Chile depois do terremoto: dá para ir agora ou é melhor esperar?

Santiago

Dia 27 de fevereiro, sábado, 7h30 da manhã. Você provavelmente nem tinha acordado, mas eu já estava grudado à tela da televisão, assistindo às imagens do terremoto que, durante a madrugada, tinha devastado o centro do Chile. Havia o perigo de réplicas e um alerta de tsunami. E havia também uma passagem emitida no meu nome para um cruzeiro que sairia naquela noite de Ushuaia, na Terra do Fogo argentina – onde eu estava – até Punta Arenas, na Terra do Fogo chilena. No meu lugar, você embarcaria ou desistiria?

Tranqüilizado pela informação de que a Patagônia não tinha sentido o terremoto, embarquei – e mantive o plano original de fazer um ziguezague entre Argentina e Chile durante 40 dias. Desta maneira tive a oportunidade de testemunhar in loco que o Chile estava pronto para continuar recebendo quem quisesse ver suas belezas. Veja um breve relatório do que vi em cada região do país.

Originalmente publicado na minha página Turista Profissional, que sai toda 3a. no suplemento Viagem & Aventura do Estadão.

SANTIAGO

O aeroporto operou de maneira precária por três semanas (a ala doméstica funcionando sob tendas), mas agora todos os embarques e desembarques voltaram a ser feitos pelo prédio principal. Fiz três voos domésticos, todos pontuais. Na cidade, tudo normal: metrô funcionando, museus abertos, bairros boêmios (Bellavista, Lastarria, avenida Nueva Costanera) com restaurantes e bares lotados. A moderna Santiago foi construída para suportar sismos, e resistiu bravamente ao megaterremoto de fevereiro. Leia mais aqui.

ESQUI

Nem as estações, nem as vias de acesso sofreram danos estruturais importantes – mesmo nos arredores de Santiago. Quem aproveitar o melindre do brasileiro em ir para o Chile neste inverno deve encontrar bons preços e pistas desobstruídas.

VIÑA DEL MAR E VALPARAÍSO

O passeio a Viña del Mar, que normalmente já é menos interessante no inverno – afinal, trata-se de um balneário – perdeu mais um atrativo: os palácios que formam o patrimônio histórico da cidade (Vergara, Carrasco, Rioja, além do Teatro Municipal) permanecerão fechados ao público por tempo indeterminado, até passarem por reformas. Em compensação, a vizinha Valparaíso continua animadíssima (programe um fim de semana hospedado num dos hotéis dos cerros Alegre ou Concepción, que são o epicentro da muvuca). Leia mais aqui.

ENOTURISMO

De todos os assuntos de interesse do visitante no Chile, este é o que foi mais prejudicado – afinal, muitas das vinícolas têm sedes, ou bodegas, muito antigas, construídas antes do advento da tecnologia antissísmica. Pouco a pouco, porém, as vinícolas vão voltando ao normal; a maioria estará reaberta ainda em abril (inclusive no vale do Colchagua, que foi o que sofreu mais). Antes de programar sua viagem, entre nos sites das vinícolas que você quer visitar: se não houver informação sobre as atividades pós-terremoto, mande um email, que será respondido. Leia mais aqui.

ATACAMA

Não se impressione com as notícias de tremores no norte do Chile: foram eventos menores que não se fizeram perceber na região turística. É uma excelente época para viajar para lá – é no inverno que os guêiseres de Tati o ficam mais imponentes. Leia mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

LAGOS ANDINOS

O terremoto chegou a ser sentido em Puerto Montt e Puerto Varas, assustando moradores e turistas – mas não houve nenhuma sequela. Tudo está funcionando normalmente – com exceção dos estabelecimentos que costumam fechar na baixa temporada. Leia mais aqui e aqui.

PATAGÔNIA E TERRA DO FOGO

A chamada Patagônia austral (Punta Arenas, Puerto Natales, Torres del Paine) ficou totalmente de fora do foco dos tremores. A nova temporada começa em setembro; fique de olho nas promoções. Leia mais aqui e aqui.

