifixos católicos dividem as prateleiras com amuletos andinos. Segundo o Andrés, a casa reflete como mora o povo local. Menos a parte da lojinha, claro.
Passear por Ollantaytambo de manhã cedinho também oferece uma grande oportunidade fotográfica: é quando o sol ilumina a montanha onde está o sítio arqueológico. De manhã cedo além de iluminado o lugar estará praticamente vazio: as fotos que você tirar da montanha vão ficar mais bacanas do que as que você tirar na montanha.
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“Como não tem gente nas suas fotos? As minhas só tem turistas! Você deve ser muito vip!”, comentou uma seguidora no meu instagram. Não, não é preciso ser vip nem contrarar tour caro para curtir Ollantaytambo na companhia de poucos colegas turistas. Basta dormir na cidade e acordar cedo. Os ônibus de Cusco só chegarão mais tarde – a maioria só vai chegar depois do almoço, vinda da outra escala do dia em Pisaq.
A subida até o topo do sítio, onde está o Templo do Sol, é um ensaio para Machu Picchu. Como todo santuário inca, sua localização foi cuidadosamente estudada para que recebecesse o primeiro raio de sol do solstício de inverno.
A propósito, solstício e equinócio são as duas palavras que você mais vai ouvir de seus guias na região de Cusco. Os incas eram mais obcecados pelo solstício do que a gente pelo Réveillon. Esqueci de perguntar o que acontecia quando o dia do solstício amanhecia nublado e não havia raio de sol para incidir em nenhum lugar tão cuidadosamente calculado. Será que era pior que perder a Copa em casa?
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Quando saímos da zona arqueologica para descer em direção à estação ferroviária, os ônibus de Pisaq ainda não tinham chegado.
Luxo Inca
Outra vantagem de dormir em Ollantaytambo é que a viagem de trem é mais curta: em 1h45 você chega a Aguas Calientes (ou Machu Picchu Pueblo, como o lugar agora prefere ser chamado).
Nossos lugares estavam reservados no vagão primeira classe da Inca Rail, uma cia. que só faz essa rota (a concorrente Peru Rail, além de Ollantaytambo-Aguas Calientes, também sai de Poroy, perto de Cusco, e vai a Aguas Calientes via Urubamba).
O vagão já vem com as mesas postas para o almoço – e o serviço, de aperitivo (ótimo pisco sour), entrada (saladita), prato principal (truta) e sobremesa (fruta), tem a duração exata da viagem. O trajeto acompanha o rio Urubamba e é muito bonito. Praticamente não há construções à vista, e a paisagem vai ficando mais e mais verde à medida que o trem se aproxima de Aguas.
Num piscar de olhos, deixamos a aridez do Vale Sagrado para chegar à umidade da zona de transição para a selva. (Por favor, nesse momento da viagem abstenha-se de piadas com Peru seco e Peru úmido. Obrigado.)
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Bienvenido a Machu Picchu… Pueblo
Aguas Calientes (altitude: 1.900 m) é um povoadinho que cresceu atendendo os andarilhos da trilha inca. É feia, caótica e muito animada. Tipo assim um hostel em formato de cidade.
Normalmente a Lares Adventure usa o hotel Inkaterra, um lodge eco-boutique que fica colado à estaçao de trem e espalha seus bangalôs na mata. Mas estava lotado, e por isso dormimos no Sumaq, que é mais novo e emula um luxo mais clássico. (A Mariana já tinha se hospedado aqui quando veio ano passado.)
A cidadezinha lá fora pedia para ser explorada, mas o passeio foi adiado até mais tarde por um motivo irresistivel: às três da tarde o hotel oferece uma aula de pisco e ceviche. Uêpa!
A aula de pisco não ajudou muito – os ingredientes já estavam todos prontos, não deu nem pra ver se tem algum segredo na preparação da clara de ovo. De todo modo, ficamos sabendo que para misturar tudo bem é preciso um barman que consiga chacoalhar a coqueteleira com a intensidade da mais poderosa das batedeiras Walita.
