Existem coisas que começo recomendando porque me parecem interessantes. Algumas dessas coisas são testadas por intrépidos trips, que depois contam até onde a minha intuição estava certa, ou não. O engraçado é que, quando a minha recomendação acaba testada e aprovada, eu não considero o dever cumprido; aí sim é que me bate uma vontade irremovível de experimentar a coisa na primeira pessoa.
Aconteceu com o Rojo Tango, o espetáculo de tango para turista do über-starckizito hotel Faena, em Buenos Aires. Eu comecei a indicar o show por conta (1) da beleza do site; (2) da minha pavorosa experiência no ultrabrega Viejo Almacén (onde os dançarinos fazem ora ginástica, ora acrobacia, e há um bloco interminável dedicado à música... andina), que me botou uma pulga argentina atrás da orelha com relação a shows de tango tradicionais; e (3) do fato de nem todo mundo curtir a minha outra indicação, o show intimista do pequenino Bar Sur, que eu adoro mas que (sempre aviso!) não oferece aquela produção de encher os olhos.
A recomendação ficou mais quente quando o entusiasmado do Breno B. foi conferir e gostou tanto que acabou dormindo aquela noite no hotel. (Um ano depois ele voltou e repetiu a dose, feliz da vida.)
Pois bem: fui. Vi. Adorei adorei adorei.
É pra turista, claro. Mas tem um bom-gosto que duvido que se ache em outro show de tango. O espetáculo é classudo do início ao fim. É de graaaande beleza e exuda sensualidade o tempo todo, sem nunca partir para a apelação. Os bailarinos dançam -- não fazem acrobacia nem ginástica olímpica. A acústica é perfeita, e a banda -- superjovem -- brilha, especialmente na execução de "Adios Nonino", o clássico de Piazzola, quando os holofotes se voltam para os músicos (e ninguém sente falta dos bailarinos).
Se é para pôr defeito, aí vai: o palco é baixo, e da platéia a gente não vê as pernas dos dançarinos -- e com isso acaba perdendo um pouco do tango. Se você jantar, peça para ficar na primeira fila -- ou, se já o gargarejo já estiver ocupado, nas mesas mais altas ao fundo da sala. Quem vai só para ver o show não tem essa possibilidade de escolha.
Ao fim do show, estávamos em êxtase. Valeu cada centavo de dólar investido.
Ao fim do show, estávamos em êxtase. Não, não é barato. (Nenhum show de tango pra turista é.) Mas valeu cada centavo de dólar investido.
Mesmo sem jantar, um casal vai pagar para ver o show o mesmo que pagaria para dormir num apartamento standard do Faena. Mas quer saber? O show entrega a experiência Faena mais redondinha, e sem nenhum risco de decepção (já quem se hospeda nem sempre curte as starkizitices do apartamento).
Para uma, ahn, degustação mais completa do hotel, sugiro que você marque o jantar no El Mercado, o restaurante prêt-à-porter do Faena, que é lindo, tem comida razoável e não é caro. O show é às 22h; você pode marcar o seu jantar para as 20h ou a meia-noite.
(Caso façam com você o que tentaram fazer comigo -- empurrar para o Bistró, o restaurante gastronômico do hotel --, recuse. O Bistró é starckizitíssimo e a comida não vale a conta.)
Rojo Tango
- Preços e horários em 2017 | Todos os dias às 22h (jantar às 20h30). US$ 220 sem jantar incluso; US$ 290 com jantar. As duas opções incluem trânsfer e bebidas (champagne, vinho e bebidas sem álcool).
- Assistido em 2009
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