TRAVESSIA A MENDOZA

O trecho chileno da travessia dos Andes entre Santiago e Mendoza já estava em reformas antes do terremoto. Há alguns pontos de retenção, mas nada que chegue a transtornar a viagem, que é espetacular. (Atenção: no inverno a estrada pode fechar durante várias horas por conta de excesso de neve.) A região de Mendoza, do lado argentino dos Andes, não sentiu o terremoto – nos próximos meses, é a região mais indicada para quem quer fazer enoturismo. Leia mais aqui e aqui.

RÉPLICAS

Todo grande terremoto vem acompanhado por tremores secundários, conhecidos como réplicas. Algumas réplicas  viram notícias distribuídas por agências internacionais, que acabam dando a impressão de que o Chile continua tremendo. Na verdade, nenhum tremor abaixo dos 6 pontos na escala Richter faz cócegas  no Chile moderno; são acontecimentos corriqueiros que passam despercebidos. É altamente improvável que um outro megaterremoto ocorra nos próximos anos no país.

PROMOÇÕES

A LAN andou vendendo passagens ida e volta a 14 destinos chilenos por US$ 299 (mais taxas). Fique atento aos movimentos do mercado — pode ser que haja promoções antes das férias de julho, caso as reservas nas estações de esqui estejam devagar.

Veja também:

Expedição Zig-Zag Chile-Argentina: todas as aventuras

51 comentários

Aliás, ainda estou em dúvida entre santiago e buenos aires. Vou com um grupo de amigas, e pretendo ir p/ passear, p/ festas, restaurantes, compras.. Qual das duas cidades se encaixaria melhor nesse perfil?
Obrigada!

    Na minha opinião, Mariana, as duas cidades se encaixam no perfil (embora eu ache Santiago mais tranquila), mas considere que a desvalorização do peso argentino dá pontos extras a Buenos Aires.

Olá Ricardo! Adorei essas dicas, to querendo ir no final de julho, apesar de estar com medo de terremotos rsrs..
Bom, provavelmente ficarei 1 semana, gostaria de saber se vale a pena ir à alguma estação de esqui e qual seria, a valparaíso, à vinícola concha y toro, enfim, o que me recomendaria para essa época?
Obrigada!!

OI Ricardo
Vale a pena ir à menonza no final de julho? Nesta época dá para ir de ônibus?
Agradeço desde já.
Rita

    De Buenos Aires dá o ano inteiro. São 14 horas de viagem. A estrada para Santiago pode ficar interditada por horas ou dias por conta de nevascas.

    Nossa, que bom que achei esse comentário!! pensei em ir de ônibus de Santiago a Mendoza em agosto, mas pelo jeito vou ter que ir voando.

    Aproveito para perguntar (e sei que as respostas serão pessoais) quantos dias seriam recomendados para passar em Mendoza.

    Quatro dias estão de bom tamanho — dois para fazer passeios, dois para fazer vinícolas.

Ricardo
Pretendo tirar férias em setembro (elas seriam em abril, maio, junho, agosto até que finalmente pararam em setembro) inicialmente havíamos planejado visitar o Chile saindo de Santiago em direção ao Sul, passando para o lado argentino da cordilheira e retornando por Mendoza para deixarmos o carro em Santiago e pegarmos o avião de volta. Devido ao terremoto abndonamos a idéia, mas como as férias foram adiadas, voltei a considerar o Chile como destino, no entanto, minha esposa está relutante para fazer esta viagem, teme pelas condições de infra-estrutura. Você pode me dar uma luz?
Em tempo, o que achou do meu esboço de roteiro, tentatarei fazê-lo em 15 dias e me acompanham além da minha esposa, meus sogros (com mais de 70 anos), minha filha de 3 anos e minha cunhada especial. Por isso também o estresse com a infra-estrutura. Pode me dar dicas de passeios?
Obrigado
Alberto

    Fiz o Chile inteiro, não há problema nenhum de infra-estrutura.

    Você pode ver o resumo aqui:
    https://www.viajenaviagem.com/2010/04/expedicao-zig-zag-chile-argentina-todas-as-aventuras/

    Mas não dá pra fazer essa sua viagem em 15 dias de carro não.

    Divida em duas zonas. Chegue por Bariloche, alugue carro, rode a área, devolva, pegue o Cruce de Lagos, alugue outro carro no Chile para rodar a região, devolva. Voe a Santiago. Desça a Mendoza de van (o seu grupo tem passageiros suficientes para fretar uma), alugue outro carro em Mendoza. Volte de avião de Mendoza.