Já a aula de ceviche foi instrutivíssima. Fiquei impressionado com a quantidade de limão que vai na leche de tigre. Para dez cevichinhos a cevicheira espremeu uns trinta limõezitos. Aprendi detalhes bacanas como esfregar a pimenta aberta na leche de tigre para dar o sabor picante. Ainda não fui a Lima, mas pelos ceviches que experimentei na região de Cusco, continuo sustentando que o do Wanchako de Maceió é melhor que o do La Mar ou do Suri em São Paulo.
Mala de bordo nas medidas certas
Depois da aula, a voltinha por Aguas Calientes/Machu Picchu Pueblo acabou se resumindo a duas horas num bar do centrinho vendo Peru x Brasil pela Copa América. Os peruanos levaram a pior, mas a gente viu que não ia mesmo muito longe no campeonato.
Um jantar-degustação no Sumaq (comi filé de alpaca – aliás: gostei de filé de alpaca!) e a necessidade de acordar às 5 da manhã no dia seguinte me impediram de dar um rolê pela noite de Aguas Calientes. Mas no fundo, você sabe: Morro de São Paulo é tudo igual, só muda o endereço.
Ô Machu Picchu, cadê você? Eu vim aqui só pra…
Ricardo Freire viajou a convite da Mountain Lodges of Peru.
Leia mais:
- Lares Adventure, dia 1: pachamanca e caminhada a Pisaq Alto
- Lares Adventure, dia 2: ruínas pré-incas e visita à señora María
- Lares Adventure, dia 3: vida rural e bike pelo Vale Sagrado
- Lares Adventure, dia 5: Machu Picchu (e um balanço final)
- Machu Picchu: vale a pena subir a montanha Huayna Picchu?
- Cusco: uma voltinha roots pelo Mercado Central de San Pedro
- Dicas de Cusco no Viaje na Viagem
- Dicas de Machu Picchu no Viaje na Viagem
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Comentários
Ola Ricardo. Na parte da manhã, quanto tempo necessario para as ruínas? A manhã toda ou 2 ou 3 horas é suficiente? Qual a percepção?
Olá, Christiano! Quem responde é A Bóia. O núcleo principal do parque de Ollantaytambo pode ser visitado em 1h30 sem atropelos.
Ótimos os relatos. Onde vcs ficaram em Ollantaytambo?
Olá, Antonio! O Ricardo Freire já voltou a Ollantaytambo depois disso e recomenda o hotel em que ficou nesta segunda vez: o El Albergue.
Concordo: também dormimos na cidade e pegamos o sítio arqueológico bem vazio, foi excelente. Aproveitar a cidade à noite também é mágico – não tem muito o que fazer, mas só de andar por ali já foi muito bacana!
O nosso relato está aqui!
https://cuorecurioso.wordpress.com/2011/06/20/a-cidade-inca/
Ao invés de voltarmos com a excursão pelo Vale Sagrado, ficamos em Ollanta e pegamos o trem pra MP. Como tivemos um tempinho extra, consegui caminhar nas ruazinhas e notar os incríveis canais de água ainda funcionando.
É realmente o máximo esse lugar.
Um lugar mágico. Eu realmente quero conhecer Peru. Eu tenho uma prima casada com um peruano. Vivem em Lima há 30 anos. Eu sempre quis ir. Meu marido foi trabalhar na Lima e se hospedaram no Miraflores. Ele lembre-se sempre o que comio muito bem lá. Diz a mistura de culturas no Peru é muito rica e que é visto claramente no desenvolvimento de seus alimentos. Machu Picchu está dentro do meu sonho viajeiro….
Mto legal!! E dá a impressão de ñ ser nada turístico, exceto Aguas Calientes. Taí, gostei desse roteiro! Vai entrar prá minha wish-list!
Que fotos! Uau! Ansiosa por chegar a Machu Picchu!
‘Será que era pior que perder a Copa em casa?’ E por inesquecíveis 7 X 1 só se fosse uma semana sem raio de sol nenhum e ainda chovendo…
Olha, é tudo lindo e tals…mas o texto me encantou mais !!! 😉
Tá bom demais te acompanhar nesses relatos! 🙂