    Obrigado pelas dicas, mas tenho mais algumas dúvidas:
    1. No início de setembro ainda tem neve? As estações de esqui ainda estão funcionando?
    2. Você tem alguma dica de site onde eu possa fazer estas reservas aéreas todas ou é melhor fazer via agente de viagem?
    3. Estava pensando em me hospedar em chalés e apartamentos de temporada, você sabe algum site onde eu possa fazer estas reservas?
    4. Por fim, neste roteiro que você me indicou qual seria o número de dias em cada lugar?

    Desculpe pelo “aluguel” e muitíssimo obrigado
    Alberto

Ricardo, muito prazer em falar (teclar) com vc, sempre que vou viajar, faço um check in no seu blog, com todo o respeito… Quero conhecer o Chile, primeira vez, qual a melhor época do ano em matéria de céu azul, pouca chuva, tenho disponibilidade para junho ou novembro.

    Li em vários lugares que em dezembro e janeiro não chove de jeito nenhum em Santiago (tanto que a água da cidade é captada pelo degelo nas montanhas).
    Estive lá por uma semana entre Natal e Ano Novo de 2006 e a experiência confirmou: chuva zero, nada de nuvens no céu, dias longos de sol intenso (e calor, muuuito calor). Só vi ficar um pouco nublado ao sair de Santiago, a caminho do litoral (e foi um choque pular de 34 graus para 14).

Riq eu e meu marido queremos conhecer Santiago no final de Junho, mas confesso que estou receiosa. Pelo q li a cima não há riscos de novos terremotos. Entendi bem? Podemos seguir tranquilos?:)

    Nunca houve grandes terremotos em seguida. Pelo caderninho, um novo terremoto daquela magnitude só acontecerá em muitos anos.

    Pequenos tremores acontecem o tempo todo — já aconteciam antes, continuarão acontecendo agora.

Riq demais os posts sobre o Chile. Eu já viajei 15 vezes para o país e me sinto especializada no tema 🙂 Concordo com tudo dito por ti, é isso que tenho falado quando me perguntam sobre ir ou não para lá. Eu estava em Santiago no dia do terremoto e sei do susto que foi, tremeu pacas e as réplicas são chatinhas, mas eu acho que adiar uma viagem é desnecessário, a vida segue normal! Bora pro Chile, pessoal! beijos

Sumi com o D em profundidade duas vezes 🙂 Mas não poderia concordar mais com o Ricardo, hoje a mídia está cada vez mais presente e alarmista dando a falsa impressão de que desastres estão mais frequentes e intensos, nada mais falso, aqui no Rio existem registros de chuvas mais intensas esporádicas com soterramentos “desde sempre”, o que aumentou foi população em áreas de risco. Só de 1940 para cá econtrei por aí várias fotos mostrando a Praça da Bandeira tão ou mais cheia que nesta última chuva que foi descrita por alguns como “a pior”. E no caso dos tremores quem nunca ouviu falar do terremoto de Lisboa? Ou dos históricos tremores arrasadores na China? Antigamente ou não ficávamos sabendo ou descobríamos muito depois certas tragédias pelo mundo, hoje é tudo bombardeado na hora.

É importante saber que a tal escala Richter indica a intensidade no ponto exato do epicentro, caso Santiago tivesse sido o epicentro de um tremor da mesma intensidade e a pouca profundidade, com toda sua estrutura, ainda assim teria virado uma “zona de guerra” ou algo parecido. O temor do Haiti por exemplo, além de ter ocorrido num local com infra péssima, ocorreu em pequena profundidade, um tremor mais intenso em grande profundidade pode ser menos danoso que um menos intenso perto da superfície.

Estava em Mendoza na madrugada que ocorreu o terremoto, acordamos com a cama sacudindo na horizontal, como lá é uma região propícia, ficamos assustados, mas voltamos a dormir. Pela manhã conversando com pessoas no hotel ficamos sabendo que várias pessoas foram para a rua, que é o que devemos fazer nessas situações. A cidade não teve nenhum dano.
Mas para quem nunca tinha passado por isso foi uma experiência e tanto, nossa viagem atrasou um dia, pois iamos fazer conexão em Santiago, aí tivemos que voltar por Buenos Aires, mas ocorreu tudo bem!

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